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BCI
quarta-feira, 18 agosto 2021 09:43

A Agonia dos Peixinhos

Escrito por

Dê um deserto a um burocrata e em cinco anos ele estará importando areia” – (Henri Jeason).

 

Já me não reconheço mais

Há muito que ando foragido do meu modesto mundo

Quando livremente circulava pelos ares

Hoje brutalmente poluídos por pseudo-santos homens!

 

Não me esqueci

Mas já não consigo mais andar

Não me esqueci

Mas já não consigo mais voar…

 

Hoje sou um pálido pássaro-aquático

Igual a tantos outros pássaros

Hoje sou um moribundo pedestre-marinho

E nisto confesso, não estou sozinho!

 

O mundo dos outros, hoje puramente é meu

Comigo também estão a Rosa e o renomado Romeu

Juntos e isolados, lutamos pelo mesmo troféu

Que somente se ganha, quando se já morreu…

 

Cavalgo sigiloso nas escuras e lúgubres sombras de tubarões

Silenciosos e calmos, de olhares meio serenos

Maquinam planos para alegremente devorar os pobres peixinhos…

 

Tão quão a sua gigantesca estatura, fartos de vida

Assim é o tamanho do seu descuidado

Face aos pacatos protestos dos pobres peixinhos

 

Tão bravos nas suas atitudes e decisões

Ruminam os sagrados planos dos peixinhos

Maleficamente cobiçosos e incontinentes

Erguem planificadamente desumanos

O património dos futuros tubaronzinhos!

 

Assim como o sopro, o tempo passou

De igual modo, muita coisa mudou:

Hoje vivo no mundo dos outros

Como a comida dos outros

Falo e canto com a voz dos outros

Danço e bamboleio com as pernas dos outros

Enfim, sou quase tudo dos outros!

 

Os génios e forasteiros

Ensinaram-nos a moda actual:

Se quiserem falar e reclamar

Façam-no de boca fechada

 

E se quiserem gritar

Abram suavemente os vossos pobres lábios

Entretanto, jamais deixem

Que os vossos débeis dentes se desabracem

 

Pois melhor é chorar para dentro

Chorar para fora, é barulho

E barulho só atrapalha

Por isso, não atrapalhem…

 

Ora, de tanto chorar para dentro

Sofro hoje desconhecidas patologias

E hoje o meu abdómen inteiro reclama por justiça

 

Já não consigo mais andar

Para asseveradamente protestar

A carnívora vida que hodierno

Lenta e camufladamente feroz

Os forasteiros, sequestrando o vigor dos nossos sentidos

Malandramente implantaram em todos nós

E hoje, sim, nós os peixinhos

 

Ao mundo inteiro e a quem tem ouvidos

Clamamos um significante SOCORROOO…!

Sir Motors

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