Três meses depois da eclosão do surto do novo coronavírus (ou Covid-19) na China e 14 dias depois de Moçambique reportar o primeiro caso de infecção pela pandemia, o Instituto de Promoção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME) diz haver Micro, Pequenas e Médias Empresas (PME) que já se ressentem pela crise provocada pela doença.
Em entrevista telefónica à “Carta”, esta segunda-feira (06), o Director-Geral do IPEME, Claire Zimba, disse que, perante uma crise mundial provocada pela doença, as PME não poderiam escapar aos efeitos e, como consequência, já há algumas que começam a relatar o impacto negativo, bem como ponderar reestruturar o negócio e a mão-de-obra.
“Há PME que colocam na mesa a possibilidade de reestruturar os negócios, bem como reduzir a massa laboral”, afirmou Zimba, mesmo sem avançar o número de PME nessa situação.
De entre vários ramos, o nosso interlocutor destacou o sector de transporte que, devido às medidas no âmbito de Estado de Emergência, vê-se obrigado a reduzir o número de passageiros, facto que em última análise reduz significativamente a renda diária.
O gestor referiu-se ainda aos pequenos importadores ou exportadores que, devido às medidas impostas pelo Estado sul-africano, também têm tido algumas dificuldades de realização das suas actividades, principalmente através de fronteiras terrestres.
Enquanto algumas se ressentem, o nosso entrevistado disse haver outras PME que se aproveitam da crise para especular preços de diferentes produtos, com destaque para os de prevenção e combate à Covid-19. Face a isso, Zimba não escondeu a sua insatisfação.
No geral, o Director-geral do IPEME explicou que, como forma de minimizar os impactos da pandemia, as PME têm estado a reestruturar os seus negócios. Segundo Zimba, algumas viraram seu foco na produção e fornecimento de luvas, álcool/gel, detergentes e de mais produtos que são mais consumidos nos últimos dias.
Reduzir os trabalhadores, concedendo férias colectivas, são outras medidas que, segundo o gestor máximo do IPEME, as empresas estão a tomar para reduzir o impacto da crise.
A nível do Governo, a fonte disse que o Ministério da Indústria e Comércio, que tutela o IPEME, já criou uma comissão de trabalho cujo objectivo é analisar o melhor mecanismo, desde fiscal ou aduaneiro, até acesso ao financiamento para apoiar as empresas a resistir a esse fenómeno.
O coronavírus chega numa altura em que algumas PME tentam se reerguer diante de vários desafios que o mercado nacional tem oferecido. Dos mais recentes, destaca-se a devastação provocada pelos ciclones Idai e Kenneth, “dívidas ocultas” e do Estado aos fornecedores.
Dados do IPEME indicam que os referidos desafios e demais, como difícil acesso ao financiamento, levaram à falência de 5 mil empresas nos últimos cinco anos, estando actualmente registadas no país 45 mil PME. (Evaristo Chilingue)