Teve lugar, nos dias 21, 22 e 23 de Junho de 2023, a XVIII Conferência Anual do Sector Privado, vulgarmente conhecida por CASP. Foi um momento ímpar de interacção entre o sector público e privado, pese embora o sector público me pareceu bastante “ocupado” com as agendas do sector que, obviamente, não contavam com esta conferência. Estranho, porém, o facto de o Presidente da República ter anunciado a disponibilidade dos seus Ministros e vice-Ministros, mas, provavelmente, não os tenha “consultado”. Mas é necessário consultá-los! Fica a pergunta.
Nesta reflexão, pretendo cingir-me nas intervenções do Presidente da CTA – Confederação das Associações Económicas de Moçambique e do Presidente da República. No seu discurso de abertura, o Presidente da CTA, Agostinho Zacarias Vuma conseguiu, na minha opinião, de forma educada e inteligente, diga-se, colocar ao Presidente da República os assuntos mais periclitantes que inquietam o sector privado e, como era de esperar, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, reagiu às preocupações deste com bastante inteligência e sem nenhuma animosidade. Foi bom ouvir.
A XVIII CASP decorreu sob o lema “Transformação, Sustentabilidade e Inclusão para a Competitividade Industrial de Moçambique”, sendo que as grandes preocupações do sector privado apresentadas são:
1) Atraso no pagamento das dívidas de empreitadas e fornecimento de bens e serviços e, em 2022, representavam 46 mil milhões de meticais. Neste particular, o sector privado apresenta:
a) Criação do limite máximo de acumulação dos atrasados;
b) Que o Orçamento Geral do Estado inclua uma rubrica específica para pagamento de facturas em atraso.
2) Reembolso do IVA
a) No ano de 2022, deram entrada um total de 904 processos de pedido de reembolso do IVA, totalizando 25,6 mil milhões de meticais;
b) Foram somente autorizados 96 processos que, em termos de valores, representam 21%;
3) Inflação:
a) Um aspecto relacionado à inflação é o excesso de liquidez no sector bancário reportado pelo Banco de Moçambique que, desde Janeiro de 2022, se situa numa média de aproximadamente 60 mil milhões de Meticais. Aqui, o que nos preocupa é o facto deste excesso de liquidez não estar a fluir para as indústrias e, ao mesmo tempo, o Banco de Moçambique oferecer instrumentos de investimento aos bancos (bilhetes de tesouros e operações reversíveis), através dos quais estes fazem a rolagem da liquidez excessiva, preterindo assim a concessão de crédito à indústria, bem assim à economia no geral.”
b) “Adicionalmente, temos a destacar os níveis elevados das taxas de juros que desestimulam os investimentos, associados a uma postura de política monetária não consentânea com a facilitação de financiamento ao sector empresarial.”
c) Neste ponto, temos a assinalar o efeito nocivo do incremento dos coeficientes de reservas obrigatórias em magnitudes históricas (2800pb e 2850pb para moeda nacional e moeda estrangeira, respectivamente), num horizonte temporal de apenas cinco meses. Esta decisão torna as condições de liquidez bastante restritivas para o sector bancário, tanto do ponto de vista de quantidade assim como de preço, considerando que os bancos irão repassar este choque através do racionamento do crédito e incremento dos spreads.
4) “Assim, propomos que o Banco de Moçambique crie um sistema de compensação aos bancos comerciais que aplicassem a Prime rate com um spread negativo, previamente definido, para a agricultura e indústria, particularmente agroindústria. Isto poderia ser materializado através de uma taxa de reservas obrigatórias mais baixa para os bancos que investem na agricultura; e/ou dedução de reservas obrigatórias do crédito que for concedido para o sector da agroindústria baixa. A nossa proposta é que este quadro de política monetária possa ser implementado para se atingir uma taxa de juro de 8% a 12% para produção alimentar, processamento e industrialização. Os ganhos desta política poderiam ser altos, desde a redução da importação dos cerca de 2,1 mil milhões de dólares na Balança de pagamentos, redução da pressão cambial, o que contribuiria para controlar a inflação.”
5) Sobre a Carga Tributária:
a) Queremos pedir, aqui, ao Governo para colocar uma mão e travão ao que chamamos de “taxas e taxinhas”. Desde os municípios, Distritos, Províncias, Ministérios e instituições autónomas como institutos e tribunais, de forma simultânea, têm estado a introduzir novas taxas ou agravar as existentes. Este tipo de acção vai em contramão com o que VEXA, Senhor Presidente da República, decidiu fazer através do PAE.
Em reacção, o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, disse:
1) Criação de um grupo de trabalho para lidar com matérias de reforma que preocupam o sector privado;
2) Mapeamento das indústrias existentes em Moçambique e o que é necessário para a sua revitalização, incluindo a área do Açúcar. O Presidente da República indicou, por exemplo, a Mabor, que fabricava pneus e se questionou: “porque não pode produzir os pneus se já produziu antes!”;
3) Mostrou a sua total disponibilidade em trabalhar para reduzir e/ou acabar com tudo aquilo que impede o progresso do sector privado e da nossa economia em geral de progredir;
4) Recomendou os seus Ministros e vice-Ministros que, sem tabu e sem qualquer preconceito, tenham mente aberta para ouvir e anotar as preocupações do sector privado e disse:
5) Fiquem disponíveis nestes dias da CASP.
Bom, quer me parecer que vários Ministros e respectivos vice-Ministros desobedeceram ao Presidente da República neste quesito de disponibilidade para interagir com o sector privado, salvo o da Indústria e Comércio, talvez, por ser a ponte de diálogo.
Adelino Buque
“Penso que será de interesse de muitos colegas que têm negócios em Moçambique entender e distinguir entre o crescimento do negócio, o seu progresso e sucesso no negócio. À partida, parecem sinónimos, mas não são. Têm conceitos diferentes e julgo que vale a pena saber, por isso trago aqui e agora o meu contributo”.
AB
Hoje, nas redes sociais, deparei-me com uma abordagem que me levou a reflectir e, por isso, pretendo partilhar com os colegas da área empresarial e não só. De acordo com o que encontrei, o crescimento do negócio em si só não significa, necessariamente, o sucesso, assim como o progresso no negócio também não significa sucesso. A questão que se coloca então é: o que é sucesso nos negócios?
De acordo com a abordagem que encontrei hoje e que trago aos estimados amigos, o crescimento do negócio é tão somente a soma de produtos comercializados, em que se pode partir de 10 para 50 e progressivamente para 100 e diante. Aqui estamos perante um crescimento do negócio. Para termos o sentido de progresso no negócio, é imperativo adicionar valores como sejam a ética, a disciplina, honestidade e normas. Então veja o conceito que se tem disso:
Ética: “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade. Se ao caminhar por uma via pública, uma pessoa estiver com alguma embalagem que pretenda se desfazer, pela ética ela deve jogar esta embalagem no lixo. Isso seria o correcto tanto pela ética quanto pela moral.”
Disciplina: “é a obediência ao conjunto de regras e normas que são estabelecidos por determinado grupo. Também se pode referir ao cumprimento de responsabilidades específicas de cada pessoa. Conjunto de leis ou ordens que regem certas colectividades. Obediência a um conjunto de regras explícitas ou implícitas. Submissão e obediência à …”
Honestidade: “qualidade ou carácter de honesto, atributo do que apresenta probidade, honradez, segundo certos preceitos morais socialmente válidos. Característica do que é decente, do que tem pureza e é moralmente irrepreensível; castidade.”
Norma: “Uma norma é uma regra que deve ser respeitada e que permite ajustar determinadas condutas ou actividades. No âmbito do direito, uma norma é um preceito jurídico”.
Para que haja sucesso no negócio, deve se reunir as questões relacionadas com o crescimento e com o progresso, sendo adicionada a humanidade, a moral e a espiritualidade.
Humanidade: “conjunto de características específicas à natureza humana. "A animalidade e a h. residem igualmente no homem" sentimento de bondade, benevolência, em relação aos semelhantes, ou de compaixão, piedade, em relação aos desfavorecidos”.
Moral: já a moral está relacionada com o conjunto de regras aplicadas no cotidiano por cada cidadão, conforme seu próprio entendimento entre o que é certo ou errado.”
Espiritualidade: “pode ser entendida como o conjunto de crenças que traz vitalidade e significado aos eventos da vida. É a propensão humana para o interesse pelos outros e por si mesmo. Ela atende à necessidade de encontrar razão e preenchimento na vida, assim como a necessidade de esperança e vontade para viver”.
Chegado aqui, espero ter contribuído para melhor interpretação do que é efectivamente sucesso nos nossos negócios, que não se pode considerar sucesso o simples facto de estar a vender muito se não se adicionam outros valores.
Adelino Buque
“No dia 01 de Junho de 2023, através da Rádio Moçambique, acompanhei a transmissão do Café da Manhã, em que as crianças tinham o papel de transmitir as Notícias do dia e fizeram-no com perfeição. Lamentável é a reacção ligada às instituições de criança e género que se comportaram como autênticos papagaios, repetindo as mesmas coisas e muitas vezes sem nexo. Falavam de sensibilizar a criança da rua, de chamar atenção sobre os seus direitos e que deve voltar ao convívio familiar para se beneficiar desses mesmos direitos”.
Sensibilizar a criança que é chefe de família a não fazer trabalhos para o auto-sustento? Criança que é órfã de pai e mãe a nada fazer porque é menor. Sensibilizar a criança separada dos progenitores devido à guerra para que saiba dos seus direitos, mas que direitos! Aos Jovens de ambos os sexos, tenham responsabilidade na vida sexual e reprodutiva, hoje, existem várias formas de satisfação sexual sem engravidar, por favor!”
AB
“Esta efeméride assinalou-se pela primeira vez em 1950 por iniciativa das Nações Unidas, com o objectivo de chamar a atenção para os problemas que as crianças então enfrentavam. Neste dia, os Estados-membros reconheceram que todas as crianças, independentemente da raça, cor, religião, origem social, país de origem, têm direito a afecto, amor e compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação gratuita, protecção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de paz e fraternidade.
Oficialmente, o dia é assinalado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a 20 de Novembro, data em que no ano de 1959 foram aprovados pela Assembleia-Geral da ONU os Direitos da Criança. Na mesma data (20 de Novembro), mas no ano de 1989, foi adoptada pela Assembleia-Geral da ONU a Convenção dos Direitos da Criança, que Portugal ratificou em 21 de Setembro de 1990.[8]”
in internet
Hoje, dia 01 de Junho de 2023, celebra-se o dia da criança. Trata-se do dia internacional da criança instituído pelas Nações Unidas em 1950, pese embora as mesmas Nações Unidas considerem de mais relevante o 20 de Novembro de 1959 por ser a data que a Assembleia Geral adoptou e aprovou os Direitos da Criança. O importante mesmo é termos as motivações que levaram esta instituição multilateral a aprovar a data que, certamente, muitas nações, como Moçambique, se tivéssemos o activismo activo, se instituiria uma data própria de Moçambique porque, infelizmente, as nossas crianças não podem dizer que gozam dos direitos consagrados na carta das nações.
Sim, a criança moçambicana não goza dos direitos da criança consagrados na Carta das Nações Unidas e as instituições criadas para o efeito estão repletas de gente que, na minha opinião, não tem noção sequer das suas reais obrigações. Repetem aquilo que está consagrado na carta das Nações Unidas para uma realidade totalmente diferente, uma realidade de crianças a sofrerem com a guerra, com casamentos prematuros, com abandono pelos pais, crianças órfãs de pai e mãe, crianças abandonadas pelos pais deixando-as com parentes e ou avós. É, pois, o cenário da criança moçambicana.
Se o cenário descrito abaixo é o real de Moçambique, o trabalho que dizem fazer as instituições ligadas às crianças serve para quê! Sim, mobilizar as crianças órfãs de pai e mãe para não trabalhar para ganhar sustento!? Sensibilizar as crianças abandonadas pelos progenitores a não fazerem nada para o auto-sustento e irão viver de quê!? Sensibilizar a criança chefe de família, com tenra idade, sobre os seus direitos, não acham que isso é pura utopia?! Haja criatividade, haja inovação e capacidade de adaptação à nossa realidade, em função dos reais problemas vividos pelas crianças moçambicanas e em Moçambique. Deixemos de ser repetidores, por favor.
Noutras ocasiões falei sobre a demagogia de difusão de direitos das crianças sem deveres, mas porque a criança Moçambicana, apesar de propalar-se direitos, mais de metade não tem sequer o básico para a sua sobrevivência, quanto mais falar dos direitos da criança, que é o mesmo que falar de alimentação condigna, protecção dos pais, brincar e estudar. são muitas as crianças que gostariam de brincar, de ir à escola, de ter uma alimentação adequada à sua idade entre outos, mas que não tem. Sejamos francos.
A questão é se as instituições estatais podem mudar este e outros cenários de precaridade? A resposta é que não, mas podem adaptar a sua linguagem de comunicação à real situação de Moçambique, para não se ser ridículo, não faz sentido falar de direitos que estão bastante distantes das pessoas, direitos que, à partida, sabemos que não são realizáveis. Repito e com todo o respeito, deixemos de ser repetidores dos direitos das crianças de outras galáxias, coloquemos os pés no chão!
Adelino Buque
Na recente visita do Presidente da República de Moçambique ao Zimbabwe, foi lançada a pedra para a edificação de um Museu denominado Samora Machel, com o objectivo de valorizar os feitos heroicos deste e, acima de tudo, render-se homenagem aos Libertadores de África. Na minha opinião, antes tarde do que nunca, pois Samora Moisés Machel merece isso e muito mais por toda a região da África Austral e no mundo. Moçambique foi dos poucos países que aplicou as sanções Económicas decretadas pela ONU contra a Rodésia de Ian Smith e os prejuízos causados à nossa Pátria estão, de forma geral, na caixa abaixo.
“No relatório da Comissão Nacional do Plano de 1984, estimava-se em cerca de 556 milhões de dólares o custo total dos prejuízos dos quatro anos que precederam a independência do Zimbabwe. Por seu turno, o Conselho Económico e Social das Nações Unidas estimou os custos entre £70.000.000 e £82.000.000. Alguns países responderam ao apelo das Nações Unidas para a ajuda económica de Moçambique, mas no geral a sua contribuição foi muito insignificante para reparar os danos causados. Foi neste contexto que em 1979 os países capitalistas avançados providenciaram 70,6 milhões de dólares, ou seja, 24,7% de toda a assistência prestada, a Escandinávia o equivalente a 50,5%, os Estados Árabes 23,2% e os países socialistas cerca de 0,3% do total.”
In Joel das Neves Tembe, Cadernos da História de Moçambique, UEM
Devo referir que a adesão da República Popular de Moçambique às sanções decretadas pela ONU foi consciente e tinha a noção dos prejuízos que adviriam desse acto. Moçambique tinha contabilizado tudo e acreditava nas promessas de apoio por parte dos países desenvolvidos e não só. Veja-se o Relatório apresentado na Organização da Unidade Africana em 1976.
“Entretanto, o relatório do governo de Moçambique apresentado ao Conselho de Ministros na 27ª Sessão Ordinária da OUA em 24 de Junho de 1976 indicava os seguintes problemas e consequências:
Que 2/3 das actividades do Porto da Beira e 1/5 do Porto de Maputo serviam os interesses da economia rodesiana;
O número de trabalhadores ferro-portuários era estimado em 30.000, dos quais se devia
acrescentar outros 6000 empregados nas agências directamente envolvidas nestas actividades;
Os trabalhadores de Moçambique nas áreas fronteiriças que formalmente trabalhavam na Rodésia, agora em Moçambique à procura de emprego podiam ser estimados em 37.000;
Na Rodésia existiam 8000 trabalhadores com trabalhos sazonais e outros 80.000 com empregos fixos;
O encerramento da fronteira com a Rodésia resultava em perdas nos rendimentos do tráfego de mercadorias de e para a Rodésia e os outros territórios do interior na ordem de 72 milhões de dólares para o ano de 1976;
A aplicação de sanções resultava na perda de montantes avaliados em um milhão de taxas de aeroporto, 10 milhões por ano de serviço de carga, 750.000 de linhas aéreas;
Que o turismo estimado em 50.000 turistas/ano sofreria perdas no valor de 4,5 ou 5,5;
As exportações e importações com a Rodésia em 1975 eram estimadas em 5 milhões e 20 milhões respectivamente; segundo os resultados da Missão das Nações Unidas as perdas anuais em exportações eram calculadas em 3 milhões por ano e o aumento do preço das
importações era de 10 milhões; o défice total do comércio era estimado em 16 milhões, enquanto a balança de pagamentos sofria uma oscilação de 175 a 200 milhões de dólares nos dois anos seguintes;
Em termos financeiros Moçambique iria sofrer perdas no valor de 110 a 135 milhões;
A estas perdas se juntavam-se os problemas com as telecomunicações e com a água e energia eléctrica na região de Manica e Espungabera”;
in Cadernos da História de Moçambique.
Conclusões
“Qualquer conclusão a apresentar teria de ser feita com um carácter preliminar, pois as grandes dificuldades no acesso a fontes primárias documentais e a necessidade de realizar entrevistas com as populações alvo constituíram as grandes limitantes. Todavia, depreende-se neste estudo o papel histórico que assumiu a posição tomada por Moçambique na alteração da correlação de forças na região a favor do movimento de libertação.
Não se tratou apenas de um simples encerramento de fronteiras, mas sobretudo de tomar posição no xadrez político e ideológico regional.
Por esta atitude, Moçambique transformou-se na principal vítima das sanções ao ver as suas escassas infra-estruturas a serem destruídas. Moçambique como país periférico e historicamente integrado no subsistema económico dominado pelos seus inimigos não poderia evitar ser a principal vítima. Este é o caso típico em que as sanções prejudicam a terceiros.
A aplicação de sanções à Rodésia para além de ter contribuído, em termos gerais, para a definição de um novo mapa ferroviário na região, ao se procurarem alternativas para os países do hinterland, consolidou a hegemonia da economia sul-africana, em particular do seu sistema ferro-portuário, sobretudo a partir de 1977 com o apetrechamento de Richards Bay e com a rápida instalação do sistema de contentorização.”
In Cartas da História de Moçambique, ©Joel das Neves Tembe
Departamento de História
Hoje propus-me a fazer a reflexão, trazendo dados e informação produzidos no tempo em que Moçambique decidiu aderir às sanções. Muitos poderiam pensar que foi uma decisão emocional, até porque alguns países beneficiários da benevolência de Moçambique não têm dado mostras de reconhecimento a Moçambique do sacrifício que consentiu para a libertação destes Países do sistema do Apartheid e do colonialismo interno, como foi o Zimbabwe.
Como consequência deste posicionamento dos beneficiários da nossa solidariedade, muitos moçambicanos se questionam sobre porquê Moçambique aderiu a uma luta de outros com consequências desastrosas para o País. Veja a satisfação de Samora Machel pela libertação do Zimbabwe.
“Ainda muito antes da independência nacional, o povo moçambicano não hesitou em verter o seu suor e seu sangue para apoiar a luta do povo irmão do Zimbabwe. Para que o Zimbabwe fosse livre, o nosso povo sofreu massacres, agressões, destruição sistemática de seus bens, actos de terrorismo e de subversão sem que, por um só momento, vacilasse a sua determinação.
Pelo contrário, a cada golpe do inimigo, mais se reforçava a nossa convicção de que só seríamos totalmente independentes quando o Zimbabwe fosse livre”.
In Samora Moisés Machel.
Por isto e muito mais, que o digam as províncias como Manica, Sofala o quanto sofreram com a guerra movida pelo “TABAQUEIRO” Ian Smith, enfim, a história vai se acertando aos poucos e, por isso, congratular o Governo do Zimbabwe.
Adelino Buque
“Os quatro jovens que colocaram a placa nomeando uma rua de “AZAGAIA” foram todos recolhidos para as celas e a placa foi removida”
In Adriano Lázaro, Facebook
“Desde já, manifesto minha solidariedade para com os jovens detidos e encarcerados nas celas, ao mesmo tempo que manifesto o desejo de correcção dos métodos que se deve usar para atingir um determinado objectivo. Não basta eu acordar e decidir que as coisas devem ser assim ou assado, sobretudo, quando a coisa entra na esfera pública. Uma coisa é eu adorar e admirar alguém, outra, bem diferente, é fazer com que a pessoa que eu adoro seja adorada por todos ou pela maioria e merecer espaço no lugar público. Haverá que se fazer algum percurso para que tal desiderato aconteça e, no caso da Toponímia, as regras existem e são conhecidas. Finalmente, um apelo às autoridades, ainda que reconheça que os jovens não seguiram os trâmites da toponímia, por favor libertem-nos e eduquem-nos!”
AB
Herói “homem ilustre por feitos guerreiros ou de grande coragem, protagonista de uma obra literária ou cinematográfica etc.”
Heroico “próprio de herói, que denota heroísmo, enérgico, muito eficaz, ousado, diz-se de verso de dez sílabas com acento predominante na 6ª e na 10ª, designativo de estilo ou do género literário em que se celebram façanhas de herói”
In Dicionários do Estudante, Porto Editora.
Na manhã de 15 de Maio de 2023, vejo nas redes sociais que “quatro jovens foram recolhidos às celas”. Motivos: decidiram nomear uma Rua de AZAGAIA e a reacção dos internautas não se fez esperar. Alguns consideram os quatro jovens de “presos políticos” outros simplesmente escrevem nos comentários “é o País que temos” e pura e simplesmente, ficam-se por aí. O que julgo não ajudar para o aprofundamento de debates sobre o nosso pensamento individual e/ou colectivo.
Não existe nada de errado em um grupo de pessoas, devidamente identificado, decidir propor que o nosso ícone da música moçambicana ora falecido seja indicado como Herói. É claro que não será nada fácil, sabemos todos que as coisas não funcionam assim entre nós. Sabemos que, regra geral, quem identifica os Heróis é um determinado grupo seleccionado a “dedo” e sob orientações superiores do Governo do dia e “penetrar” nesse meio não é fácil, mas nem por isso deve-se menosprezar a sua existência. Deve-se começar pelo princípio e, caso não se dê ouvidos, entra-se por esta via da confrontação e não partir do princípio da confrontação!
Apesar de reconhecer a dificuldade de “penetração” não se deve encorajar a “rebeldia” porque, na minha opinião, as pessoas que encorajam ou que encorajaram esses jovens a enveredarem por essa via, hoje e neste momento, estão assistindo via Facebook, Whatsap e outros meios a sorte dos mesmos. Provavelmente, irão aparecer nas TVs a falarem da falta de “liberdade” em Moçambique, esquecendo que existe uma diferença entre a Liberdade e a Libertinagem ou anarquia. Pouco se importam porque quem sofre não são eles, mas os quatro jovens recolhidos às celas.
Admirar alguém, adorar alguém, qualquer um pode o fazer, mas o faz no recanto da sua casa, entre amigos e/ou grupo de pessoas. Mas quando essa admiração se pretende “impor” que todos o façam, transcende o direito de liberdade e passa a ser ditadura. Qualquer um não deseja ser imposto seja lá o que for. Diz a máxima que “a tua liberdade termina onde começa a liberdade do outro” por isso eu julgo que, no lugar de “Heroicizar” os quatro jovens, deve-se aconselhar sobre que procedimentos devem ser seguidos para se atingir um determinado objectivo e, caso não sejam ouvidos, poderem enveredar por outras vias.
Esta minha reflexão pode não merecer a atenção e respeito de muitos, sobretudo, aqueles que enveredam pelo uso do “sensacionalismo”, aqueles que gostam de confrontar-se com as autoridades estatais, que gostam de publicitar as incapacidades institucionais, esquecendo-se que essas instituições são nossas e a nós cabe capacita-los para melhor servir-nos. Vamos criticar sim, mas não vamos fazê-lo simplesmente para aparecer, devemos fazê-lo dentro de um quadro de legalidade e de justiça, partindo do princípio de que “não faça a outro o que não gostaria que te fizessem a ti”.
Aos jovens detidos, vai a minha solidariedade e correcção, solidariedade porque, na minha opinião, a prisão é o último recurso a ser usado pelo estado e acontece porque o indivíduo se mostrou recalcitrante e não me parece que seja o caso desses quatro jovens, salvo melhor opinião. Correcção porque, na minha opinião, no lugar de prisão, merecem ser corrigidos e orientados sobre os seus desejos, mostrando-lhes os caminhos a seguir para conseguirem esse desiderato. Não se deixem enganar jovens, a pátria é vossa e o futuro vos pertence!
Adelino Buque
“Do trabalho realizado, constatou-se existirem evidências que indiciam ilícito eleitoral. Como medida imediata, foram rescendidos os contratos com os três envolvidos e aberto um processo-crime e, neste âmbito, o Ministério Público vai fazer o seu trabalho”
Luís Cavalo, Director Provincial do STAE, in Carta de Moçambique
“Segundo o Instituto Nacional de Estatística, o recenseamento eleitoral irá abranger perto de 9.9 milhões de cidadãos e perto de 2.8 milhões são das províncias da Zambézia e de Nampula, curiosamente, locais onde se registam os ilícitos eleitorais até aqui publicitados. Isto é preocupante por duas razões: uma, porque a não se parar com estes actos, poderemos vir a ter eleições problemáticas do ponto de vista de liberdade de escolha, de justiça eleitoral e de transparência dos vencedores. Entretanto, existe um dado a não menosprezar: os vencedores destas autarquias estarão melhor posicionados para as eleições gerais para as Presidenciais, Assembleia da República e Provinciais de 2024. Vamos a tempo, unamo-nos por eleições Justas e Livres!”
AB
O recenseamento eleitoral de raiz para as sextas eleições autárquicas de 2023, nas sessenta e cinco Autarquias locais, que decorre de 23 de Abril a 03 de Junho, está a registar muitos ilícitos eleitorais que já levaram à rescisão de contrato com pelo menos um Director Distrital, um Supervisor e um Digitador. Estes foram encontrados a fazer o recenseamento fora do território Autárquico, a 40 km de Ribáuè, às 21:00 horas, recordando que o recenseamento eleitoral de raiz deve acontecer no território das 65 Autarquias, das 8:00 horas às 16:00 horas.
Nota importante é que o recenseamento eleitoral, nas 65 Autarquias locais, prevê, de acordo com os dados fornecidos à CNE pelo INE, recensear perto de 9.9 milhões de eleitores, sendo que, destes, 2.8 milhões nas províncias da Zambézia e de Nampula, curiosamente, locais onde estão a ser registados os ilícitos eleitorais e alguma perturbação de ordem pública nos centros de recenseamento, demostração clara de que será nestas Autarquias onde se vai disputar, de forma renhida, a Governação Autárquica. Pode ser também uma amostra dos resultados das eleições gerais de 2024, para a Assembleia da República, Presidenciais e das Assembleias Provinciais.
Um dado interessante a reter neste processo é que as previsões do custo das eleições foram actualizadas em alta, saindo dos 3.2 mil milhões para 14 mil milhões de meticais. Esta actualização, segundo Lucas Manjaze do STAE, resulta da Nova Tabela Salarial para os funcionários do Estado, do custo dos materiais e de novas Autarquias criadas recentemente pelo Governo de Moçambique. São dados que, sem dúvidas, mostram o quão é cara a democracia em Moçambique, quiçá, em todo o mundo, que, segundo os entendidos na matéria, não sendo propriamente um sistema perfeito, é o melhor na actualidade para a escolha e alternância do poder.
Nesta reflexão, pretendo analisar as várias situações que acontecem por quase todo o território nacional, nas zonas autarcizadas e não só, uma vez que o recenseamento eleitoral, de acordo com as informações que circulam, com mais relevância para o caso de Ribáuè, estão a acontecer em territórios não autarcizados, o que aumenta a preocupação sobre a ordem e a tranquilidade públicas, pois, em muitos casos, são as pessoas singulares que detectam e denunciam esses ilícitos eleitorais. Isso indicia que, caso não sejam tomadas medidas enérgicas contra esse comportamento, poderemos ter eleições autárquicas péssimas, do ponto de vista de transparência e liberdade.
Uma nota curiosa é que as pessoas vêm acusando o Partido Frelimo de “patrocinar” esses ilícitos e, como é público, este Partido, na Província de Nampula, veio a público manifestar o seu desgaste com essas informações, ao mesmo tempo que se distancia desse comportamento de alguns membros do STAE a nível local e Provincial. Ou seja, o Partido Frelimo não tem, em absoluto, nada a ver com as recorrentes denúncias sobre os ilícitos no recenseamento eleitoral, o que pode significar que as pessoas indicadas para representar o STAE, quer localmente ou a nível Provincial, agem por conta e risco pessoal, com o intuito de “mostrar serviço”, o que é de todo mau!
Ora, estamos perante um assunto sério, as pessoas que agem dessa forma devem parar de o fazer, sob pena de criar as perturbações na ordem e tranquilidade públicas nas zonas onde vão decorrer estas eleições. O nosso território precisa de uma Paz social séria e definitiva, precisa de reconciliação no verdadeiro sentido, precisa de tolerância entre os moçambicanos independentemente da sua filiação partidária. Ora, estes ilícitos eleitorais, a continuarem a acontecer, irão, sem dúvidas, dividir moçambicanos pela sua filiação partidária, o que não é desejável. Unamo-nos por eleições, Justas, Livres e Transparentes, isso é possível.
Adelino Buque
“Ódio mortal ou ódio figadal. Sentimento de ódio muito intenso e leva uma pessoa a desejar a morte de outra. (sentimento de profunda inimizade, aversão instintiva direccionada a; antipatia, repugnância)”
In Dicionário Online
A morte do músico Azagaia despertou, na sociedade moçambicana, um dos sentimentos mais perigosos da existência humana, o Ódio. A ideia com que fico, posso estar errado, é de que muitos estão interpretando erradamente aquilo que foi o pensamento do próprio músico Azagaia em termos de políticas internas nacionais. O pensamento do músico Azagaia, na minha opinião, é fruto da primeira República de Moçambique, proclamada e dirigida por Samora Moisés Machel, a denominada República Popular de Moçambique.
Uma das frases de que é lembrado o músico Azagaia é “Povo no Poder” e Samora Moisés Machel teria em seu tempo dito: “façamos da escola, a base para o povo tomar o poder” e esta frase era como que palavra de ordem, podia ser vista em estabelecimentos escolares e outros lugares de interesse público e repetia, “Povo no Poder”. Depois de Samora Moisés Machel, quem teve sempre em mente esta palavra de ordem é também o saudoso Marcelino dos Santos, que, em quase todas as suas intervenções, colocava a ideia de que o povo deve estar acima de qualquer pensamento e filosofia partidária.
Dito isto, quero chamar a atenção daqueles que, hoje, falam do músico Azagaia como sendo o cidadão que esteve contra a Frelimo, não! Azagaia nunca esteve contra a Frelimo, esteve, isso sim, contra o “desvio” político que a Frelimo teve e creio contínua, com a morte de Samora Machel e a entrada da economia do mercado acompanhado do multipartidarismo. Pode parecer curiosa esta reflexão, quando me refiro ao multipartidarismo, mas é pura verdade, a ideia do povo no poder não é, no meu pensamento, aplicável numa economia do mercado, onde o poder é por excelência dominado pelo capital!
O músico Azagaia nunca foi simpatizante da Renamo e nem do MDM. Para Azagaia, todos os partidos políticos eram “farinha do mesmo saco” cujo interesse é chegar ao poder para se apropriar do bem comum e o testemunho disso é que a nossa Assembleia da República, constituída por três Bancadas, quando se trata de benefícios para eles, são unânimes e “Fingem” discordância quando se trata de legislar no interesse público. veja-se as últimas manifestações do partido Renamo na Assembleia da República, veja-se o abandono do partido MDM da sala de sessões. Mostra que, efectivamente, não há interesse de debate do que pode beneficiar o público.
Pessoalmente, sempre tenho escrito e defendido que, se quisermos continuar como um País “uno e indivisível”, devemos rever a oportunidade das eleições Distritais que, pessoalmente, penso que será um fim da República e a criação de pequenos “Batustões” à semelhança da África do Sul do Apartheid. A ideia não é que não se venha implementar as Autarquias Distritais, a questão é a oportunidade da sua implementação e o impacto Sócio-político e Económico que isso trará. Interessa-nos ou não a questão é lutar pelo poder a qualquer custo!
Virão os legalistas dizer: “a Constituição da República é de cumprimento obrigatório” e eu retrucaria questionando: mesmo que nos estejamos precipitando ao abismo!? Não creio que seja assim, é verdade que a Frelimo tem e continuará tendo seus próprios “pecados” de que resulta a falta de confiança entre as partes, mas não creio, certamente, que seja este caso: pensar no terceiro mandato de Filipe Nyusi!? Creio que essa parte cabe ao partido Frelimo decidir, nenhuma sociedade civil poderá impedir, legalmente, se a Frelimo assim o desejar, pois, usará as armas de que dispõe, quer na Assembleia da República, quer no processo de Governação. Por isso não é por aí, na minha opinião, aliás, a aprovação, pela Bancada Parlamentar da Frelimo, da Lei que altera o período da convocação das eleições gerais, das Assembleias Provinciais e da República é disso testemunha.
O caro leitor questionará: então a sociedade civil deve manter-se calada e impávida perante esse comportamento? A resposta é que não, a sociedade civil deve, de forma estruturada e organizada, interpelar os partidos políticos, para persuadi-los sobre o mal que determinadas decisões podem acarretar. A sociedade civil deve, na minha opinião, sensibilizar a sociedade para o despertar sobre determinadas matérias e seu alcance para que não prejudique a própria sociedade. Isso sim, penso que pode ser o papel da sociedade civil.
“Nenhum Moçambicano, depois de Mondlane e Samora, viu seu ideário de combate político, de verticalidade e cidadania, ser reconhecido no estrangeiro, tornando-se fonte de inspiração de novas lutas contra a opressão e a marginalização dos povos. Só Azagaia. Ele tornou-se no terceiro grande símbolo da moçambicanidade. Quando a história deste País for reescrita, esta verdade será registada”
In página de Marcelo Mosse
“No (Debate da Nação) da STV, um jovem questionou sobre a forma como os músicos moçambicanos são tratados, referindo que alguns almoçam com o Presidente da República, fruto das suas intervenções musicais e outros são convocados para a PGR – Procuradoria-Geral da República. Salvo melhor entendimento, o convocado para a PGR eras tu Azagaia, fruto das tuas músicas de intervenção social, fruto da tua verticalidade e de nunca te vergares perante o poder político. Hoje, parece-me que esse poder político pretende, a título póstumo, reconhecer o valor das tuas intervenções. Nunca é tarde, o teu corpo será velado no Município de Maputo, na capital de Moçambique!”
AB
Quando em vida, não somos capazes de reconhecer as pessoas que muito fazem para que tenhamos uma sociedade melhor, não creio que qualquer homenagem valha a pena. Quando o sistema político te considera pessoa “inconveniente” e, porque faleceste, procura a todo o custo elevar o teu nome a um patamar de quem muito fez pelo País, simplesmente, porque se apercebe que tu eras importante para a maioria, essa acção pode roçar a ridículo!
O músico Azagaia, muitas vezes, foi mal interpretado, devido às suas músicas de intervenção na sociedade. Azagaia cantava o País real e, muitas vezes, incómodo para os políticos, sobretudo, políticos no sistema de governação. Mas para o músico Azagaia, todos os políticos eram “farinha do mesmo saco” procurando, sempre, tirar proveito da sua posição. Na verdade, quem não sabe que a oposição na Assembleia da República chumba quase tudo, mas quando se trata de debater sobre suas regalias, a aprovação é sempre por unanimidade. É a isso que se referia ou parte disso. De facto, os políticos são iguais, diferem somente na filiação partidária!
O músico Azagaia não cantava para receber elogios dos políticos ou do Governo. Nas suas músicas, Azagaia dava a voz aos pobres, aqueles que, sofrendo bastante no seu dia-a-dia, não sabiam como fazer chegar o choro desse sofrimento a quem de direito. Azagaia foi e será sempre porta-voz desse cidadão, cidadão pobre, analfabeto, subjugado pelo sistema político e sem beira e nem eira. Por isso, o povo chora a partida prematura do músico Azagaia, que nos deixa aos 38 anos de idade, uma fase em que ainda tinha muito para dar ao País.
Azagaia! Tu não morrerás jamais. Tu fazes parte do pequeno grupo de gente que pura e simplesmente não morre porque a semente que deixaste na terra é de tal sorte boa e alto grau de germinação que, não tardará, dará frutos e, no caso do Azagaia, os frutos esperados é o sentido de que a LUTA DEVE CONTINUAR até que haja justiça em Moçambique. A Luta deve continuar até que os recursos de que Moçambique é prenhe sirvam para todos os moçambicanos e não para meia dúzia de pessoas que se acham donos de Moçambique!
Moçambique é de todos nós, as suas riquezas, quer do solo ou do subsolo, pertencem a nós todos e por isso deve haver justa distribuição da mesma, através da criação de condições básicas para o desenvolvimento do País. Vista na perspectiva individual, a semente que deixaste irá germinar e dela colheremos bons frutos. Os jovens não irão aceitar a pobreza como destino “divino”, os jovens não irão aceitar a subjugação porque já sabem os seus direitos. Mais do que exigir emprego, irão exigir que a exploração de recursos naturais de Moçambique seja justa, transparente e distribuída de forma equitativa. A sua semente é prolífera Azagaia e de alto poder germinativo!
Hoje, terça-feira, 14 de Março de 2023, o povo irá despedir-se de ti, no Paços do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, local onde, eventualmente, nunca foste bem recebido e bem tratado como cidadão. Entretanto, a cedência desse lugar para a última homenagem mostra que os seus detractores se vergam perante si, aqueles que um dia te prenderam, hoje, sentem-se, eles próprios, pequenos perante a sua imagem e suas palavras. Aceite um Adeus Azagaia, Moçambique chora-te, mas o melhor choro será imortalizando as suas ideias, transformando-as em actos objectivos e concretos, a bem da sociedade e por uma sociedade onde o homem não explora o outro homem. Como dizia Samora Machel, “abaixo exploração do homem pelo homem” independentemente da sua origem, raça, classe social, religião etc. Adeus Azagaia.
Adelino Buque
“Passados trinta e nove anos, desde que a Depressão Tropical Domoina se abateu sobre a região Sul de Moçambique, com destaque a Província de Maputo, depois que as famílias se reergueram, comprando e criando novo gado, quer Bovino, Suíno, Caprino e Aves, hoje, a água volta a levar essa produção. As lições da passagem de Domoina não serviram para absolutamente nada! As Populações transferidas da zona de Mazambanine para se criar a Aldeia de Campoane sabem da lição, mas, hoje, teremos outras populações por reassentar, constituídas por aqueles que reocuparam as terras antes ocupadas por aqueles que estão em Campoane, com o olhar impávido e sereno de quem de direito e esse de direito não é o Município porque a Aldeia 25 de Setembro foi criada antes do Município”
AB
A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique, para a região Sul de Moçambique, está a materializar-se em forma, em alguns casos, de “dilúvio”, lembrando os acontecimentos do remoto ano em que a região de Maputo Província foi atingida pela Depressão Tropical Domoina que aconteceu no mês de Janeiro de 1984. Passam exactamente 39 (trinta e nove anos), com a diferença do mês em que o fenómeno se deu.
Lembro-me como se fosse hoje, na altura trabalhava no Umbeluzi, Mazambanine, como Técnico e tinha sob minha responsabilidade a produção agrícola (Hortícolas) e Criação de Porcos e Patos que, com a depressão, a água tudo levou. Nunca mais voltamos aos níveis de produção de então, em relação à criação de Suínos e Patos. Pura e simplesmente a empresa desistiu, não recomeçou com o negócio, que não era negócio na altura, mas servia para abastecer o Centro Social.
Este episódio lembra-me também que foi no ano de 1983 que conheci o Dr. Hélder Muteia, na altura Director da Pateira, ali onde hoje cresce um condomínio imponente. Aquele espaço, para quem não sabe, foi o centro de produção de patos. A Pateira tinha uma máquina de chocar ovos a que muitos produtores recorriam para a sua produção de aves. Creio que Hélder Muteia deixou de ser Director e a Pateira esfumou-se, não tenho certeza. Tenho certeza que naquele lugar não se produz mais patos e tenho a certeza que jamais se produzirá patos por conta do Condomínio que ali nasceu.
Triste é saber que, desde Janeiro de 1984, altura em que se deu a Depressão Tropical Domoina, que assolou o Sul de Moçambique, com realce nos Distritos de Matutuine, Boane, Moamba e Magude nada se fez para alterar ou prevenir os próximos eventos, para além da recepção, claro, dos donativos resultantes de apoio dos parceiros de Moçambique. Digo isto com tristeza, por exemplo, a ponte de Mazambanine, de que se fala quase sempre nos princípios de ano como intransitável, poderia ter beneficiado de elevação, não é uma ponte cumprida, localiza-se numa zona vital para a Cidade de Maputo e Matola, que é o Centro de Tratamento de Água, para além de empreendimentos agrícolas e pecuárias na zona.
Estou em crer que a situação piorou, ali no Bloco 2, onde se produzia Citrinos e tinha o Centro de empacotamento de Citrinos para a exportação. Virou uma garagem de viaturas e os campos de Citrinos “retalhados” a pedaços que não sei quem tira maior benefício daquilo. Para piorar, ergue-se por ali residências e/ou outros empreendimentos de cimento que hoje devem estar submersos na água, tal como se deu há 39 anos. Infelizmente, sempre que passo por ali olho com tristeza, como uma zona eminentemente agrícola pode ser transformada em tudo menos em lugar de produção agrária!
Devido às condições meteorológicas, não sei ainda como estará a zona de Umbeluzi. Ali, antes da entrada da vedação dos pequenos Libombos, uma zona igualmente agrícola por excelência, lembro-me que nos tempos áureos de produção de Citrinos, aquele bloco era reservado à produção de hortícolas pela mesma Empresa de Citrinos de Maputo. Hoje, há ali algumas residências que, na minha opinião, constituem um autêntico atentado às zonas de produção alimentar para alimentar as cidades de Maputo e Matola e isto mostra uma coisa muito simples, que nunca tivemos um plano claro e objectivo de zonear as áreas de produção, de habitação, para indústria, Pecuária e outros serviços, qualquer espaço serve para qualquer coisa.
Devo recordar também que, por causa da Depressão Tropical Domoina, nasceu a aldeia de Campoane, com os préstimos da Helvetas, na altura, o Director era o meu amigo Dinis que liderou o projecto da mesma Organização para o empoderamento das famílias através da criação de patos e de burros, os burros mais para a zona de Matutuine e Namaacha, na altura, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades sob direcção de Mahanjane identificaram, com outras estruturas claro, aquele espaço e não propriamente a zona do Belo Horizonte e havia razões fortes para isso.
Uma das razões é que a zona denominada hoje de Belo-Horizonte comporta áreas de passagem natural de água. Para o conhecimento de muitos, Belo-Horizonte não era o lado esquerdo para quem vai de Boane a Maputo, na verdade esse lado não oferece um Belo-Horizonte, o Belo-Horizonte é o lado direito na mesma direcção e era simbolizado pelo então Restaurante Belo-Horizonte. A área de delimitação da Aldeia de Campoane situa-se ali onde à esquerda na mesma direcção está implantada a Barraca Relva, do lado de Campoane e porque, exactamente por ali, entrando um pouco para o interior do Bairro, havia uma passagem de água natural que o projecto tratou de deixar e não parcelar.
Hoje, esse espaço encontra-se habitado e as consequências não se fizeram esperar. Para quem vai a Campoane e entra daquela Rua, o lado direito, depois de uns 150 metros, há o referido curso de água. Daquele lado, quando se está na zona da Igreja Universal, olhando para a frente, as pessoas que vivem por ali, por estas alturas, carecem de ajuda porque as suas residências estão inundadas das chuvas e da corrente de água que teima em por ali passar, são coisas que as autoridades competentes deixam acontecerem e nestas alturas não sabe o que fazer com os habitantes desses lugares, o que se seguirá depois desta calamidade? É a pergunta que não se quer calar e a resposta, eventualmente conhecida, nada!
“Ao assumir um compromisso de pagar um determinado valor no caso de qualificação e não fazê-lo, ao assinar um compromisso com os atletas em Argel e, chegados ao território nacional, considerar esse documento inválido e sem valor jurídico, o colectivo da FMF mostra que a FMF agiu sempre de má-fé, nunca teve intenção de remunerar os atletas pelo seu trabalho. Mais do que isso, ao criar uma comissão de inquérito para um caso em que ela será objecto de inquérito, mostra o jogo de antecipação, qual astúcia! Definitivamente, as atitudes da nossa FMF são próximas de um "gangsterismo" não é aceitável, devem cumprir com as promessas feitas aos jogadores. Honrem a vossa palavra, obrigado.”
AB
Os episódios acontecidos em Argel com a Federação Moçambicana de Futebol e a Selecção nacional, os “Mambas”, não dignifica Moçambique e tão pouco a própria Federação Moçambicana de Futebol. Longe disso, mais do que os seleccionados de Chiquinho Conde, a Direcção da Federação Moçambicana de Futebol é responsável por esses episódios tristes e lamentáveis que, para o bem do Futebol, devem ser erradicados no nosso seio.
Uma nota importante aqui a considerar, estando certo que o Presidente da FMF é o “cabeça” e quem lidera a Federação, a estrutura em si tem um carácter colegial, por isso, a minha reflexão não visa a pessoa de Sidat, mas, antes pelo contrário, o colectivo que compõe a FMF. A esse colectivo se deve responsabilizar por estes tristes episódios que aconteceram em Argel e que continuam no território nacional. Caros membros da Federação Moçambicana de Futebol, é triste e lamentável a forma como lidam com este caso de Argel.
É deveras lamentável que uma instituição como a FMF reúna via “virtual” num feriado nacional, dia consagrado aos Heróis Nacionais e decidir pela criação de uma comissão de inquérito e a suspensão de atletas da selecção. Esses senhores que estiveram reunidos deviam ter vergonha desse acto tão precipitado quanto irresponsável que tiveram. Reunir num dia normal da semana e de forma presencial não seria a forma mais responsável?! A decisão que tomaram, caso tomassem no dia 06 de Fevereiro de 2023, o que atrasaria! Não é compreensível que homens com responsabilidades como dirigir a FMF não tenham respeito pelos Heróis nacionais, é triste.
A FMF e os “Mambas” são partes do litígio
A Federação Moçambicana de Futebol e os “Mambas” são duas partes em litígio no caso do CHAN Argel 2022, por isso não faz sentido que uma das partes tenha o poder de criar uma comissão de inquérito em que também é responsável. As pessoas indicadas para essa comissão de inquérito irão ouvir a FMF? Se sim, em que qualidade? Sim, porque a FMF, para um bom entendedor e com interpretação isenta dos factos, é responsável pelos acontecimentos de Argel. É a FMF que não cumpriu com as suas obrigações para com os atletas, obrigações que de forma voluntária prometeram aos atletas.
Mais, ao agir como agiu, a FMF é que acaba manchando o bom nome de Moçambique, conquistado com sangue dos Heróis nacionais simbolizados no 3 de Fevereiro, data em que a mesma Federação do Futebol, no lugar de dirigir-se à Praça dos Heróis para homenageá-los, preferiu reunir “virtualmente” para “punir” outros Heróis nacionais, desta feita, do Futebol nacional. Na verdade, no seio dos adeptos de futebol, estes jovens trouxeram muita alegria e hastearam a bandeira de Moçambique bem alto em Argel. Foi o trabalho dos “Mambas” e seu corpo técnico que logrou esse sucesso, registe-se!
Na minha opinião, a FMF, para este caso específico, não devia reunir para deliberar tal como o fez. Até poderia reunir para analisar os acontecimentos do CHAN e comunicar o público as suas conclusões. No entanto, essa reunião nunca deveria criar uma comissão de inquérito e muito menos punir jogadores, excepto o elemento da Federação. Esse, sim, podem puni-lo como acharem melhor e dentro dos vossos estatutos e regulamentos. Agindo como agiu, a FMF quis “jogar” na antecipação e criar “confusão” no seio da opinião pública, o que não abona aquele colectivo.
Sobre a Intervenção da SED!
Devo dizer que a intervenção da Secretaria do Estado do Desporto foi oportuna e deveria ter sido logo à chegada dos “Mambas” de Argel. Peca por ter sido ligeiramente tardia e que deu espaço para esta atitude da FMF de reunir “virtualmente” num ferido nacional para tomar decisões que tomou. Ainda assim, a SED deve manter-se a frente deste processo, na qualidade de representante do Governo para a área de Futebol e não só. É chegado o momento de a FMF deixar de ser um refúgio de “gangsterismo”. A FMF deve ser um lugar para gente honrada e responsável, comprometida com o desenvolvimento do Futebol em Moçambique.
Ao assinar um compromisso em Argel e chegar em Moçambique considerar o documento inválido e sem valor jurídico, a FMF mostra de forma clara e evidente que a FMF sempre agiu de má-fé neste assunto. Mostra o quão “gangsterista” é o colectivo da Direcção da FMF. De entre eles deveria aparecer alguém a chamar a atenção para a observância das regras elementares de convivência social. Por outro lado, mostra que os atletas tinham razão ao exigir algo escrito em como irão respeitar o compromisso assumido voluntariamente, veja-se agora!
Atletas gazetam encontro com a SED!
Aqui, é importante chamar-se os atletas à razão. Quando a SED os convoca, repito, CONVOCA, não é uma questão de vontade, é uma questão de obrigação comparecer a esse encontro. A solução dos problemas não acontece por forças mágicas, acontece com a intervenção humana e, no caso, a SED, como representante do Governo de Moçambique, a ela cabe dirimir este conflito e reportar a outras partes do Governo sobre as posições das partes. Ao agir como agiram, faltaram respeito a uma instituição do Governo e o que tem a fazer é pedir desculpas e solicitar encontro para se esclarecerem e, quiçá, pedirem ajuda a SED na resolução deste diferendo com a FMF. Gazetar não vos dignifica jovens, a vida deve ser encarada de frente, os problemas, por mais bicudos que sejam, devem ser resolvidos e, para que isso aconteça, é importante a participação dos visados. Mas, como diria o Secretário de Estado para o Desporto, talvez tenham agido “de cabeça quente” depois do comunicado da FMF. Compreendemos, mas devem redimir-se do erro. Todos devemos respeitar o Governo.