Para os locais, é como se um furacão tivesse passado e devastado a Ponta do Ouro: fezes nas bermas das estradas, urina por todos os lados, preservativos usados e garrafas (partidas) atiradas para cá e para acolá. Foi este o lastimável rescaldo das festas de passagem do ano naquela idílica vila situada no Distrito de Matutuine – Posto Administrativo de Zitundo.
Aquele que é o ponto mais a sul do país foi sempre tido como um paraíso inacessível para “o moçambicano normal”. Com praias paradisíacas e estâncias turísticas praticamente a cada esquina, a Ponta do Ouro vinha sendo, desde sempre, frequentada maioritariamente por cidadãos sul-africanos (com “pasta”).
Os preços lá praticados – quer das hospedagens, quer da alimentação – foram sempre considerados proibitivos para a maioria do moçambicano comum.
Mas, mais do que isso, o que impedia muitos dos nossos compatriotas de visitar (pelo menos uma vez na vida) aquela “Meca do turismo e do lazer” eram as vias de acesso, a partir da capital do país. Para se chegar à Ponta do Ouro era necessário possuir-se uma viatura com tracção às quatro rodas (um 4x4).
Acontece, porém, que agora, com a inauguração da ponte e da auto-estrada que liga a capital àquele ponto do país, muita gente se desinibiu e começou a fazer-se à estrada rumo à vila. Foi o que aconteceu neste final do ano: milhares de cidadãos, provenientes da capital e não só, decidiram ir passar a quadra festiva na Ponta do Ouro…
Se antes havia “só” o Bilene, agora temos também a Ponta do Ouro – foi o que certamente muitos pensaram…
Operadores turísticos desapontados
O que ocorreu, contudo, é que a grande maioria das pessoas que se fizeram àquela zona de lazer, provavelmente ciente dos preços que por ali se praticam, optou por levar o seu próprio “farnel” e as suas próprias bebidas, em “coleman”.O descanso – se é que houve – foi no interior das respectivas viaturas, ou mesmo nas douradas areias das belas praias.
Só que, como é sabido, não é só de “comida, bebida e dormida” que necessita o ser humano. Existe a higiene pessoal e as necessidades biológicas, de toda a espécie, que precisam de ser (satis)feitas…
E foi nesse contexto que os “forasteiros”, sem respeitar a normal “funcionamento” da vila, cometeram os excessos supracitados.
Se os agentes económicos já estavam agastados com o facto de as pessoas virem de Maputo com os seus próprios pertences – e nada gastarem nos seus estabelecimentos – mais ainda ficaram depois dos actos (quase) vândalos por estes praticados.
Como se não bastasse, de acordo com uma fonte por nós contactada, este ano o número de turistas sul-africanos que normalmente se faz à Ponta do Ouro pela fronteira de Kosi Bay reduziu consideravelmente…
Logo, para os agentes económicos a nova ponte e a auto-estrada – pelo menos no concernente a este fim-do-ano – constituiu uma espécie de “azar 2-in-1”.(Homero Lobo)