O edil da Beira, Daviz Simango (do MDM), tem deixado os membros do Governo central com os nervos à flor da pele. Depois do ciclone, que atingiu a Beira na passada quinta-feira, ele esteve ausente, aparentemente “escondido”, tendo dado apenas sinal de vida na terça-feira, no mesmo dia em que o Conselho de Ministros alargado seu reuniu nas instalações do CFB.
Nessa noite, Simango surgiria finalmente na televisão, em mangas de camisa, chorando a destruição da Beira. Na mesma noite, o Presidente Filipe Nyusi, lançar-lhe-ia uma “indirecta”, ao se referir à “auto-exclusão” do edil da cidade. Afinal, ele foi convidado àquela sessão do Conselho de Ministros, mas optou por gazetar.
Sua ausência, se propositada ou não, não está a dar paz a Maputo. É bem verdade que os estragos resultantes do ciclone Tropical IDAI requerem um outro nível de intervenção do Governo central, extravasando a capacidade de reacção da autarquia, até porque o fenómeno atingiu toda Sofala e outras províncias. Daí a presença em peso do executivo na cidade da Beira.
Mas, segundo apurámos, Daviz Simango tem estado a contornar todos os convites para fazer parte das equipas que lidam com a situação no terreno. Na reunião de balanço de ontem, no final do dia, quando Celso Correia, Ministro da Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural convidou o Primeiro-ministro (PM) para usar da palavra, este lamentou a ausência do edil da Beira em todo este processo.
Carlos Agostinho do Rosário sublinhou a importância do envolvimento de Daviz Simango na coordenação de todas as acções visando ultrapassar o problema que é enfrentado pela população de Sofala e da Beira em particular. "Não podemos fazer nada sem os donos, estamos sozinhos, mas o desejável era envolver os donos da casa", disse o PM.
Sugeriu que se continuasse a tentar envolver Daviz Simango nos encontros de coordenação. Ou pelo menos alguém que lhe representa. "É verdade que nós estamos a colocar as pessoas aqui ou acolá, mas quem conhece a casa são os donos", disse Rosário. O PM diz que se está na presença de um problema nacional que requer a colaboração de todos. “Este é um problema nacional e todos têm que fazer parte da solução”.
Consta que quando o ciclone tropical IDAI atingiu a cidade da Beira, a Directora Geral do INGC, Augusta Maita, foi convidar Simango para reuniões de coordenação sobre a emergência. Ele prometeu participar, mas nunca lá foi. (Carta)
Os muçulmanos da cidade de Maputo vão enviar, próxima semana, à cidade da Beira, província de Sofala, 10 contentores de 40 pés com diversos bens para ajudar às populações afectadas pelo ciclone tropical IDAI.
Fonte da comunidade muçulmana, na Beira, disse que os 10 contentores trazem material de construção, roupa, géneros alimentícios, incluindo água.
O navio contendo os contentores parte hoje, quinta-feira, de Maputo. Explica a fonte que não se trata de apoio de uma comunidade em particular. "Os muçulmanos todos da cidade de Maputo criaram uma comissão que está a gerir todo este processo de angariação de apoio aos nossos concidadãos". (Carta)
A Direção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (DNGRH) alerta para uma eventual ocorrência, a partir de hoje, de chuvas moderadas a fortes durante as próximas 48 horas, nas cidades de Maputo e Matola.
No comunicado de imprensa emitido, esta quarta-feira (20), a DNGRH faz referência aos bairros onde, a nível da cidade de Maputo, poderá haver inundações urbanas moderadas devido à acumulação de águas pluviais. Os bairros, em causa, são 25 de Junho A e B, Acordos de Lusaka, Luís Cabral, Chamaculo B e C, Xipamanine, Aeroporto A e B, Munhuana, Mafalala, Urbanização, Costa do Sol, Magoanine, Mutanhane e, na Matola, os bairros da Machava, Matola Gare, Ndlavela, São Damanso, Unidade D, Vale do Infulene, Singatela, Tsalala, Trevo, Matijbuane, Patrice Lumumba A, D, J, H, F, Fomento, Liberdade, Muhalaze e Nkobe.
Assim, a DNGRH recomenda à população que vive nos bairros acima identificados para tomar medidas de precaução e conservar, devidamente, os seus bens em locais mais elevados da casa. Também recomenda-se a observância dos necessários cuidados aos que estiverem na estrada, crianças em particular, sob o risco de serem arrastados pelas correntes das águas. (Marta Afonso)
Não foi por falta de informação que as autoridades nacionais não minimizaram o impacto do Ciclone Tropical IDAI (sobretudo no que diz respeito à perda de vidas humanas) que, na passada quinta-feira (14), fustigou a zona centro do país, província de Sofala em particular, provocando esta tragédia que ainda mantém Moçambique e o mundo em estado de choque.
Desde o início deste Março que o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) vinha alertando para a formação de uma depressão tropical que iria atingir a costa moçambicana a partir do dia 12 e uma vaga pluviométrica aterradora na ordem dos 150 milímetros, que teria um impacto devastador sobre vidas, produção agrícola e infraestruturas nas províncias do centro do país.
Era previsível um cenário de cheias nas bacias dos rios Buzi e Púnguè. Mas ninguém fez nada.
O Governo emitiu um alerta vermelho no dia 11, terça-feira, mas, depois disso, ninguém fez nada. Os cidadãos foram deixados à deriva, sobretudo nos distritos do interior, como o Buzi. Daqui, a administradora local escreveu uma carta ao Governador de Sofala já depois de a vila ter sido invadida pelas águas e muita gente ter sido varrida para a lama, sucumbindo. Os que sobreviveram treparam árvores e casos. Muitos estão ainda à espera da magia de uma resgate que tarda. Há relatos de gente desistindo de viver, largando-se, impotente, para a água.
Neste momento em que o país chora as vítimas da tragédia, com estimativas preliminares apontando para mais de 200 mortos, “Carta” recua no tempo para trazer o histórico dos Boletins Meteorológicos (BM) emitidos pelo INAM entre os dias 04 e 14 de Março, que não faltou alerta, mas ninguém fez nada.
No dia 04 de Março, segunda-feira, no qual o INAM lançava um sinal “laranja” sobre o Canal de Moçambique e as províncias de Tete, Zambézia e Sofala, alertando sobre uma possível intensificação de uma Depressão Tropical (ventos entre a 65 km/h), que podia atingir o estado de tempestade tropical moderada (ventos de 63 a 89 km/h). De acordo com o BM do dia 04 de Março, o sistema deslocava-se a uma velocidade de 07 km/h em direcção à costa das províncias de Sofala e Zambézia. Nesse dia, o INAM também alertou sobre a possível ocorrência, a partir daquele dia, de intensas chuvas (mais de 100 mm/24h), acompanhadas de trovoadas e ventos fortes (acima de 80 km/h).
No dia 06 de Março, pelas 15 horas, os serviços meteorológicos emitiram um aviso de “sinal vermelho”, prevendo a continuação de chuvas muito intensas (mais de 100 mm/24h), acompanhadas de trovoadas severas e ventos com rajadas nas províncias de Sofala, Nampula e Cabo Delgado, nas 48 horas seguintes. No BM do dia 07, emitido pelas 12 horas, ainda com aviso vermelho, o INAM continuava com a previsão de intensas chuvas (mais de 100 mm/24h), acompanhadas de trovoadas severas e ventos com rajadas fortes, até 60 km/h, em alguns distritos das províncias da Zambézia, Tete, Sofala, Manica, Nampula e Niassa.
Primeiros sinais da “aterragem” do IDAI
No BM do dia 08 de Março, com o aviso “laranja”, os meteorologistas mantinham a previsão de chuvas muito intensas (mais de 75 mm/24h), acompanhadas de trovoadas severas e ventos com rajadas até 60 km/h nas mesmas províncias, excepto Nampula. Nesse dia, o INAM também emitiu um comunicado mais detalhado sobre a situação meteorológica nacional, dizendo que as províncias da Zambézia, Niassa, Tete, Sofala e Manica estavam a ser influenciadas por um “sistema de baixas pressões muito activo”, que se deslocava para o mar.
Previa-se que o sistema em causa atingisse o canal de Moçambique no dia 10.“As projecções dos centros de monitoramento de ciclones tropicais dão indicação de evolução desse sistema a partir do final do dia, atingindo o estágio de depressão tropical”, dizia o referido comunicado. E prosseguia referindo que, se as condições das águas superficiais do Canal de Moçambique fossem favoráveis, o tal “sistema de baixas pressões muito activo” poderia atingir o estágio de tempestade tropical severa.
Sublinhava que o sistema iria aproximar-se da costa moçambicana a partir do dia 12 de Março. E que as províncias de “entrada” seriam as da Zambézia ou Sofala. Ou seja, a partir de 08 de Março as autoridades moçambicanas já tinham conhecimento da “chegada” do IDAI, embora não houvesse clareza quanto à sua “porta de entrada”. Mesmo assim, as autoridades do nosso país nada fizeram para minimizar o impacto. Nestas situações, não só se recomenda a activação dos alertas laranja ou vermelho, mas também a evacuação da população residente nas zonas de risco. Nem uma, nem outra coisa aconteceu.
Ainda no comunicado em questão, o INAM recomendava à população que reside ao longo da costa das províncias acima referidas para acompanharem as “actualizações” dos avisos e alertas, para evitarem ser apanhados de surpresa. O aviso laranja manteve-se também no dia 09 de Março e com referência à Depressão Tropical, aventando-se a hipótese de ganhar maior intensidade nas horas seguintes, podendo mesmo atingir o estágio de tempestade tropical moderada (ventos de 63 a 89 km/h). Foram, igualmente, mantidos os prováveis locais de entrada (norte de Sofala e sul da Zambézia) da referida tempestade, mas levantava-se uma dúvida em relação à data da sua chegada (entre 12 e 13 de Março).
No mesmo dia e em relação à navegação marítima, o INAM referiu-se também à ocorrência de uma depressão tropical, com a previsão de ventos fortes com a velocidade até 80 km/h, que podiam agitar o mar e gerar ondas com alturas até cinco metros. Previa-se ainda a ocorrência de chuvas muito intensas (mais de 100 mm/24h), acompanhadas de trovoadas severas.
IDAI identificado no dia 10
No dia 10 de Março, a depressão tropical surge já com nome de baptismo, IDAI, evoluindo nesse mesmo dia para Tempestade Tropical Moderada, com ventos de 75 km/h e rajadas até 110 km/h. Previa-se que o IDAI atingisse o estágio de Tempestade Tropical Severa, deslocando-se em direção à costa das províncias de Sofala e Zambézia. Aventava-se a hipótese de aquela Tempestade atingir o estágio de Ciclone Tropical, influenciando o estado de tempo a partir do dia 13 de Março nas quatro províncias do centro do país. No dia 11 de Março, de acordo com o BM emitido pelas 13 horas, a tempestade tinha evoluído de “tropical moderada” para Ciclone Tropical Intenso, com as chuvas a atingir mais de 100 mm/24h. Nesta previsão meteorológica, o INAM avançava que o IDAI iria atingir o continente no dia 14 de Março, através da costa da província de Sofala, influenciando o estado de tempo em todos os distritos das províncias da Zambézia e Sofala.
No dia 13 de Março, o INAM não só previa que o IDAI ia fazer-se sentir no dia 14, mas também referia ostentaria a categoria 3. Prevaleciam dúvidas em relação aos locais que sentiriam primeiro o impacto do IDAI (distritos de Dondo, Muanza ou Cheringoma). Mas, clarificava-se que afectaria as províncias de Sofala, Manica, Zambézia e Inhambane, e que os ventos seriam muito fortes (180 a 200 km/h), acompanhados por chuvas muito intensas (mais de 150 mm/24h) e trovoadas severas. A partir daquele dia, o sinal já era vermelho, revelador do perigo que se aproximava.
IDAI passa de categoria 3 para 4
No dia 14 de Março, pelas 15 horas, o INAM reajustou a categoria daquele Ciclone, subindo a sua categoria de 3 para 4. Também fazia referência ao ponto e hora de entrada (Beira e Dondo, pelas 18 horas daquele dia), com a chuva a atingir mais de 150 mm/24 horas e o vento a soprar entre 190 a 220 km/h. No mesmo dia, para a navegação marítima, o INAM previa a ocorrência de ventos muito fortes, velocidade até 165 km/h, com rajadas que podiam atingir 190 km/h, gerando com ondas de 10 metros. Esperava-se igualmente a ocorrência de chuvas muito fortes (mais de 100 mm/24h). São estas evidências que a “Carta” traz para mostrar, claramente, que as autoridades moçambicanas tiveram informação bastante para agirem com antecedência, de modo a evitar, no mínimo, a perda de vidas humanas. Contam-se até ao momento mais de duas centenas de mortos. O número pode chegar a mil, como avançou o Presidente da República, mas há que crê em muito, muito mais. (Abílio Maolela)
Não há previsão de abertura de comportas do lado do Zimbabwe nas próximas 72 horas porquanto não existe indicação de chuvas fora do normal, segundo disse um representante da Direcção Nacional de Recursos Hídricos nas habituais reuniões de balanço que acontecem no final do dia.
"Contactamos nossos colegas do Zimbabwe e o que nos disseram é que não há previsão de abertura de barragens no Zimbabwe", disse.
A mesma fonte disse no encontro dirigido pelo ministro da Terra e Ambiente, Celso Correia, que o Rio Búzi registou uma redução do nível do seu caudal.
A estação de monitoria de Gonda, localizada no Búzi, aponta para uma baixa de um nível de acima de 11 metros para 6 metros, um dado registado na última segunda-feira.
Em relação ao Pungue, a fonte referiu uma redução de 9,55 metros para 9,10 metros.(Carta)
A Renamo diz que não correspondem à verdade os números até aqui tornados públicos sobre os estragos provocados pelo ciclone tropical IDAI na sua passagem, no dia 14, pela região centro do país. A Renamo diz que muita informação está a ser ocultada. Apesar de discordar dos números anunciados pelo Governo, Juliano Picardo, assessor político do presidente da Renamo, Ossufo Momade, afirmou durante uma conferência de imprensa realizada esta quarta-feira (20), em Maputo, que é prematuro avançar números “porque estaríamos a ser hipócritas”.
Picardo, que esteve na Beira, sublinhou que “a realidade no terreno é outra. Há corpos espalhados pelas águas. Pessoas por cima das árvores”. Acrescentou que na Beira e em Mossurize, na província de Manica, há crianças e mulheres famintas e sem ajuda. Considerando “deplorável” o cenário que lá se vive, Juliano Picardo acrescentou que “tudo o que até aqui tem sido anunciado sobre vítimas humanas, infraestruturas, bens e pessoas desaparecidas não passa de uma falácia com intenção de nos despistar da realidade”.
Para ele, “as pessoas afectadas em Sofala, Manica, Tete, Zambézia e em alguns distritos da província de Inhambane, estão numa situação deplorável, sem salvamento, pois estão ainda refugiadas em cima de suas casas e ou em infraestruturas do Estado, sem água potável e comida”. Juliano Picardo queixou-se que existe muito oportunismo por parte de comerciantes em zonas afectadas, que chegam a vender uma vela que custava 10,00 Mts por 25,00 Mts ou mais. Denunciou que o preço do “chapa” na Beira subiu de 15,00 Mts para 30,00 Mts. Ele exige maior fiscalização nas lojas e noutros centros comerciais. Referiu-se à morte de todos os recém-nascidos que estavam no berçário do Hospital Central da Beira. Destino idêntico tiveram as parturientes. O assessor do líder da Renamo apelou para que os apoios sejam canalizados tambéma aos residentes da cidade da Beira, e não apenas aos centros de acomodação, pois a zona urbana da cidade abriga muitas pessoas cujas residências ficaram sem tecto e vivem agora momentos dramáticos.
Reduzir dirigentes “visitantes”
A Renamo entende que deve-se reduzir o número de dirigentes que “visitam” as zonas afectadas, alegadamente por ocuparem espaço nos helicópteros e autocarros, o qual poderia ser aproveitado por aqueles que têm a missão de resgatar os afectados em Búzi, Mossurize e Sussudenga. Defendeu um maior envolvimento das Forças de Defesa e Segurança na limpeza da cidade, colocando os veículos militares de transporte ao serviço dos cidadãos. A “perdiz” apela igualmente ao Governo para que faça chegar os apoios recebidos de dentro e fora do país aos seus verdadeiros destinatários. (Omardine Omar)
Com Álvaro Fausto, Andes Chivangue e Melita Matsinhe, celebrando o Dia Mundial da Poesia. Esta sessão de conversa e poesia pretende ser um campo aberto para debater o estado da poesia moçambicana, fazendo uma radiografia, desde a produção à publicação dos últimos 20 anos é visível o resgate da nossa marca como um país de Poetas. Em 2018 tivemos duas obras moçambicanas finalistas do prémio Oceanos. Uma, O DEUS RESTANTE foi coroada, o que representa uma responsabilidade acrescida. Todavia há vários pontos que despertam interesse para uma tertúlia consequente.
(21 de Março, às 18Hrs na Fundação Fernando Leite Couto)
Esta exposição integra um conjunto de ilustrações de André Letria dedicadas ao conto infantil de José Saramago, foi apresentada pela primeira vez, em 2015, na Fundação José Saramago, no Auditório da Casa dos Bicos, em Lisboa. Depois desse momento, a exposição iniciou itinerância e tem vindo a ser apresentada em diversos locais, nomeadamente em Óbidos na 1.ª edição do Folio, no Festival Literário Internacional em 2015, no Centro Cultural Português em Maputo em 2017 e no Centro Cultural Português na Beira em 2018.
(De 21 de Março à 30 de Junho, na Universidade Lúrio)
A temporada de exposições da Associação Kulungwana abre com uma individual, “Sabores de amor” do artista plástico Marcelino Manhula. Trata-se de um jovem artista moçambicano, a residir na vizinha África do Sul, que trabalha sobre um material pouco usual entre nós, o mosaico. Sobre o trabalho do artista, o curador da exposição, Ulisses Oviedo afirma: “Numa primeira análise da obra, somos “atingidos” por um material, que por sua pureza formal, se conjuga numa manifestação celebrativa, a pedra. Esta faz parte integrante da concepção de cada uma das obras aqui expostas e estende uma mensagem intemporal de homem desconhecido. Por outro lado, juntam-se outros elementos plásticos, tais como formas, o desenho, a composição e a natureza do próprio material, onde as normas de estética se apresentam harmoniosamente”. Acaba por concluir, em resultado do trabalho apresentado que, por vezes, “sentimos que assistimos a uma pintura escultórica e não propriamente a um mosaico”. Marcelino Manhula nasceu em 1986, revelou desde cedo a sua vocação para as artes plásticas, tendo posteriormente frequentado o curso de Desenho Têxtil na Escola Nacional de Artes Visuais. Em 2005, um programa de intercâmbio levou-o ao Canadá, França, Namíbia e África do Sul para quatro anos mais tarde, fixar-se neste último país, onde se dedicou à arte do mosaico.
(de 21Fev a 14 de Março, na Estação Central dos CFM)
“Ontem foi um dia encorajador. Com a ajuda dos helicópteros da SAAF (Força Aérea da África do Sul), conseguimos salvar 167 pessoas, colocando-as em segurança e, em alguns casos, reunindo-as com familiares e amigos”, lê-se na página do Facebook do IPSS Medical Rescue, uma Organização Não-Governamental sul-africana criada nos anos 90 por antigos bombeiros, com o objectivo de elevar a qualidade do salvamento em desastres em África. Isso foi conseguido e a Rescue South África, como é conhecida hoje, já é cotada mundialmente, com presenças pontuais em desastres como tsunamis, incluindo em regiões remotas da Ásia.
São eles quem está agora operando alguma magia. O dilúvio é enorme, sobretudo na zona do Buzi, onde centenas de moçambicanos terão ficado debaixo da água. Muitas não conseguiram trepar uma árvore ou um casebre. Foram apanhadas desprevenidas por torrentes violentas de águas vindas da montante e por chuvas com rajadas que caíam há vários dias, carregando a aterradora cifra pluviométrica de 150 milímetros.
A equipa da Rescue South África entrou em Moçambique no passado domingo e já desbrava na vastidão de água que inundou as bacias hidrográficas do Buzi e do Púnguè. “À medida que equipas e recursos adicionais chegam à região, os esforços de resgate estão se expandindo e o impacto é significativo. Isso também permitirá que algumas das ‘primeiras botas’ no solo comecem a se retirar da área, buscando uma recuperação muito necessária em casa”, lê-se.
A moldura de gente ainda refugiada no cimo de árvores e barracas, famintas, é enorme. Mas a primeira leva da turma de salvadores sul-africanos precisa de ser substituída. “Muitos dos membros da equipa estão exaustos física e mentalmente, e decisões operacionais sobre se devem voltar para suas famílias serão tomadas durante o dia”.
Outras respostas ao desastre
Na Beira, o INGC (Instituto Nacional de Gestão de Desastres) mantém o seu Centro de Operações no aeroporto internacional, aliás a base central de toda a resposta de emergência ao desastre. Aqui também funcionam várias organizações humanitárias, incluindo as do espectro das Nações Unidas, facilitadas pelo PMA (Progama Mundial de Alimentos). De acordo com o ReliefWeb no seu último “update”, a Telecoms Sans Frontiers implantou uma equipa na Beira e estabeleceu a conectividade para operações humanitárias.
Um segundo centro de coordenação está a ser estabelecido em Chimoio, liderado pelo INGC, para apoiar as operações nas áreas circundantes e uma reunião de coordenação foi realizada a 18 de Março para discutir questões críticas. A coordenação também está activa em Quelimane, na Zambézia, liderada pelo INGC com o apoio do UNICEF.
O INGC está a prestar assistência a 3.800 famílias em centros de acomodação na província de Sofala. O ReliefWeb diz que vários parceiros de saúde estão a apoiar na resposta urgente em instalações de saúde impactadas, incluindo o Hospital Central da Beira. Fora da Beira na resposta está em curso na Zambézia, visando a contenção do surto de poliomielite que foi confirmado em Janeiro de 2019. Na cidade de Tete, o PMA assiste quase 900 famílias, acomodadas no centro do INGC no bairro em Matundo, uma mistura de transferência de dinheiro e assistência em vales, nomeadamente envolvendo comerciantes locais.
O ReliefWeb noticia também que quatro helicópteros (três do governo e um do PMA) estão disponíveis. O PMA transportou 20 toneladas de biscoitos energéticos para a Beira a 17 de Março, para ajudar mais de 22.000 pessoas. Um voo do Dubai Humanitarian Response Depot, transportando provisões vitais (incluindo 13.700 lonas, 3.500 jerrycans, 1.500 kits de ferramentas de abrigo e medicamentos para operações da ONU) já devia ter chegado a Maputo.
Desafios
Os desafios à resposta permanecem significativos. A escala e o alcance das inundações tornaram muitas estradas-chave intransitáveis, o que significa que os comboios rodoviários não conseguem chegar à Beira neste momento. Há muitos camiões presos na estrada e incapazes de alcançar seus destinos pretendidos. Existem também desafios no transporte de suprimentos de socorro suficientes para a Beira e áreas adjacentes, devido ao número limitado de meios aéreos. (Carta)