Foi uma viagem de negócios que levou Tony Blair de urgência para Nampula, ontem, onde encontrou-se com o Presidente Filipe Nyusi, que estava na capital do norte a orientar a jornada contra o HIV-Sida, por ocasião da data mundial de luta contra a pandemia.
Tony Blair, antigo primeiro-ministro trabalhista do Reino Unido, não está oficialmente ligado aos esforços de paz em Moçambique, que mais recentemente ganharam outros protagonistas da diplomacia. Ele dirige o Tony Blair Institute For Global Change, uma entidade cuja ambição é ajudar a fazer com que a globalização “funcione para muitos, e não para poucos”.
Uma fonte de “Carta” disse que Blair esteve em Nampula a tratar de interesses empresariais. Ele virou um “lobbysta” a favor capitalismo britânico, com enorme ambição de encaixar nos negócios das extractivas em Moçambique. Aliás, Blair é descrito como tendo por cá também seus negócios, não revelados.
Tony Blair chegou a Nampula num voo privado. Seu avião aterrou no aeroporto local pelas 3 horas da madrugada de domingo. Blair e sua delegação empresarial foram instalar-se no Hotel Grand Plaza, o mais luxoso de Nampula, de Issufo Nurmamad, o “mogul” do algodão, também dono da Fábrica de Óleos de Namialo (Issufo é sogro do empresário Zair, dono da fabrica de bolachas Sumeya, e cunhado de Raja Hussen, da falida Air Corridor).
Depois de se encontrar com Nyusi, em lugar que não conseguimos descortinar, Tony Blair deixou Nampula por volta das 14.30 horas. Para onde? Para Luanda. E a imprensa de Luanda está a noticiar, justamente, nesta tarde, que Blair chegou a Angola para “uma visita que visa essencialmente encetar contactos empresariais com potenciais parceiros nacionais e com as autoridades angolanas”. A ANGOP escreve que “Tony Blair, que integra uma delegação multisectorial do Reino Unido, tem em agenda, esta tarde, uma audiência com o Presidente da República, João Lourenço, apurou a ANGOP”.
Esta tarde, “Carta” procurou saber junto do Alto Comissariado Britânico em Maputo as razões da vinda de Tony Blair a Moçambique. “A visita foi privada”, disse fonte autorizada.
Um dado curioso emerge: um quasi-secretismo? Em Angola, a mesma visita está a ser coberta amplamente pela comunicação social. Em Moçambique, nem a AIM teve o privilégio de ser informada. Porquê? Os negócios de Tony Blair são secretos em Moçambique ou não fica bem vir fazer “lobby” empresarial com um presidente, Filipe Nyusi, que ainda nem tomou posse, depois de vencer umas eleições altamente contestadas e para as quais a União Europeia (onde se ainda integra o Reino Unido) torceu o nariz? Será isso...?
(Marcelo Mosse)