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sexta-feira, 15 setembro 2023 10:56

Juventude: Dados do INE assustadores!

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“População jovem cresce rápido e analfabeta, tendo passado de 5.3 milhões para 9.4 milhões entre 1997 e 2017. Trata-se de pessoas entre os 15 e 35 anos de idade e as províncias de Nampula e Zambézia são as que contribuem com maior natalidade e, no sentido oposto, encontram-se Niassa e Província de Maputo”.

Fonte: Carta de Moçambique, estudo do INE – Instituto Nacional de Estatística

“O estudo publicado pelo INE – Instituto Nacional de Estatística, sendo oportuno, revela o quanto não se tem pensado no país real, hoje. Moçambique importa desde a caixilharia para os imoveis, mobiliário de casa e de escritório, produtos de origem agrícola, carteiras para os estudantes, num país com potencialidades agrícolas de invejar, com a silvicultura e florestas nativas para a produção de madeira a dar com o “pau”. Ainda que houvesse formação profissional massiva, quem seria o comprador dessa produção dos jovens, se tudo importamos sem nos preocuparmos com a produção nacional. Importamos até roupa interior usada! Meu Deus, Moçambique precisa de ultrapassar certas atitudes e pensar no bem-estar do seu povo, em especial para a Juventude”.

AB

O estudo publicado, recentemente, pelo INE – Instituto Nacional de Estatística é bastante assustador. Avisa que, nos últimos 20 anos, a população jovem moçambicana cresceu na ordem de 4.1 milhões de pessoas, saindo de 5.3 milhões em 1997 para 9.4 milhões em 2017. Trata-se de jovens com idade entre 15 a 35 anos e, destes números, 9.4 milhões de jovens, 5 milhões são mulheres, ou seja, a população feminina continua a crescer de forma desproporcional em relação à masculina. O estudo indica que as províncias com maior fertilidade são as de Nampula e Zambézia e, de seguida, alerta:

“Esta situação sugere que existe um contingente de jovens com potencial, que não tem sido aproveitado através de investimentos na sua educação, formação e enquadramento profissional. Dado que uma parte considerável dos jovens são pouco educados, não estão envolvidos em nenhum tipo de formação profissional e nem enquadrados em nenhum sector produtivo da sociedade, estes têm o potencial elevado para se tornar numa fonte de instabilidade social”.

Estudo do INE. Publicado no Jornal electrónico “Carta de Moçambique”

Segundo o mesmo estudo, as províncias de Maputo e Niassa são menos férteis em termos de crescimento da Juventude, passaram de 200 mil em 1997 para 600 mil em 2017. Ora, os números, embora não se comparem com as províncias de Nampula e Zambézia, em termos quantitativos, são, na minha opinião, bastante elevados quando comparados com os investimentos necessários nas áreas de Educação no geral e na formação profissional em particular. Mas se os números são assustadores, a realidade é pior ainda porque, em abono da verdade, o inquérito refere-se a 2017, sendo que passam cinco anos e a realidade piorou. Espero estar errado.

Por outro lado, os dados aqui publicados pelo INE vêm mostrar que as escolas de formação profissional existentes em Moçambique, sobretudo, as tuteladas pela Secretaria de Estado da Juventude e Emprego, não têm estado à altura da demanda juvenil. Mostram ainda que o ingresso a essas formações constitui um grande privilégio aos beneficiários, sendo urgente a mudança desse estado de coisas. Este estudo foi feito em 2017, sendo que passam cinco anos e não me parece que tenha mudado muita coisa no terreno. Ou seja, não me parece que o estudo tenha colocado à reflexão o sector de educação e formação profissional, pois, deveria ter melhorado alguma coisa.

É urgente a massificação da formação profissional, mas, acima de tudo, é urgente a mudança do nosso mercado de economia, que privilegia muita importação de bens que podem ser produzidos localmente. Por exemplo, importamos carteiras, num país produtor de madeira, as caixilharias para a construção civil, hoje, são predominantemente importadas, as mobílias de casa e de escritórios são importadas e, diga-se, com belos acabamentos, mas de consistência duvidosa. Trata-se de mercadorias que poderiam ser produzidas em Moçambique.

Ainda que se abram muitas escolas de formação profissional para as pessoas cursarem, se não puderem produzir para abastecer o mercado, o paradigma não irá mudar. A importação de bens agrícolas, da vizinha África do Sul, é também exemplo de que, mesmo formando técnicos agrícolas em quantidade, se a concorrência continuar desleal com a importação de bens do vizinho, essa gente ficará sem trabalho.

O anúncio do estudo é oportuno, mas as coisas não podem ser vistas na perspectiva de educação e formação profissional apenas, a análise deve ser vista na perspectiva de mudança do nosso paradigma económico, o que deve vir de fora e o que devemos produzir internamente. Muito recentemente, por ocasião da CASP – Conferência Anual do Sector Privado, o lema foi sobre a Industrialização, mas foi uma corrente de lamentações, com destaque para a Indústria Gráfica, em que o livro é importado com isenção e a matéria-prima para alimentar a indústria gráfica local tem impostos a pagar. É urgente pensar-se na economia como um todo, incluindo o processamento de parte das commodities produzidas na agricultura, na indústria extractiva e outros sectores da economia.

Adelino Buque

Sir Motors

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