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terça-feira, 17 maio 2022 07:23

Com quem fica o espólio da guerra?

Escrito por

NovaOmardino

Certa vez, o filósofo francês Jean-Paul Sartre disse e ficou registado: "quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem". E hoje, eu digo, quando numa guerra os generais ordenam a invasão de uma zona, há sempre o saque de bens alheios e morte dos pobres e inocentes. E foi sempre assim!

 

No caso moçambicano, vivenciou-se estes episódios, durante a guerra dos 16 anos, entre o governo (da Frelimo) e o movimento de guerrilha (RENAMO), em que milhares de moçambicanos viram seus bens saqueados por generais famintos de riqueza e com sangue nos olhos. E hoje a saga continua em Cabo Delgado, Manica e Sofala, onde a pólvora venceu a razão e a lucidez!

 

Se em tempos, o famigerado Imperador de Gaza, Ngungunhane nas suas incursões para expansão do seu reino, aniquilava os pequenos reinos e saqueava tudo que encontrava pelo caminho. Já nos finais da luta de libertação, assistiu-se à expulsão do colono com uma pasta e alcofa nas costas, tendo os novos donos do poder se apoderado de tudo e posteriormente apelidado de nacionalização.

 

Entretanto, nos tempos que correm percebeu-se que afinal quem ficou com as melhores coisas foram os combatentes daquele período. E foi sempre assim, entre vencedores e vencidos, o espólio fica com aqueles que deveriam trazer a harmonia e devolução das coisas às verdadeiras vítimas – o povo!    

 

Da saga dos 16 anos da guerra civil, alguns conseguiram recuperar seu espólio, uma vez que conheciam quem havia cometido o duplo crime – entrar para matar e furtar bens alheios, numa guerra sangrenta que empobreceu mais o povo e destruiu propriedades e bens daqueles que aos poucos procuravam desenvolver suas vidas, depois das tenebrosas políticas socialistas-marxistas que se viviam após a independência – num mundo de blocos opostos e que obrigava as pessoas a escolher um dos lados!

 

Entretanto, muitas famílias perderam tudo e viram sargentos, coronéis, generais e seus parentes desfilarem pelas ruas e avenidas com seus bens espoliados durante a mortífera guerra da alegada democratização de Moçambique.

 

A situação devastou e provocou problemas cardíacos a alguns. Na guerra contra o terrorismo em Cabo Delgado, onde mais de 780 mil pessoas fugiram das suas casas, deixando tudo para trás, os militares em Palma rebentaram com as caixas de depósito e levantamento e em Mocímboa da Praia cavaram no interior das residências, uma vez que, culturalmente, as pessoas não depositam os valores nos bancos, enterram no quarto ou colocam no interior dos colchões e outros bens.  

 

A situação pode ser mais tenebrosa. A título de exemplo, os filhos e vizinhos do falecido casal Hanekom, cidadão sul-africano que morreu em circunstâncias estranhas e sem uma explicação pública e jurídica sobre o que terá acontecido, depararam-se com a visita de uma ilustre família que contabilizava o património e questionava se o mesmo poderia ser vendido!

 

Em situações do género nas guerras que ocorreram na Pérola do Índico, sempre houve quem se apodera do espólio das famílias. Surgem sempre parasitas e oportunistas que, na ausência ou na dor dos inocentes, saqueiam os bens, colocam em camionetes e enviam as suas quintas recônditas e sem visibilidade pública.

 

E quem faz isso são os grandes líderes militares que, curiosamente, mesmo diante de tanto fogo intenso, seus pastores continuam a pastorear seus caprinos, bovinos e ovinos. Continuam a visitar suas fazendas em zonas quentes, enquanto os civis fogem do local com medo do cheiro da morte e da dor da bala.

 

Às vezes, acredita-se que as guerras vieram para eliminar aqueles que não têm força para se defender e cuja única salvação é morrer ou fugir do local e viver traumatizado para sempre, sem apoio e acumulando uma sociedade doentia e de psicopatas que vivem em constante ataque de nervos e de raiva. É importante que as nossas "guerras sejam apenas de palavras", porque as armadas acabam permitindo que os civis sejam espoliados e desgraçados para sempre!           

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