O recurso a contas móveis é caracterizado por um robusto crescimento na África Subsariana, superando as tradicionais. Esta é uma constatação do Fundo Monetário Internacional (FMI), expressa no seu mais recente relatório sobre estudos económicos e financeiros.
Até 2017, de acordo com as estatísticas do relatório em causa, que aborda especificamente a situação da África Subsariana, uma média de 500 em cada 1000 adultos possuíam conta de depósitos tradicionais. Para o mesmo número de adultos, uma média de quase 1000 eram detentores de contas móveis.
No caso de Moçambique, as estatísticas apresentam números mais baixos. Dados contidos no relatório, a que se faz alusão, indicam que, até há dois anos, só 400, em cada 1000 adultos, é que tinham conta móvel. Segundo o FMI, o facto de a África Oriental apresentar a maior taxa de utilização do dinheiro móvel na África Subsariana permite retirar ensinamentos úteis, tendo em conta que foi fruto do desenvolvimento de uma infra-estrutura que, singularmente, aproveitou a procura latente por serviços financeiros móveis naquela região. Esta é, na opinião do FMI, a razão da maior utilização de dinheiro móvel na África Subsariana.
“Os países da África Oriental favoreceram um modelo regulamentar liderado pelos operadores de telecomunicações”, diz o relatório. E prossegue: “neste quadro, o operador de telecomunicações trabalha com o regulador financeiro visando a criação da infra-estrutura para os pagamentos móveis. O modelo liderado pelos operadores de telecomunicações teve mais sucesso na captação de utilizadores do que o modelo liderado pelos bancos, promovido por outros países da África Subsariana”.
Para uma maior utilização de dinheiro móvel, o FMI notou que os países da África Oriental tendem a ter um operador de telecomunicações dominante, com grande quota de mercado. Isso facultou, numa fase inicial, a massa crítica de utilizadores necessária para que o dinheiro móvel não fosse apenas um nicho de mercado. O caso do Quénia é citado pelo FMI como exemplo, pois, naquele país da África Oriental a “Safaricom” tem uma quota de mercado próxima dos 70%. Na Tanzânia, igualmente país da África Oriental, a “Vodacom” tem quase metade do mercado.
Na opinião do FMI, a existência de uma grande quota de mercado permitiu que a maioria dos que utilizam pagamentos móveis recorresse a uma única plataforma sem se deparar com problemas de compatibilidade, ainda que isso suscitasse algumas preocupações em termos de concentração e potencial estabilidade.
Como constatou o FMI, a interoperabilidade do dinheiro móvel possibilita cada vez mais transacções entre utilizadores de diferentes prestadores de serviços. (Evaristo Chilingue)
A insurgência, iniciada em Outubro de 2017, na província de Cabo Delgado, tem contribuído na deterioração progressiva do quadro económico de Moçambique, tornando a economia do país vulnerável a vários riscos, refere uma análise do Fundo Monetário Internacional (FMI), publicada recentemente.
Com base numa amostra de 45 países da África Subsariana, incluindo Moçambique, o FMI afirma, na análise em causa, que o impacto de um conflito é grande e persistente. “Em média, o crescimento anual de países em conflito é cerca de 3 pontos percentuais inferior e o impacto acumulado sobre o Produto Interno Bruto (PIB) ‘per capita’ aumenta com o tempo. Este efeito pode ser atribuído, sobretudo, a conflitos intensos, ou seja, aqueles que causam pelo menos cinco mortes em um milhão de pessoas”, afirma o FMI.
Na sua análise, o FMI explica que um menor investimento, comércio e produtividade, assim como a destruição do capital humano e físico (através do deslocamento forçado e dos efeitos devastadores para a educação e os cuidados de saúde) são alguns dos principais canais através dos quais os conflitos impedem o crescimento económico. Ainda segundo aquela instituição financeira, “em conjunto, estes factores conduzem a uma diminuição persistente da capacidade produtiva de uma economia e a análise sugere que os conflitos envolvem uma diminuição do PIB real ‘per capita’ de 15% a 20% ao longo de cinco anos, comparativamente a um cenário sem conflito”.
O FMI acrescenta que, paralelamente ao crescimento, os conflitos também provocam uma significativa deterioração das finanças públicas. Na óptica daquela entidade financeira de Bretton Woods, isso concorre para a redução das receitas fiscais reais que, em média, ultrapassam os 10%, nos casos de conflito intenso (comparativamente a situações em que não existe conflito).
“Ainda que em média as conclusões não sugiram um efeito estatisticamente importante dos conflitos no total da despesa pública, a composição desta afasta-se da de investimento e orienta-se para a militar. Por conseguinte, o saldo orçamental deteriora-se, verificando-se um aumento acentuado da despesa pública ao longo do período do conflito”, acrescenta o FMI.
Para evitar retrocesso no crescimento económico por causa do conflito, o FMI recomenda que as autoridades governamentais do país centrem os seus esforços na limitação da perda do capital humano e físico, protegendo a despesa social, de desenvolvimento, e tentar manter funcionais as instituições para atenuar os efeitos económicos nocivos de longo prazo dos conflitos. “Ainda que seja, talvez, uma tarefa hercúlea tendo em conta as pressões orçamentais, uma ajuda humanitária bem orientada e coordenada, assim como a assistência financeira, podem assegurar um certo alívio e ajudar na criação do espaço para dar resposta aos devastadores efeitos dos conflitos”, considera o FMI.
A análise do FMI faz referência à assistência, afirmando que também pode ser essencial para os países sujeitos a repercussões dos conflitos, como forma de proteger as populações deslocadas, aliviar as pressões económicas e sociais, muitas vezes geradas nos países de acolhimento.
Referir que a insurgência, que se verifica na província de Cabo Delgado, já provocou mais de 200 mortes, entre civis, militares e atacantes; milhares de deslocados; e a paralisação dos projectos ligados a exploração de gás natural na bacia do Rovuma, como são os casos da interrupção das obras de construção da vila de reassentamento e do aeródromo de Afungi, no distrito de Palma. (Evaristo Chilingue)
O Ministério Público moçambicano constituiu 339 arguidos em 19 processos relacionados com os ataques de grupos armados em Cabo Delgado, norte de Moçambique. Dos 339 arguidos nos 19 processos, 275 estão em prisão preventiva e 64 respondem em liberdade provisória, mediante termo de identidade e residência, lê-se num informe anual da procuradora-geral, Beatriz Buchili, documento que será apresentado nos próximos dias no parlamento moçambicano e que já está na posse dos deputados. Em 12 dos 19 processos já foi deduzida a acusação e remetidos ao Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado, estando sete em fase de instrução preparatória.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, Moçambique está a envidar esforços para reforçar a cooperação com a Tanzânia, país vizinho, como forma de combater os grupos armados que desde 2017 têm protagonizado ataques em Cabo Delgado."Tratando-se de actos que atentam contra a vida e outros direitos fundamentais, como a segurança do Estado, envolvendo cidadãos estrangeiros, urge adotar mecanismos eficazes para prevenção e repressão", refere o documento.
O documento não faz referência ao Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado ter agendado para o dia 24 de abril a leitura da sentença dos 189 acusados de envolvimento na violência armada que afeta a província desde Outubro de 2017. Também não constam referências aos 189 acusados de envolvimento nos ataques armados que esperam pela sentença do Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado no dia 24 de abril. Desde outubro de 2017, os ataques de grupos armados não identificados em Cabo Delgado, que tiveram origem em mesquitas, já provocaram mais de 150 mortos.(Lusa)
A Procuradoria-Geral da República ao nível de Cabo Delgado já deduziu a acusação contra os jornalistas Amade Abubacar e Germano Adriano, ambos detidos a reportar atrocidades naquela província. Tal acusação foi submetida ao Tribunal de Macomia. O Misa-Moçambique, instituto que monitora a imprensa, diz que ainda não teve acesso ao seu teor, mas o seu presidente, Fernando Gonçalves, diz que a sua instituição está preparada para continuar a defender o jornalista. "Se o Ministério Público decidiu avançar com o processo entendendo que há elementos de prova que indiciaram Amade Abubacar no cometimento do crime de que é acusado, nós estamos preparados para providenciar a melhor defesa que nos será possível dar", disse Gonçalves. Gonçalves recordou que este processo está repleto de vários atropelos. "Amade Abubacar foi detido, no dia 5 de Janeiro e pela Lei Moçambicana 48 horas depois de já teria sido apresentado a um juiz de instrução o que então veio a acontecer”. Por outro lado, Gonçalves repudia o facto de Abubacar ter sido “encaminhado para um quartel militar em Mueda”. Várias organizações nacionais e estrangeiras têm solicitado a intervenção das autoridades para a libertação dos dos jornalistas.(VOA)
Os estragos causados em Moçambique pela passagem do ciclone Idai deverão ter como resultado que a economia do país registe uma contracção de 2,0% este ano, segundo as mais recentes previsões da Economist Intelligence Unit (EIU). Em 2020, a economia de Moçambique já estará a crescer, com uma previsão de 3,0%, antecipando a EIU uma taxa de crescimento média de 5,4% no período compreendido entre 2020 e 2022, com um máximo de 7,5% no último ano do intervalo analisado. O documento agora divulgado volta a referir que a indústria do gás deverá vir a ser um dos grandes motores do desenvolvimento do país e recorda estarem previstas para este ano as decisões finais de investimentos dos projectos dos blocos Área 1 e Área 4, liderados pelos grupos Anadarko Petroleum e ExxonMobil/ENI. Refere, no entanto, que atendendo ao facto de haver actualmente um excesso de oferta no mercado mundial do gás natural, não são de prever grandes investimentos nos projectos em terra este ano.
A taxa de crescimento económico prevista para 2023, de 7,5%, resulta precisamente do antecipado início esse ano da exploração dos depósitos de gás existentes no campo Coral Sul, no bloco Área 4. O ciclone Idai vai ter ainda como consequência o aumento dos preços, devido à destruição de explorações agrícolas, devendo a taxa de inflação aumentar para 8,1% este ano e para 8,4% em 2020, antes de cair para taxas entre 4,6% e 5,7% nos três últimos anos do intervalo em análise. A formação bruta de capital fixo, ou investimento, crescerá este ano à taxa de 8,2%, depois de se ter contraído 12,5% em 2018, para a partir de 2020 começar a crescer a dois dígitos, com 55,0%, a que se seguirão taxas de 45%, 35% e 30% nos anos de 2021 a 2023, segundo as previsões da EIU. A moeda moçambicana, o Metical, deverá continuar a depreciar-se em 2019, igualmente devido ao ciclone Idai, que agrava factores como sejam a inflação, abrandamento das exportações e um défice da balança de transacções correntes, com os analistas da EIU a anteciparem uma quebra nas exportações de 1,7% este ano e 1,2% em 2020 e um aumento das importações, com taxas de crescimento de 7,3% e 11,8% em 2019/2020. (Carta)
Diante da tragédia que assolou a região centro do país, com particular incidência a cidade da Beira, província de Sofala, causando luto e destruição, o United Bank for Africa (UBA) dou, esta segunda-feira (15), produtos alimentares e de higiene, redes mosquiteiras, purificador de água e roupa destinada às vítimas do ciclone Idai. Os produtos foram canalizados ao Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC). O director do Gabinete de Coordenação da Reconstrução do INGC, Higino Rodrigues disse que o gesto demonstrava, uma vez, o espírito solidário de que estão revestidos os cidadãos moçambicanos e não só.
Rodrigues acrescentou que os produtos serão de grande utilidade para as pessoas afectadas pela catástrofe natural, que continuam, apesar da ajuda que tem sido providenciada, a necessitar de apoio multiforme. Por seu turno, o representante dos colaboradores do UBA, Dan Gobe, afirmou que esta é uma acção levada a cabo por todos os colaboradores do banco UBA e tem por objectivo minimizar o sofrimento das famílias efectadas pelo ciclone Idai. “A situação ocorrida na Beira foi bastante trágica, portanto acreditamos que está é a ocasião para que todos lutemos pela normalização e estabilidade da cidade e com estes produtos doados queremos prestar o nosso total apoio as pessoas afectadas”, finalizou. (Carta)
Lúcio Sumbana, um dos filhos do conhecido político e empresário Fernando Sumbana (hoje Membro da Assembleia Municipal de Maputo) foi hoje detido em Maputo, no âmbito do processo 94/GCCC/17-IP, que investiga o caso de corrupção envolvendo a antiga embaixadora de Moçambique em Angola, Helena Taipo (também antiga Ministra do Trabalho). Ontem e hoje, a casa de Lúcio Sumbana foi rondada por agentes do Ministério Público. Ele estava ausente de Maputo. Esta manhã, Lúcio dirigiu-se ao GCCC de livre vontade e acabou detido. Sua detenção deixou a família, que também regressara ontem do estrangeiro, chocada.
Fonte familiar diz que Lúcio Sumbana foi detido na qualidade de gestor da Final Investimentos, conhecida empresa formada pelo pai nos anos 90. O processo que investiga o “caso Taipo” coloca a Final como uma das empresas que terá pago subornos a antiga Ministra do Trabalho (que tutelava o Instituto Nacional de Segurança Social, INSS). As evidências das contrapartidas que a Final terá recebido não são ainda claras.
Fonte familiar disse hoje à “Carta” que a Final nunca teve uma relação de negócios com o INSS e muito menos com o Ministério do Trabalho. O que aconteceu, disse a fonte, foi mais ou menos o seguinte: em 2014, nas vésperas do início da campanha eleitoral da Frelimo em Nampula, onde Taipo era dirigente de brigada central da Frelimo, a antiga ministra bateu a porta da família Sumbana e pediu um financiamento (de 30 milhões de Mts = 1 milhão de USD), alegando que era para injectar na campanha; mas o financiamento dos Sumbana, disse a fonte, não era uma doação; Taipo ter-se-á comprometido em mobilizar recursos para devolver o valor mas nunca fez. Nos últimos anos, acrescentou a mesma fonte, as partes (Helena Taipo e a Final) chegaram a um entendimento. Como Taipo não estava a conseguir devolver o dinheiro, ela teve de assinar uma “nota de dívida”. Esta narrativa ainda não convenceu o Ministério Público. Lúcio Sumbana foi ouvido várias vezes. O pai também teve que dar algumas explicações. (M.M.)
A maioria dos postos de recenseamento eleitoral abriu ontem pelas 8:00 horas, no primeiro dos 45 dias do registo, de acordo com nossos correspondentes em todos os distritos. Contudo, em Muéria (Nacala à Velha), Mogincual e Mogovolas (na província de Nampula), foram-nos reportadas filas de espera de 200 pessoas. O mesmo problema verificou-se nos postos de Chemba (Sofala), Gilé (Zambézia), Changara (Tete), Namapa e Muecate (Nampula), entre outros locais em que as filas eram de mais de 60 pessoas. Enquanto isso, noutros postos, particularmente no sul do país, não havia ninguém esperando para se registrar.
Com base na informação colhida nos locais, um quarto dos postos de recenseamento não abriu às 09:00 horas, ou parou de funcionar. O maior problema é a falta de energia eléctrica, baterias de computador sem carga, ou problemas com painéis solares, facto que afectou, por exemplo, a Escola Secundária de Macombe, em Gondola (Manica) e a Escola Primária do Primeiro Grau do Luabo (Zambézia).
Nos locais de recenseamento assistiram-se também a problemas informáticos ou de impressão, nomeadamente na Escola Secundária 7 de Abril, em Chimoio, a Escola Secundária de Nacala, e a Escola Primária Completa Camanga, em Morrumbala (Zambézia). A causa desse problema está, em parte, na falta de treinamento do pessoal. Por exemplo, na Escola Primária Completa de Namutequeliua, na cidade de Nampula, o recenseamento não foi iniciado porque ninguém sabia a senha do computador. Em vários locais, os nossos correspondentes relatam que os técnicos do STAE, após chegarem aos postos, só se ocuparam a resolver problemas informáticos e, por consequência, alguns eleitores desistiram, regressando para as casas.
Enquanto em alguns locais se registavam problemas de atraso, falta de corrente elétrica, e questões informáticas, noutros o equipamento sequer havia chegado. Este facto registou-se nas províncias de Inhambane e Nampula, concretamente, em Jangamo e Chocas Mar, respectivamente.
Em vários lugares, a inauguração foi adiada porque o diretor da escola não chegou com a chave para abrir a sala de aula que a brigada devia usar. Na cidade de Maputo, o director da Escola Comunitária 4 de Outubro localizado no bairro Polana Caniço A, não chegou às 8h30. As brigadas demonstraram flexibilidade e, em alguns lugares, montaram trabalhos debaixo das árvores. (CIP)
Momade Assif Abdul Satar, mais conhecido por Nini Satar, o tal “jovem das quantias irrisórias”, poderá ser condenado a dois anos de prisão por ter utilizado um documento de viagem falso durante a vigência da liberdade condicional que lhe fora concedida em 2014 pelo juiz Adérito Malhope.
Pelo menos publicamente, nada chegou a ser esclarecido sobre se a liberdade condicional concedida a Nini dava-lhe direito de se ausentar do país, ainda que na altura tenha circulado a informação segundo a qual ele solicitara autorização para deslocar-se ao estrangeiro alegando sofrer de uma doença que só poderia ser tratada fora de Moçambique.
O número 1 do artigo 546 do Código Penal (CP) determina que “a pessoa que tomar o nome suposto, fabricar um passaporte ou outro documento de viagem falso, ou alterar substancialmente o verdadeiro, ou fizer uso de passaporte falsificado por qualquer destes modos, será condenado à prisão de dois meses até dois anos”.
Para além do crime da utilização de passaporte não autêntico, o Ministério Público (MP) acusa Nini Satar de ter usado um nome falso, crime punível com uma pena que varia de quinze dias a seis meses de prisão, e multa de um mês.
O “jovem das quantias irrisórias” irá a julgamento esta terça-feira (16) no Estabelecimento da Penitenciária de Máxima Segurança, vulgo BO. No mesmo processo será julgado, na qualidade de ‘cúmplice’, Sahim Aslam, sobrinho de Nini Star e dono do nome que consta no passaporte que vinha sendo usado pelo tio (Nini). A julgamento vai igualmente Sidália dos Santos, funcionária do Serviço Nacional de Migração (SENAMI), sobre quem recai a acusação de ser responsável pela emissão do documento de viagem.
De acordo com o despacho de pronúncia em poder da “Carta”, pesa sobre Sahim Aslam, de 33 anos, filho de Farida Satar, irmã mais velha de Nini Satar, que fugiu do país depois de ter-lhe sido concedida a liberdade provisória, a acusação de ter utilizado um passaporte falso e nome igualmente falso.
Já Sidália dos Santos, descrita no processo como ‘pivot’ da fraude, é acusada de ter cometido crimes de falsificação de passaporte por servidor público, corrupção passiva para actos ilícitos, na qualidade de autora material, e uso de documento de viagem falso, na qualidade de cúmplice.
Dos três réus, dois encontram-se detidos. Nini Satar está a cumprir outra metade da pena de 24 anos a que fora condenado no caso relativo ao assassinato do jornalista Carlos Cardoso, em virtude de ter sido revogada a liberdade condicional de que beneficiara em 2014. À data, os órgãos da justiça moçambicana alicerçaram a revogação da liberdade condicional de Nini Satar com base no facto de ele ter formado uma organização criminosa que se dedicava ao rapto de cidadãos nacionais, e em seguida exigir, como condição para libertação das vítimas, avultadas quantias em dinheiro. O processo sobre os casos de rapto encontra-se ainda na fase da instrução preparatória, a nível da Procuradoria da Cidade de Maputo
Sidália dos Santos, 37 anos, funcionária do SENAMI desde 2003, está encarcerada nas celas da Penitenciária Preventiva de Maputo (ex-Cadeia Civil). Dos Santos está também a ser investigada noutros processos em conexão com casos que tramitou de forma irregular. Na lista estão incluídos o processo dos 42 cidadãos nigerianos encontrados na República Popular da China com passaportes moçambicanos, e um outro relacionado com a produção paralela e ilegal de documentos de viagem. Sahim Aslam está no gozo da liberdade provisória, para o que pagou 120 mil meticais de caução.
Sidália dos Santos: “cérebro da fraude”
De acordo com o despacho de pronúncia assinado pelo juiz Eusébio Lucas, da 4a Secção Criminal do Tribunal Judicial do Distrito de Kamphumo, é na pessoa de Sidália dos Santos, como responsável do sector de produção dos Passaportes Biométricos, onde reside o mérito para que Nini Satar tenha logrado ter acesso a um passaporte falso. Foi desempenhando aquelas funções, no período 2013-2017, que Sidália emitiu o passaporte com nº13AF01026, de Nini Satar, a 23 de Dezembro de 2014.
Nos autos, o documento de viagem que era usado por Nini foi emitido por um operador identificado no sistema pelo nome de Aldo Costa, mas, na verdade, a responsável pela emissão foi a co-arguida Sidália dos Santos. Ela consumou o acto por volta das 16h15, fora do horário normal de expediente. A escolha dessa hora foi com o propósito de anular a possibilidade de ser vista pelos colegas a praticar tais actos, ‘garantindo’, assim, a sua impunidade.
Já em poder do passaporte, Nini Satar passou a usar um nome falso porque isso permitia-lhe dissimular a sua localização, reduzindo a possibilidade de ser detido pelas autoridades nacionais e internacionais. O despacho de pronúncia assinado pelo juiz Eusébio Lucas, da 4a Secção Criminal do Tribunal Judicial do Distrito de Kamphumo, destaca que a escolha de Sahim Aslam para ‘proprietário’ do passaporte usado por Nini Satar deveu-se às semelhanças físicas com este último.
No dia 23 de Dezembro de 2014 foi efectuado um depósito numa conta de Sidália dos Santos, no montante de 70 mil meticais. Mas, nos autos, Sidália disse desconhecer a proveniência do valor. Apesar disso, e de acordo com o despacho de pronúncia, Sidália nunca chegou a apresentar qualquer inquietação ou denúncia sobre a existência daquele dinheiro na sua conta bancária.
A 10 de Janeiro de 2015, Nini Satar, munido do passaporte falso, saiu do país, tendo a Swazilândia, agora eSwatini, como primeiro destino. Conseguiu lá chegar usando o posto de travessia de Namaacha/Lomahasha, contando com a preciosa ajuda dos funcionários do Serviço Nacional de Migração, entretanto não identificados nos autos.
No dia seguinte, 11 de Janeiro, e de novo usando o mesmo documento de viagem, “o jovem das quantias irrisórias” deixou a Swazilândia com destino à África do Sul, através do posto de travessia de Lavumisa/ Ngoela. Da África Sul seguiu para os Emirados Árabes Unidos, onde permaneceu de 5 a 9 de Fevereiro.
Valendo-se do mesmo documento, Nini Satar esteve sucessivamente em Singapura, Cambodja, Qatar, Arábia Saudita, França e Tailândia. Foi neste último país, em Agosto de 2018, onde ele foi detido pela Polícia Tailandesa, em cumprimento de um mandado de captura internacional emitido no âmbito do processo-crime 4/10/2014. A captura de Nini Star foi justificada com base no argumento de que ele violara os pressupostos da liberdade condicional que lhe tinha sido concedida. (Ilódio Bata)
Nos bairros da cidade da Beira houve várias infra-estruturas privadas, empresariais e sociais que, num ápice, ficaram sem cobertura por causa da fúria dos ventos que acompanhavam o ciclone Idai quando, há um mês na sua passagem pela região centro do país, ‘sacudiu’ violentamente a capital provincial de Sofala.
Munícipes beirenses ouvidos pela nossa reportagem reconheceram ser preocupante a situação em que agora se encontram as infra-estruturas na segunda maior cidade moçambicana. Contaram que a desgraça começou a desenhar-se por volta das 02h00 de madrugada quando tectos cobertos com chapas de zinco ou de fibrocimento (vulgo Lusalite) voaram como se de papel se tratasse. “Nunca se tinha visto coisa idêntica”, confessaram algumas das nossas fontes, acrescentando que certas pessoas morreram porque ‘perderam a cabeça’ e começaram a deslocar-se às correrias de um lado para o outro!
O IDAI arrasou tetos em quase toda a Beira. Nem armazéns das grandes firmas conseguiram resistir, tendo alguns deles ido abaixo e outros ficado sem cobertura. Um mês após a passagem do ciclone, várias infra-estruturas continuam privadas de tecto. Tais são os casos do Pavilhão de Desportivos, do Pavilhão do Campus da Universidade Pedagógica, do edifício onde funcionam os serviços distritais de Educação e Tecnologias, para além de várias residências na Ponta-Gêa. Também nas casas dos bairros Vaz, Munhava, Chaimite, Esturro, e de outros 20 (bairros), são bem visíveis os vestígios de grande destruição.
Sem tecto ficaram também várias escolas, fazendo com que mais de 84 mil alunos voltassem a assistir às aulas em condições precárias. Tal cenário, conforme disse à “Carta” Lubélia Jorge, directora da Escola Primária Eduardo Mondlane, que funcionou como centro de acomodação para mais de 1500 pessoas, levou as autoridades do sector da educação a redefinir novos mecanismos de funcionamento.
Igualmente atingidos pelo Idai foram os armazéns e barcos das empresas que actuam na área pesqueira no banco de Sofala, acabando com investimentos de vários anos, sem que pelo menos até ao momento se vislumbrem sinais de eventuais apoios por parte das autoridades governamentais, para permitir o reatamento da actividade de pesca.
Na zona urbana, em muitas das residências, incluindo prédios, o ciclone Idai arrancou as respectivas coberturas. Houve casas que desabaram na zona da Praia Nova e que voltaram a ser erguidas, mas de forma precária, pelos seus proprietários, representando um sério perigo em caso de uma eventual ocorrência de uma intempérie.
Como resultado do ciclone Idai, pode-se afirmar com segurança que a beleza da Beira foi-se! Os edifícios envelheceram num dia, o ambiente económico produziu mais parasitas. Tudo está caro. Há dificuldades de toda a ordem nos vários serviços públicos e privados. Para completar este quadro negro, mais de 400 mil casas e famílias residentes na cidade da Beira ficaram sem tecto. (Omardine Omar)