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BCI
quarta-feira, 05 fevereiro 2020 13:11

Nova Aliança da Maxixe vencido pelo tempo

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Era uma fogueira admirável. Desafiava as fortes chuvas que vinham, por exemplo, de Maputo e Nampula e Xinavane e Sofala e de dentro da sua zona de influência. A precipitação caía em catadupa sobre as fortes labaredas dessa lareira, que entretanto, no lugar de desvanecer, ressurgia. E triunfava nos combates. A equipa do Gomes da Maxixe, como  também vai ser conhecida esta formação, tornou-se um elo. Unia todos os bitongas e todos os vathswa e todos os vatchopi e todos os vandawu que desciam de Mambone para festejarem a magnificência de um conjunto de mito.

 

Mesmo assim, ainda alguém tentou contrariar o rumo fervoroso de uma formação que tinha um patrão forjado para as sagas. Reuniram-se dirigentes e antigos jogadores de futebol nascidos em Mucucune, um arquipélago discreto  que fica à ilharga da cidade de Inhambane,  e o obejctivo era reformular a equipa local para, com todas as armas possíveis, parar com as “brincadeiras” desses senhores.

 

Tocaram-se as trompetas em toda a província, anunciando o grande jogo que vai colocar frente a frente o Nova Aliança da Maxixe e o Mucucune, numa luta em que a equipa do Gomes da Maxixe tinha que ganhar para se manter no Campeonato Nacional, e os “ilhéus” também precisavam da vitória para ascenderem à panóplia dos grandes. No fundo o Mucucune tinha bons executantes, capazes de contrariar todas a expectativas, é por isso que o Gomes da Maxixe passou noites e noites sem dormir, enquanto o jogo não se realizasse.

 

A província inteira borbulha porque, como se propala pela voz do povo, alguém vai  morrer. Foi convidado um grupo de zorre para abrilhantar a festa que se espera intensa. O farfalhar dos trazeiros das mulheres,  libertados na dança, segundo se diz por aqui, é um forte incentivo para os jogadores. E como se isso não bastasse, vem aí a orquestra de Tmbila ta Mwaneni e a sua louca matxatxulani, que vai nos mostrar o feitiço das coxas e das ancas. Os locutores da Rádio Moçambique não páram de anunciar a realização da partida. E em todo o lado a conversa é essa, ou seja, ninguém sabe o que na verdade vai acontecer, porque esses tipos de Mucucune podem fazer das suas. Outros ainda diziam, agora é que o Gomes vai sentir o sabor do sal. E o sal vem de Mucucune.

 

O Nova Aliança da Maxixe era isso, um desiquilibrador dos prognósticos. Não é por acaso que no seu logotipo vamos ter uma gaivota ( nhalégwè em bitonga). Significa que é uma equipa concebida para atravessar mares e oceanos. Não há vento que o desvie do seu azimute. É como se todas as suas realizações fossem feitas a partir do topo, de onde já não se pode ir a mais nenhum lugar, ou melhor, de onde só se pode partir para a levitação.

 

Eles eram a glória da Maxixe, e de toda a província de Inhambane, até ao dia em que o eixo de toda a gravitação, o Gomes da Maxixe, deu o último suspiro sobre a terra. Aí tudo começou a desmoronar, até entrar em derrocada. O que nos entristece é que até hoje nunca ouvimos, a nível oficial, nada sobre uma homenagem a um homem que deu tudo de si e da sua fortuna, para alegrar o povo, onde os políticos se emiscuíam. Agora a  gaivota já não voa. E o mais provável é que sucumba de vez. O que seria muito lamentável!

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