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segunda-feira, 07 março 2022 09:57

Uma bandeira, uma Constituição - um governo com filhos e enteados!

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Razões de ordem técnica dos requerimentos e a pandemia são os subterfúgios a que se recorre para indeferir as comunicações para a realização de marchas/passeatas/ manifestações pacíficas para todos os enteados do governo do dia. Por outro lado, os filhos do governo do dia só precisam de comunicar no partido que pretendem enaltecer ou endeusar a liderança máxima para sair à rua sem máscaras e abraçados! As referidas manifestações de apoio ou reconhecimento dos feitos da chefia, conforme são apelidadas, nunca foram impedidas, mesmo no auge das vagas de infecções com a Covid-19.

 

Já, enquanto os enteados procuravam marchar contra a onda de raptos que minetou o sistema policial e judicial. Contra as portagens que cercaram Maputo e outras que estão a ser colocadas em zonas com estradas sem qualidade. Contra a violência policial que se fez sentir em vários locais do país. Onde vendedoras ambulantes eram arrancadas peixe, bananas, bolinhos e depois espancadas por indivíduos vestidos de farda policial, o engraçado é que mesmo com os vídeos que viralizaram nas redes sociais, os dirigentes não estão nem aí – talvez tenha sido por isso que homens subversivos levaram um caixão para a casa de um chefe municipal e dias depois invadiram a casa, agrediram o homem e morderam o "mangalho do homem" deixando-o entre a vida e a morte.

 

Os dias passaram, veio mais uma audiência do mediático julgamento das dívidas odiosas – um peixe grande da nação foi ouvido – durante a sessão citou por várias vezes o outro peixe grande. A comunicação social deu eco àqueles dizeres. Vários debates foram travados em canais com dimensão nacional e internacional e o facto irritou as lideranças que orientaram que deveriam ser realizadas marchas por tudo que é canto, demonstrando de que lado os filhos estavam!          

 

Para os filhos do governo do dia, a Constituição funciona sem precisar seguir o protocolo institucional recomendado. Até se for uma marcha de apoio a um dirigente pedófilo, as autoridades dão parecer até de madrugada. Mas se fores um enteado, mesmo que cites rigorosamente o Artigo 51 da Constituição da República de Moçambique (CRM) e o requerimento tenha sido feito pelo reconhecido cientista jurídico Diogo Freitas de Amaral ou a Juíza- Presidente do Conselho Constitucional (CC), o assessor jurídico do Edil ou do Governador/ comandante identificará os erros e irá indeferir o referido documento que visava simplesmente comunicar.

 

É complicado quando filhos do mesmo pai e mãe são tratados como enteados, simplesmente porque um reclama por melhores condições e outro agradece por viver na miséria e ser minetado longamente! Seria interessante que, enquanto a bandeira for essa, a constituição a mesma e o governo vigente tenha sido aquele que escolhemos que não houvesse filhos e enteados. Que todos os movimentos sociais e políticos tenham seu espaço de intervenção e exigência. Não devemos alimentar que a sociedade exija seus direitos da forma como o fizeram os trabalhadores da açucareira de Xinavane!

 

Ninguém deve ser obrigado a viver no silêncio e em constante medo, quando a nação onde todos vivem tem único nome – Moçambique. Tem única bandeira e mesma nacionalidade – moçambicana. Mas apenas alguns pensam de uma forma diferente sobre um determinado problema. Daí que alguns se identificam com os grupos sociais e políticos existentes. É importante que cultivemos as diferenças de pensamento, sem cortar as liberdades de cada um e criar inimigos públicos simplesmente porque o que ele fala denuncia as nossas falhas ou injustiça a maioria.

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