O economista e docente Roberto Tibana discursava ontem (21) como orador numa mesa redonda sobre: vulnerabilidade, choques económicos externos e as medidas que visam a eliminação das isenções fiscais, redução salarial e do investimento público e o seu impacto. O debate foi organizado pela Action Aid. “Nós somos vulneráveis porque muitas vezes criamos a nossa vulnerabilidade. A vulnerabilidade não é uma coisa dada. Existem vários debates que dizem que a vulnerabilidade é inerente porque Moçambique está situado numa zona propensa a variações climáticas, como tempestades. É verdade que são mais intensas e frequentes. Houve uma altura em que a sociedade era mais pobre do que está e com menos recursos do que tem agora, mas os impactos parecem muito maiores agora”, disse Roberto Tibana.
“Porque é que todos os anos somos obrigados a assistir àquele espectáculo da Costa do Sol com pessoas dormindo em cima da mesa na época chuvosa″, questionou o orador. Em resposta, explicou que são pessoas vulneráveis às chuvas, mas uma vulnerabilidade criada, porque se não se quer ter aquela vulnerabilidade, sai-se dali. Reconheceu ser difícil a retirada das pessoas porque precisam de ajuda, mas assegurou que já houve casos em que tiveram alguma ajuda e voltaram para lá, então essa vulnerabilidade é criada.
O economista colocou outras questões, como por exemplo o facto de sermos vulneráveis aos preços de mercadorias primárias no mercado internacional, e a vulnerabilidade dos países africanos em relação aos países da América Latina e da Ásia.
Na sua análise, isso tem a ver com o facto de os países asiáticos e latino-americanos em desenvolvimento terem feito alguma coisa nos anos 60 e 90, que foi transformar as suas economias (e continuam a fazer), facto que não aconteceu em Moçambique. ″E como é que se faz a transformação da economia? Essas são decisões um pouco pesadas, mas que tem que ser tomadas e não podem ser decisões de hoje e que trazem resultados hoje, tem que ser decisões a pensar para um horizonte temporal de 20 e 30 anos.
“Por exemplo, eu trabalhei muito, digo eu quando falo das pessoas da minha geração. Estivemos a trabalhar ali no vale do Limpopo para atacar muitos problemas da vulnerabilidade das pessoas que andam naquelas zonas de cheias. Nós fomos tirar pessoas que estavam a naufragar ali na altura das cheias, mas ainda há pessoas lá a naufragar na altura das cheias, isto porquê? Porque não fizemos, o Governo, a Nação moçambicana não fez”- apontou Roberto Tibana.
“Portanto, a vulnerabilidade é algo que nós criamos. Por exemplo, a vulnerabilidade dos preços das mercadorias surge porque nós não diversificamos a nossa produção agrária, a vulnerabilidade em relação ao preço dos alimentos deve-se ao facto de que nós não produzimos, não investimos na produção e não orientamos a produção agrícola para satisfazer as necessidades básicas e mínimas do país, o que se pode fazer em 20 anos. Portanto, vamos descontar a guerra dos 16 anos”, referiu.
O economista argumenta também que a vulnerabilidade é uma coisa criada, porque uma boa parte resulta das políticas que não são adequadas e, por outro lado, do facto da sociedade não ter agido e não ter tido a capacidade de agir para influenciar para que as políticas sejam as mais adequadas.
“Neste caso, nós estamos a criar uma grande vulnerabilidade neste momento no nosso país e que vai perseguir os nossos filhos e netos e isso é o desinvestimento na educação e na saúde. É a coisa mais grave que este país já fez. Eu costumo dizer, eduquem as pessoas, dêem saúde às pessoas e depois deixem o resto para elas. Ponha estradas, água, educação, cuidados de saúde primários e o resto as pessoas vão fazer por elas porque com educação até vão saber melhorar a sua própria saúde, vão poder produzir e nutrir-se bem”. (Marta Afonso)