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segunda-feira, 16 setembro 2019 06:45

O Futebol Sou Eu

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Nos idos e revolucionários anos oitenta e bem antes de eu ouvir falar da figura de agente de jogadores (de futebol) conheci um na escola primária de nome Artur Roubão. O sobrenome sobrevinha das suas exímias qualidades de subtracção de bens alheios. Ele era o mais velho da turma e fazia valer o posto a quem ousasse contrariá-lo ou que o troçasse por uma “gafe” fora ou na aula. Algumas vezes o professor condicionava a saída da turma à uma resposta correcta do Artur Roubão. Debalde. E sempre que chamado a responder olhava de esguelha à caça de quem se atrevesse a zombar das suas debilidades.
 
 
O Artur Roubão era praticamente o “dono” da equipe de futebol de uma das turmas da segunda classe formada por um quinteto (Nando, Messias, Abdul, Abreu e Nicolau) que impunha respeito nos jogos inter-turmas. Um outro colega (Nené) era o responsável pela torcida feminina e assessor desportivo das funções de dirigente do Artur Roubão. Na confusão infantil das escaramuças diárias quer as dos jogos, quer as do fecho das aulas o quinteto e todo o corpo técnico e logístico estavam sob protecção do também treinador, o temido Artur Roubão. 
 
 
A sua costela de agente de jogadores adveio do facto de ter reprovado e o quinteto transitado de classe o que implicava que os últimos jogariam pela nova turma da terceira classe. Mas assim não foi porque o Artur Roubão alegara que detinha os direitos dos jogadores do quinteto. E estes continuaram a jogar na equipe da segunda classe. Fora e mais o agenciamento de jogadores o Artur Roubão ainda actuava como federação (organização dos jogos) e tribunal desportivo. Nas repreensões de justiceiro recorria à pancada e, no limite, erradicava o visado da prática desportiva no recinto escolar e espaços adjacentes. 
 
 
Assim aconteceu até ao dia em que o Artur Roubão rescindiu unilateralmente a sua ligação com a escola e automaticamente o contracto colectivo que o vinculava ao quinteto. De certeza que nos tempos que correm o Artur Roubão seria um respeitado Agente-FIFA e de alto gabarito internacional. 
 
 
A única vez em que a turma (turno da tarde) esteve de castigo e o Artur Roubão não teve nada a ver foi numa sexta-feira. Esse dia a pena (cárcere privado) durou até a hora do jantar e foi sustada graças a intervenção dos pais. O famoso e sonoro “ADEUS SENHOR PROFESSOR E ATÉ NA SEGUNDA SE DEUS QUISER” foi o dito crime que levara o professor a encarcerar a turma de petizes. Estes não sabiam que por essa altura histórica o todo-poderoso (DEUS) estava suspenso/banido da terra da Pérola do Índico. 
 
 
Desses áureos tempos da revolução socialista não tenho memória oficial de um agente de jogadores ao estilo capitalista como existe e pululam actualmente. Contudo, fica a indelével memória do Modus Operandi do multifacetado Artur Roubão que era bem ao estilo da época e à luz do não menos famoso monarca francês, Luís XIV: O ESTADO SOU EU!

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