O Banco de Moçambique considera a baixa qualidade da carteira de crédito nas Instituições de Crédito (IC) nacionais como a principal vulnerabilidade do sistema financeiro moçambicano. Em Relatório (Anual) de Estabilidade Financeira, o regulador do sistema financeiro moçambicano reporta que a qualidade da carteira de crédito das IC, medida pelo rácio de crédito em incumprimento, manteve-se estável em 2019, em torno de 10,0%.
“Ainda que o rácio tenha reduzido comparativamente a 2018, o mesmo manteve-se em 2 [dois] dígitos, bem acima do máximo de 5,0% recomendado pelas boas práticas internacionais, numa conjuntura em que os saneamentos continuam a ganhar expressão. Após o pico do crédito em incumprimento registado em 2016, o mesmo vem paulatinamente reduzindo, apesar de manter registos preocupantes”, lê-se no informe.
Segundo o Banco de Moçambique, os elevados rácios de incumprimento estão parcialmente associados às altas taxas de juro reais praticadas pelos bancos comerciais no período em análise e aos desequilíbrios financeiros de alguns bancos a operar no sistema que, aliados à pressão cambial (a qual impacta no poder de compra), desencorajam a procura por novos empréstimos do sector corporativo e familiar doméstico.
Para a baixa qualidade de crédito nas IC, o relatório aponta, igualmente, a necessidade de financiar o défice das contas públicas, facto que leva o Estado a recorrer ao financiamento interno, predispondo-se a pagar taxas relativamente altas pela emissão de títulos, fazendo com que os bancos comerciais privilegiem essa fonte de rendimento, praticando taxas que inibem a procura de crédito por outros segmentos da economia.
O informe diz ainda que as incertezas relativamente aos impactos finais da Covid-19 também têm estado a contribuir para o aumento da ansiedade sobre as perspectivas económicas do país, com reflexos, igualmente, sobre o sector financeiro, podendo contribuir para a deterioração da qualidade de crédito, na medida em que o sector produtivo e o emprego serão directamente afectados pela dinâmica desta pandemia.
“O actual ciclo económico que o país atravessa, caracterizado pela fraca procura agregada e receios sobre a capacidade das famílias e empresas de honrarem os seus compromissos, pode estar a pesar na decisão de concessão de novos créditos, limitando, por conseguinte, a expansão do crédito para a economia”, acrescenta a nossa fonte.
Para além da deterioração da qualidade da carteira de crédito, o Banco de Moçambique aponta, no informe, que a instabilidade militar nas zonas centro e norte do país, o elevado endividamento do sector público associado ao baixo crescimento da economia, os factores climáticos adversos, a baixa confiança do país no mercado internacional e um sistema de pagamentos exposto a ataques cibernéticos constituem também vulnerabilidades presentes no sector bancário nacional. (Evaristo Chilingue)