Não sabemos se foi em wuhan, se foi por algum alimento, que isto começou. Primeiro julgamos o profeta por não ter previsto e sequer conhecer a cura; seguimos pensando que era falsidade dos governos, querendo apoio; exigimos além da idade do caso confirmado, o nome e a localização, precisávamos ver para crer; a seguir julgamos a medicina mundial por não descobrir a cura ou vacina contra isto antes das mortes; pensamos que a máscara irritava, apertava a respiração; lavar as mãos não tinha nada a ver, fechar barracas não era a solução porque vivemos disto.
Agora tudo está desorganizado!
O polícia agora anda nas ruas da cidade a controlar as pessoas para não se comportarem mal. Banalizamos tudo no começo, mas custa acreditar que a meta para 2021 é acordar vivo no dia seguinte. Isto está nos conseguindo! Nunca a morte esteve próximo de nós como está hoje. Nos falta até o tempo de prestar as devidas condolências, enquanto lamentamos esta, aí vem outra morte.
Essa sucessão de mortes quebrou em nós um ritual africano. Cá entre nós, quando se morre sempre se sabe quem é o culpado. Agora estamos a ser civilizados à força, acreditamos nos relatórios médicos sobre a morte dos nossos parentes, o que nunca foi cultura. COVID-19 está quebrando com a nossa cultura de chorar as mortes, o feitiço do tio mais invejoso, da vizinha complicada, daquele subordinado que quer a "cadeira", por esses dias ignoramos. Covid-19 ganhou o espaço de destaque, já não há feiticeiro entre nós, até que há, pode estar atrelado a isto, mas não mais interessa falar dele.
Se há uma coisa que a vida tinha que reduzir é a própria velocidade, se há alguma coisa que devia se adiar é a morte, nem que fosse injustiça aos já tombados que não se beneficiariam desta proclamação, ao menos daqui para frente eu e tu não passaríamos pelos murais com a legenda RIP! RIP/DEP, os telefones de alta correcção na grafia já sabem bem dessas três letras, pressiona o R, logo sai RIP, estamos no segundo mês de 2021, em termos de mortes já estamos longe, se a morte continuar flutuando de certo que encontrará a mim e você também...
Faltam ainda 10 meses para o ano acabar. Iremos na lógica de Berthold Brecht no seu raciocínio indutivo no intertexto sobre os negros levados. Hoje corona levou a elite, amanhã o vizinho, e isso não te toca porque a ti resta apenas o recurso de te vestires de preto (como dizia caveirinha), mas amanhã, quando ficarmos sozinha corona vai levar a nós. Nas eleições fazemos campanha e a propaganda ganha espaço desde a indumentária, mídias e em tudo, hoje estamos na campanha da morte, partilhamos o corro da desgraça, o obituário, necrologia é o texto mais partilhado por esses dias, é doloroso morrer assim.
E agora, se nós dois estamos aqui e no meio temos este texto?
Lavemos as mãos, usemos a máscara, distanciemo-nos socialmente, desinfectemos os nossos espaços. Não seremos imortais por isso, mas teremos feito a nossa parte.
O antigo ministro de Guebuza acaba de ser enquadrado numa empreitada do Governo, de onde sairá com uns bons milhares de USD. Ele faz parte da equipa multidisciplinar formada para conceber a Estratégia de Desenvolvimento Resiliente e Integrado do Norte, que deverá ser concluída até Julho, para que, enfim, a ADIN comece a trabalhar. Quando saiu do Governo em fim de mandato, ele ainda foi nomeado para PCA da TVM, mas durou poucos dias. Depois veio o julgamento do camarada Jean Boustani, em Nova Iorque. Seu nome foi citado lá, era dado como imputável. Houve quem batesse as palmas e com cores garrafais pintasse seus embrulhos com conteúdo inquinado>>> vai dentro! Não foi, não! Mrs Buchile fechou os autónomos das "dívidas ocultas", já lá vão 2 ou mais meses e dai soube se que não havia evidência suficiente dele se ter molhado no banho verde do calote. E então porque não um tachozinho?
“Os militares (Forças Armadas), os sindicalistas e os estudantes constituem activos vitais em processos de transformação/mudanças. Estes, e cada um com o seu papel na sociedade, é que mudam o curso da história”. Este pronunciamento, de alguém póstumo e de quem eu era muito próximo, foi feito há uns 15 anos numa conversa corriqueira. No mínimo, e fazendo jus ao pronunciamento, é crucial que a qualidade dos “activos de mudanças” esteja à altura dos problemas e desafios para a transformação ou alcance das contínuas mudanças requeridas no processo de desenvolvimento de qualquer Estado.
Na Pérola do Índico, infelizmente a qualidade dos “activos de mudanças” deixa a desejar. Esta manhã, por coincidência, e a razão do texto, acompanhei uma notícia na qual o Ministro das Defesa de Moçambique afirmava de que a fraqueza das forças armadas moçambicanas resulta, entre outros, e sobretudo, do desinvestimento no sector e que tal decorre ou inicia com o Acordo Geral de Paz de Roma, que ditara o fim da Guerra dos 16 anos em Moçambique. Na mesma linha de fraqueza, outro dia ouvira de que em Moçambique o sindicato é fraco ou quase que inexistente porque não existe um sector privado industrializado (tipo “não se fazem omeletes sem ovos”). Por ora, e também na mesma linha de fraqueza, não me ocorre um exemplo sobre os estudantes, mas, e pelo histórico acrítico, é notável que não diferem, em género e número, da situação dos anteriormente citados.
Neste diapasão (com “activos de mudanças” deficitários), e para terminar, é bem provável que “Desse mato não sai coelho”, a menos que, e de quem quer que seja, a intenção seja essa, a de crónico défice, e tal (e dói), infelizmente não abona por melhores dias para Moçambique.
Juma Aiuba foi gigante. Gigante na audácia e na fineza da palavra. Os gigantes são esses seres especiais, com um espaço reservado na eternidade. O paraíso, também, carece de criatividade. Se a leitura é o alimento da alma, o esplendor celestial, deve ser um espaço privilegiado para os diferentes géneros literários. Anjos e santos se divertem, agora, um pouco mais com o surgimento inesperado, do Juma. Nenhuma vida, nem presente e muito menos futura, sobreviveria sem humor, desprovida de uma requintada sátira e, muito menos, sem o sorriso maroto e platónico.
Maitololo, seu nome caseiro, viveu como partiu, irreverente, imprevisível e nas alturas. Qual estrela cadente que cruza as nossas pupilas, desaparecendo sem deixar rastos. “Juma”, etimologicamente, significa alguém que nasceu na sexta-feira. O nosso, fez a sua páscoa, também na sexta-feira. Aiuba (Aniba permollis) é um nome tupi guarani, das amazonas, Brasil. Significa árvore gigantesca, com aproximadamente 50 metros, recordando a todos que subindo numa árvore, deveremos descer pelo mesmo tronco. Esta a combinação perfeita que explica um cronista de múltiplas dimensões.
Vezes sem conta, iniciávamos as manhãs lendo seus ousados, interventivos e contundentes textos. O cozinhado de palavras e narrativas que rescreviam a hipocrisia, reconvertiam o descaso e perfumavam esse prazer matinal de uma leitura que fugisse do corriqueiro e banal. Estas crónicas reforçavam a fugacidade dessa crítica metódica, tantas vezes, viciada e respaldada em interesses obscuros. Vivemos carentes e sedentos de olhar para nós próprios, reconhecer o quanto temos sido insensíveis, perversos, egoístas e pouco racionais na nossa normalidade. Surgia, então, Maitololo recordando, através de corajosas, destemidas e humoradas palavras, que tão bem soube recriar, que poderemos fazer um país melhor, mais inclusivo, uma democracia menos frágil, instituições mais fortes e representativas.
A história da literatura e do jornalismo é profícua em exemplos de escritores satíricos. Na verdade, todos nós escondemos uma faceta humorística dentro de nós mesmos. Aldous Huxley e Evelyn Waugh, da Irlanda e Inglaterra, respectivamente, argumentavam que a sátira e o humor são questões que ultrapassam as épocas. A sátira social sempre consistiu em revelar a inconsistência, a incredulidade, a hipocrisia, a crueldade, o cinismo e a indignação. Em períodos mais modernos, Salman Rushdie, foi o rosto marcante da sátira. Este autor dos “Versículos Satânicos” teve de viver refugiado e escondido, para se manter vivo. Tal a força da palavra e o poder da sátira.
Em Moçambique, a literatura revela alguma dificuldade para conviver com a sátira social, na sua plenitude. Os poemas e, de alguma forma, a prosa continuam os veículos subtis que valorizam este género. Eventualmente, existam factores de ordem cultural, linguística, editorial, social ou política, conjugados, que limitam uma sátira mais genuína. A Revista Tempo com jornalistas como Areosa Pena, Filipe Mata e Bartolomeu Tome, ultrapassaram barreiras e se firmaram como os cronistas de referência. Censurados pelo regime colonial, se mantiveram firmes e agraciados pelo projecto libertador.
Mesmo depois da independência, jamais pararam de satirizar, com humor e leveza, modelos e propostas governativas pouco coerentes.
Depois de algum interregno e de um momento de muitas veleidades, novas vozes tentaram seu espaço e traçaram o seu próprio caminho. Juma, foi essa feliz e improvável revelação. Quando lhe perguntavam de onde buscava tanta inspiração, ele era peremptório. Não era ele que se inspirava. Era Moçambique que palmilhava e trilhava pelos sinuosos caminhos da paródia e indignação. Eram as incongruências da corrupção e a maledicência da democracia atípica, da política quotidiana maquiavélica, da insensibilidade do sistema judiciário.
A paródia se constrói com a vida, na seriedade e na adversidade dos factos. O que mais o incomodava e, um pouco aos cidadãos de bom-senso, eram as infundadas justificações para narrar o óbvio, os números problemáticos do registo eleitoral, das arbitrariedades com os contentores que, misteriosamente, desaparecem, a leviandade como se constrói a narrativa de pagamentos duvidosos, enfim, essa espécie de tragicomédia e de uma morte anunciada, para relembrar Gabriel Garcia Márquez.
A Carta de Moçambique, jornal digital para o qual publicou, reconheceu, em momento oportuno, que o seu projecto jornalístico ganhou espaço e expressão muito por conta de se ter pendurado na sua bagageira. Na realidade, a publicação acomodou-se, confortável, na poltrona da sua irrepreensível imaginação e frontalidade. Juma era uma pessoa corajosa e de perspicaz frieza. Assustava. Quase vaticinávamos um final premeditado e anunciado.
No seu humor, muitas vezes, tão trivial, noutras tão sério, ele será aquele jornalista que morre e sobrevive. Continuará escrevendo a partir das catacumbas. Para quem lê sátiras, o mais difícil seria não pensar em Charlie Hebdo e em tantos outros, que ousam atravessar pelos caminhos do politicamente correcto. Mas, a vida continua esse sopro. Passará algum tempo até que se entenda da natureza do furúnculo que o vitimou. Porém, o importante será saber que cumpriu, como ninguém, o nobre dever de servir à pátria e, no dia da maior celebração islâmica, ele regressou as profundezas das suas origens.
Sócrates dizia, várias vezes, que as pessoas sábias falam de ideias, mas que as pessoas comuns falam de factos e a pessoas, apenas, falam de outras pessoas. Ficaremos com os novos cronistas e que são produto da paródia que experimentamos como pão nosso de cada dia, Armando Nemane, Sérgio Raimundo e tantos outros, cuja intervenção social fará de Moçambique um lugar para todos, sem medos e de plena liberdade.
O último episódio da tragicomédia "Rede SIMO vs Bizfirst" não obedeceu a tradição de "viveram felizes para sempre". O governo e os bancos descobriram que, afinal de contas, aquele xerife do 25 de Setembro ostenta um revólver de água. Não mata ninguém.
Depois de jurar e prometer que o Banco Central nunca mais iria trabalhar com aquela empezinha de meia-tigela e sanguessuga, eis que, no último capítulo, Rogério Zandamela aparece dizendo que o restabelecimento do sistema foi uma ação coordenada entre o Banco Central e a banca comercial. Disse ele que, não tendo solução e sendo a Bizfirst a primeira a apresentar a solução, seria ingénuo e seria irresponsabilidade do regulador [o Banco Central] não cooperar para essa solução.
Mais do que sentir-me feliz por estar novamente em liberdade, após superar o flagelo do Corona-Virus sobre o meu corpo, invade-me agora uma indescritível sensação de júbilo, em agradecimento profundo a todos que me amam, com certeza sem o merecer. Tenho passado os últimos anos da minha vida em cativeiro, dentro da minha própria carrapaça, um casulo que vai sendo fortificado irreversivelmente pela solidão. Estou em permanente fuga dos meus amigos, mas eles não me largam, percebi isso quando fiquei temporariamente sob as garras desse violento e cruel virus, ou seja, enquanto a dor e o medo assolavam-me por um lado, por outro lado vinha uma surpreendente avalanche de amigos que queriam saber como eu estava.
Com muitos deles eu já não falava fazia muito tempo, mas quando receberam a notícia da minha condição de positivo para o Covid-19, pegaram imediatamente no celular e do outro lado a voz comovida perguntava, como vai meu irmão? Outros apenas diziam, força brada, isso vai passar. E eu acrediatava nessas palavras de conforto, mesmo sentindo a dor na carne, o sufoco no peito, os arrepios em todo o esqueleto, as febres que me faziam transpirar suores frios toda a noite embrulhado nas mantas, as dores nas articulações. O desespero.
A minha casa transformou-se. O silêncio foi substituído por incessantes pedidos de lincença para entrar, de uma tal forma que a minha diarista jamais vira desde que está comigo ajudando-me em dias específicos. Ela percebeu que afinal há pessoas que me valorizam, como ela, embora eu ficasse com a sensação de que estava sendo visitado numa clausura de um condenado a morte, onde a comunicação é feita sem aproximação. Mas toda essa peregrinação animava meu espírito, e eu pedia-lhes para não voltarem mais enquanto não ultrapassasse esta linha vermelha. E na verdade capitulavam, como se estivesse a escorraça-los da minha casa.
As chamadas telefónicas não parávam. As mensagens entravam em catadupa no meu celular como remédio para a alma, e tudo isso ia ajudando-me na superação. A minha família ficou mais unida em redor de mim, e eu sentia-me embaraçado porque nunca fiz nada para retribuir esse amor, ou pelo menos para ser digno dele. Mas esse é o verdadeiro amor porque enquanto não me queixei, eles me amavam no silêncio, e agora que a espada parecia descer, o amor deles vibrou mais em defesa de mim.
A minha filha, a Ndola, deixou de trabalhar e veio acampar na minha casa, contra a minha vontade, pois eu não queria que corresse o risco de ser contaminada por mim, mas ela ignorou todos os avisos. Protegeu-se no máximo, juntou-se à diarista e as duas lutaram a meu favor. Foi a Ndola que me levou ao hospital para o teste, partilhamos o mesmo carro, a mesma cabina, o mesmo medo, a mesma fé de que isto é um vendaval que vai passar. Ndola olhava para mim e no lugar de se comiserar, cantava e contava-me histórias de alegrar o coração. Ficamos juntos, distanciados, e ela sempre mascarada, a lavar as mãos sem parar, conzinhando e preparando a fruta imprescindível, e eu chorava escondido no quarto. De emoção por ver minha filha feita minha médica particular.
Graças a Deus tudo passou. Obrigado a todos, aos meus amigos, a minha família. Agora estou bem, pronto para o trabalho e para viver novamente, Na minha solidão.