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quinta-feira, 16 janeiro 2020 12:53

O cinzentismo de Nyusi e suas incongruências

Eu esperava que o discurso do Presidente Filipe Nyusi fosse um libelo mobilizador, com uma visão sobre nosso futuro a médio prazo, ou mesmo uma imagem do país que teremos quando ele abandonar o poder (se bem que não se pode fazer muito em cinco anos). Eu esperava ouvir um galo cantando uma nova madrugada.

 

Mas Nyusi preferiu apresentar-nos retalhos programáticos da sua governação nos próximos cinco anos. Algumas palavras ocas, algumas medidas concretas. Nenhum assomo visionário, um pensamento estratégico da nação.

 

O povo, como sempre, bateu palmas. Eu também!

 

Seu compromisso com a paz é inigualável. Mas como tratar da insurgência em Cabo Delgado? Nada! Nenhuma ideia central.

 

Sua grande promessa foi a de alocar 10% do orçamento do Estado na Agricultura. Fantástico! Só precisa clarificar: o dinheiro vai todo para o Ministério ou directamente para quem produz? A vontade é boa mas, em Moçambique, os governantes ensinaram-nos a desconfiar.

 

Ele também apoia o projecto de linha férrea para Macuse, um empreendimento que pode fazer muito bem à Zambézia. Agora, é preciso ajudar na mobilização de recursos.

 

Mas o discurso estava cheio de nuances.

 

Sem conteúdo (como na abordagem da corrupção; Nyusi não tem um pensamento estratégico sobre o assunto, nem se esforça para compreender melhor o problema e pensar como fazer);

 

Incongruente (promete reabilitar a linha Beira/Machipanda, mas não faz nada para retornar o ferro-crómio à linha de Ressano, cedendo ao "lobby" rodoviário, que está dando cabo da N4,  numa altura em que falta  apenas 7 anos para a estrada passar para nossas mãos);

 

Omisso (como quando fala de economia azul e faz vista grossa à pesca furtiva, que está delapidando nosso mar, novo take away chinês);

 

Inconsequente (promete uma nova instituição de crédito para a economia, quando existe esse saquinho do BNI, uma vaca leiteira falida, que nunca fez banca de investimento e até já faz retalho e micro-credito);

 

Falacioso (como quando promete um Hospital/um Distrito, mostrando uma ignorância abismal sobre o que é um sistema de saúde; um Hospital Distrital tem requisitos, não é um centro de Saúde. Um Hospital Distrital, por definição, deve ter, Pelo Menos 2 salas de operações, 1 laboratório, 1 serviço de Imagiologia com Rx e aparelho de ecografia, 4 enfermarias, designadamente Medicina, Cirurgia, Pediatria e Maternidade. Deve ter 1 cama por cada 1000 habitantes do Distrito. Deve ter 1 ambulância e 1 viatura de caixa aberta. Deve ter recursos humanos: médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório e de RX, parteiras, serventes, motoristas, enfim. Deve ter um orçamento de funcionamento para medicamentos, combustíveis, energia elétrica, água etc.

 

E Moçambique tem 154 distritos. Impossível.

 

O discurso de Nyusi foi cinzento. Agora, apesar isso, esperamos que esse cinzentismo não marque o mandato. 

quinta-feira, 16 janeiro 2020 06:35

Surpreenda-nos, Senhor Presidente!

Acompanhei atentamente o discurso de tomada de posse de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique. De resto, foi um discurso bonito, mas não tanto quanto o de 2015. Na verdade, a beleza do discurso de 2015 residia na "curiosidade". Estava carregado de simbolismos da estreia. Do novo. Da ansiedade. Estava repleto de nervosismos de ambas as partes: do orador e do receptor. 

 

Por um lado, o povo estava ansioso em ouvir o que é que o NOVO, o JOVEM e o ENGENHEIRO de estruturas férreas tinha para dizer e, por outro, o Presidente estava ansioso em saber como seria recebido e entendido pelo seu povo. Era um Chefe de Estado engenheiro e jovem, atributos que fugiam do protótipo moçambicano (e porquê não, africano) de governante. Nyusi deve ter sido o Chefe de Estado que apresentou o discurso mais "conectante" com o povo. Acredito que depois daquele discurso a sua popularidade tenha subido de fasquia. 

 

Em 2015, Nyusi era "empregado" e o povo, "patrão". Tinha um coração onde cabiam todos os moçambicanos. A juventude e a educação eram o seu ópio; a corrupção e a impunidade, os seus piores inimigos. A liberdade de imprensa e de expressão era o apanágio. Na prática, "nheto"! 

 

O discurso de 2019 é o mesmo de 2015, mas com uma caligrafia trémula e sem confiança. Parecia um discurso que não estava a sair do seu íntimo. Pouca retórica. Faltou vida ao discurso. Até parecia um daqueles informes do Estado da Nação... cheio de incertezas e pouca convicção. E com razão! 

 

O quinquênio passado foi muito problemático. Se fosse num jogo de futebol, diria que foi uma primeira parte falhada. Diria que, neste momento, estamos a perder e temos de recuperar na segunda parte. Temos de ter a coragem de reconhecer isso sem evasivas nem subterfúgios e, muito menos, vergonha. Aliás, o próprio Chefe de Estado já se deu conta disso. Se pegarmos na gíria desportiva de que "equipa que ganha não se mexe", chegaremos a mesma conclusão. Ao anunciar que 60 por cento do próximo governo será gente nova, o Presidente Nyusi está a reconhecer a inoperância do governo anterior. Esteve aquém do esperado. Não quero aqui alencar motivos para não ser repetitivo, dado que tem sido um debate actual da mídia nacional e internacional.

 

Como o discurso do primeiro mandato não passou disso - discurso, agora só posso esperar apenas que o Presidente nos surpreenda pela positiva. "Wallahi-Billahi", espero que o Presidente Nyusi desfaça o meu equívoco e mostre que, desta vez, pode ir muito além das promessas públicas. E eu acredito que isso é possível.

 

Estamos aqui para ajudá-lo sempre que precisar, Excelência. Usarmos os "recursos minerais" para catapultarmos a "agricultura" para criarmos o "desenvolvimento" para chegarmos ao "zero fome" não é coisa doutro mundo. Fazermos com que os recursos naturais não sejam a nossa maldição é fazível. Ouvirmos e respeitarmos ideias diferentes, analisarmos e acolhermos - se for o caso - não é um bicho de sete cabeças. Não nos enfiarmos balas e não nos quebrarmos tarsos, metatarsos, carpos, metacarpos, falanges, falanginhas, falangetas, úmeros, tíbias, etecetera, não custa nada. Combatermos a corrupção é também possível. Alimentarmos a Tabela de Téo com mais gatunos é canja. Unidos somos mais fortes. 

 

Eu aredito piamente na vontade do Chefe de Estado de materializar o seu discurso. É possível, sim. Já, o foco, este parece que anda preso numa teia algures. Parece que depende da boa fé dos beija-mão. Os cânticos das hosanas têm estado tão altos que ensurdecem e tiram o foco do nosso Presidente. Evitemos distrair o Presidente desta vez! 

 

Que este mandato seja o nosso presente! Surpreenda-nos a todos, incluindo os bajuladores. Supere-se e surpreenda-nos, Excelência! Aquela visita inesperada ao Presidente Dhlakama na Serra da Gorongosa foi uma demostração de que é capaz de se superar e de nos surpreender e, diga-se, foi o píncaro do mandato... se ainda não deu bons frutos, é assunto para outro fórum. Trabalhe fora da caixa, Excelência! É possível. Saia do papel! Eu ainda "confio em ti", porque também sei que "contigo" pode "dar certo". Surpreenda-nos! "Tamu-juntu", camarada! 

 

- Co'licença!

quinta-feira, 16 janeiro 2020 05:27

A “mão externa” e outros órgãos

Em Moçambique é normal que o Poder recorra a expressão “mão externa” para acusar as organizações da sociedade civil moçambicana de estarem (e existirem) ao serviço de interesses estrangeiros, sobretudo do Ocidente. Pelo que se crê o móbil da acusação é o facto de estas organizações receberem doações/financiamento do Ocidente e de supostamente no verso do cheque constar uma agenda do que fazer . Sobre a acusação - e do mesmo jeito que o acusador também bebe (e bem antes) da mesma fonte - já diz o ditado: quem fala assim não é gago (risos).

 

Trouxe a expressão (mão externa) à mesa, não para debruçar sobre acusações, mas  para partilhar algumas considerações que se prendem com o seu  alcance ( e dos órgãos adiante) e a razão da escolha da mão (externa) e não de um outro órgão do tipo, por exemplo: coração , estômago ou cérebro.

 

Imagino que se tenha recorrido a este termo (mão externa)  porque dos dedos da mão sai a assinatura do cheque. Dos mesmos  dedos a direcção a dar ao valor inscrito. E também – a parte dolorosa – dos mesmos dedos sai um gesto que se assemelha com o nome de uma fruta da corrente época. Deste gesto  e por ter recorrido à empréstimos na calada da noite, o país ainda se ressente da sua profundidade.  

 

Uma outra expressão e com a mesma intenção acusatória de “ mão externa” com o tempo saiu de moda. Era a não menos famosa  “mão invisível”.  A razão por ter saído de moda  talvez fosse porque  as ditas agendas escondidas deixaram de ser segredo e em nome da transparência passaram para o fórum público de tal sorte que é perfeitamente identificável o dono da  dita “mão externa”: os países do Ocidente que condicionam o seu apoio à questões  de ordem política  e económica. 

 

Para o apoio  recebido de outros países -  caso da  China -  o termo (mão externa) não é  aplicável, pois a China – pelo o que se consta da fala oficial – não condiciona a sua ajuda à nenhuma imposição de natureza política ou económica. Enquanto que o apoio do Ocidente é considerado  mau, o da China é bom. Neste contexto, uma expressão adequada para caracterizar a abordagem da ajuda chinesa e recorrendo a outros órgãos do corpo humano e de tão amorosa a ajuda chinesa,  quem a recebe devia ser acusado de   “coração externo”.

 

O denominador comum e o culpado  da dependência  externa é um outro órgão: o estômago. Este  (já  interno/nacional)   ainda não se libertou dos hábitos e costumes gastronómicos coloniais e pelos dias que correm, os da globalização . Para ilustrar chamo a atenção de uma entrevista (dada depois da independência) de Ricardo Rangel, o saudoso fotojornalista moçambicano, que perguntado sobre o que mais gostava de comer respondeu que adorava um bom cozido à portuguesa. E em seguida lamentou que o seu estômago não se tenha descolonizado.  Presumo que não tivesse sido  matéria da agenda do processo de  descolonização.

 

A par do estômago  está  o cérebro. Isto para falar do último órgão (também interno/nacional). Não é segredo para ninguém que o grosso da literatura (científica e religiosa) que alimenta (doutrina) o cérebro da Pérola do Índico é externa e boa parte proveniente das fontes do apoio.  Logo e a partida: um órgão  exposto, vulnerável e à reboque da “mão externa” e do “coração externo”.   

 

Nestas circunstâncias - diante das  incursões  externas ( da mão e do coração) e da  capitulação  interna  (do estômago e do cérebro) – haverá alguma  luz no fundo do túnel?  Acredito que haja e  tenho fé  que um outro órgão e local  (devidamente identificado)  venha à terreiro em socorro da Pérola do Índico .

terça-feira, 14 janeiro 2020 09:17

Tabus da minha cidade

Tenho 96 anos de idade e nunca tinha visto antes uma coisa igual. Já vivi momentos dramáticos e de medo, que ultrapassam os limites da dor, como estar uma noite inteira debaixo do matraquear incessante do granizo por sobre as chapas de zinco que cobrem a minha casota, e do rimbombar apocaliptico dos trovões que pareciam a última ira do próprio Jehová dos Exércitos. Experimentei a terrível sensação de que o mundo ia implodir para dentro dele mesmo, ou para dentro de nós, nos anos 40, quando um terramoto flagelou aldeias inteiras em Kassakatiza, alí no limite entre Tete e Zâmbia. Tenho ainda na parede da memória, o remoínho que me arrancou do rio Zambeze, para fustração dos crocodilos, colocando-me no ar como  Jesus Cristo em ascenção, depois de se despedir dos Seus discípulos em Galileia. Tenho esses profundos episódios todos, inesquecíveis, e eu a pensar que não haveria mais nada de extraoridnário para viver.

 

Eis que agora, empurrado pela própria história, provavelmente pelo destino, estou aqui, numa cidade alagada de preconceitos e tabus sem fim. A princípio, quando cheguei, vindo de Chinde - outra escala da minha existência de andarilho anarquista - esta urbe parecia incapaz de produzir feitos notáveis, para além do sossego, que por sua vez nos dá a falsa sensação de que a vida aqui é completamente musicada. Mas aos poucos e poucos, fui percebendo que por detrás deste sereno ulular, podem estar escondidas várias hienas que passam a vida a sorrir para esconder o asco.

 

Moro num ponto privilegiado da baía, em Nhapossa, de onde posso contemplar, de longe, as cidades de Inhambane e Maxixe. À noite passo horas e horas observando tranquilamente as luzes emanadas pelas duas urbes, as quais, por sua vez,  deixam escapar as gotas da iluminação que se espalham pelo mar, tornando a paisagem ainda mais reverberante. Tudo isto é uma beleza sem paralelo, enfatizada pelo murmúrio imperceptível das ondas pacatas. É uma dávida.

 

E porque a cidade de Inhambane é um alfobre de mistérios, temos que estar preparados para o pior. Na última quinta-feira (9 de Janeiro de 2020), acordamos entusiasmados ao ver o Céu completamente coberto de nuvens, depois de meses e meses sem chover por estas terras. Era o renovar da esperança, que mesmo assim, perante todos os sinais de infausto, nunca desvaneceu. Trovejou em sussurro sem que antes podessemos visualizar os relâmpagos. Pingos escassos começaram a tamborilar por sobre os nossos tectos, mas pouco tempo depois tudo voltou com era. Sol devastador.

 

Porém, do lado da Maxixe, que fica aqui pertinho, chovia a potes. E no lugar de a precipitação alastrar-se até  onde havia sido anunciada, foi desviada para Homoíne, Panda e Funhalouro, deixando-nos a mercê da canícula e dos pensamentos. Dizem que alguém, cheio de maldade e rancor contra estes lugares, “amarrou” a chuva. Aqui não pode chover, e muitos acreditam nisso. Aliás, eu também, que pensava ter vivido o lado mais dramático da vida, sou tentado a pensar como esses muitos. Até porque aqui mesmo, nas profundezas deste pedaço de mar, há pessoas que vivem em comunhão com os peixes e mariscos afins, incluindo tubarões que têm aparecido como se fossem o terror dos mares. Esses seres humanos naufragaram. Uns reapareceram, e hoje são curandeiros. Outros, contudo, continuam lá, na esperança de um dia voltarem.

 

Nos meados de Dezembro de 2019 eu voltava de Linga-Linga, depois de uma visita familiar. Esse poderá ser o dia mais espectacular dos meus últimos tempos. Fomos perseguidos pela chuva, que entretanto limitava-se a cair à volta do barco à vela que nos transportava, sem nos atingir. Andamos cerca de duas horas à favor do vento, cheios de medo, com a chuva a escoltar-nos, e o marinheiro, experiente nestas andanças, dizia-nos, fiquem calmos, havemos de chegar.

 

Na verdade, depois da Ilha de Inhambane (Giidwane), a chuva desapareceu. Vimo-la voltando para Linga-Linga e ninguém ousou perguntar, mas o que é isto!

terça-feira, 14 janeiro 2020 06:55

Os 7 pecados capitais do nosso Parlamento

1. Pedir a palavra para gastar tempo de antena exaltando o seu presidente do Partido como se ele fosse Deus. "Em primeiro lugar, gostaria de endereçar as minhas saudações ao nosso querido e amado presidente [do partido] pela sua dedicação, abnegação, entrega, altruísmo, responsabilidade,...". É desnecessário e enfadonho. E quando você vai consultar o significado dessas palavras no dicionário descobre que são todas sinónimas. Ou seja, o gajo gasta tempo a dizer a mesma coisa sem saber. Dá até preguiça ouvir essas m*rdas. No entanto, quando entra no assunto de interesse não diz nada. Para piorar, depois dessas infelizes hosanas, começa a insultar o presidente dos outros. Eu acho aquilo uma "granda" filho-da-putice. Você já escovou até chegar aí, não precisa escovar continuamente. Aliás, não é uma boa passarela para exibir esse tipo de talento.

 

2. Não contribuir para o debate. Possas!!! Há deputados que ninguém conhece, nem mesmo no seu próprio círculo eleitoral. Gajos que nunca falam. Eu acho que a plenária da Assembleia da República devia ser como na sala de aula onde o professor obriga que os alunos participem activamente. Deputado que não abre a boca, mas somente bate palmas, ninguém merece. É um desperdício. Tem microfones que nunca foram ligados durante toda a legislatura passada.

 

3. Falar m*rdas. Trazer assunto totalmente oblíquo ao debate. Caramba!!! Esse é pior que aquele que não fala. Está-se a debater orçamento e o fulano levanta assunto de enchimento de urnas e falsificação de editais. Nada a ver! Assim não se produz. E veja que, quando é para se debater a lei eleitoral, o gajo começa a falar do orçamento da sessão passada. É até uma boa piada quando os deputados se insultam, mas se for fora daquele recinto, melhor.

 

4. Voto de disciplina partidária. Não pensar e não analisar o assunto. Votar pura e simplesmente porque o colega votou. Excesso de disciplina partidária. Esse é o principal obstáculo à produção, à produtividade e ao desenvolvimento. Não se pode desenvolver de forma sustentável sem um debate franco. Debate franco passa até por questionar a sua própria ideia. Duvidar dela. Ouvir e avaliar argumentos contrários. Aliás, foi essa cena de disciplina partidária que matou o país com a inclusão deliberada e irracional do calote no Orçamento de Estado.

 

5. Dormir em plenária. Dormir e acordar com palmas. Não sei a que se deve, mas que irrita, irrita. Se sabe que não está em condições de trabalhar, fica em casa e assuma a falta. Assuma o desconto.

 

6. Viver numa província e pertencer ao círculo eleitoral de outra província. Eu nunca entendi isso. E não me conformo. É legal, mas não é justo. Participar da vida das pessoas que diz representar via "Feicibuk" ou WhatsApp é a pior aberração da nossa democracia. Conhecer o seu círculo eleitoral via "Gugle" é simplesmente um desperdício de dinheiro.

 

7. Não se debater o informe do estado da nação do Presidente da República. Está deve ser a milésima vez que escrevo sobre essa palhaçada. É que é uma palhaçada mesmo. Uma autêntica falta de absurdo, como diria o Muzzo. Então, o "empregado" sai dos seus aposentos, vai à casa do seu patrão para dizer o que lhe vem na cachimônia sobre a vida do seu patrão e o patrão não diz nada!? Fica só a ouvir!? A olhar!? Então, o mecânico faz o diagnóstico da sua viatura e você simplesmente assume tudo sem questionar nada!? Não pode saber os motivos da avaria, o preço do serviço, os prazos, as outras alternativas, etecetera!? Afinal, onde fomos buscar esse modelo!? Não seria melhor gravar a mensagem e enviá-la a imprensa, sem ter de gastar palmas e rimas emparelhadas da presidente da Assembleia!?

 

Essas e outras coisas (sem hierarquia entre elas) me tiram o entusiasmo do trabalho parlamentar. Me tiram forças de votar. Juro que gostaria de estar eufórico com a tomada de posse e com o início da nova legislatura, mas desconsoladamente não dá. Infelizmente, é a nossa democracia. Mas, pode mudar... querendo.

 

"Eni-wei", parabéns, aos deputados!

 

- Co'licença! 

segunda-feira, 13 janeiro 2020 06:26

A vida é uma "laife"

Estou a pensar seriamente em abrir um curso intensivo de inclusão, integração e inserção social dos dirigentes e deputados cessantes. É uma iniciativa (pertinente e oportuna, diga-se!) da minha amiga Xanah. Eu alinho com esta ideia, primeiro, pela oportunidade de empreender e ganhar um algum, e, segundo, pelo espírito de cidadania e responsabilidade social individual.

 

Por exemplo, vamos fazer um "coaching" onde essas pessoas vão aprender lidar com "não temos paracetamol" dos hospitais e com "volte amanhã, a pessoa que devia despachar não está" das repartições públicas. Outra disciplina, não menos importante, será sobre pagamento individual das próprias despesas e impostos. Estudos confirmam que as pessoas que serão descartadas, grosso modo, não sabem que comida, água, luz e escola das crianças pagam-se. Não sabem que empregados recebem. Não têm ideia do valor do IVA. São gajos que nunca compraram nada.

 

Alguns desses compatriotas pensam que "Dívidas Ocultas" é uma nova obra poética infantil do escritor Pedro Pereira Lopes. Não acreditam que essas famigeradas dívidas existem de verdade e que o povo está a pagar nas calmas. Será, por isso, necessário fazê-los lembrar que esse calote parou no Orçamento do Estado graças à disciplina partidária dos camaradas.

 

Espera-se que esses senhores e essas senhoras reaprendam a viver sem assistente de campo e sem senhas de combustíveis e vinhos. Espera-se igualmente que se lembrem do PIN dos seus cartões e voltem a pagar sorvetes e viagens com o seu próprio salário. Que ganhem a consciência de que é preciso trabalhar para ter dinheiro e que trabalhar é muito mais do que assinar papéis e comer "bufês" em "workshops".

 

Espera-se que depois do "coaching" essas pessoas voltem paulatinamente a racionar com o cérebro. Que sejam actualizados os DUAT's dos seus órgãos internos e, de uma vez por todas, parem de pensar com o estômago e falar com a cavidade anal. Na verdade, espera-se que esses dirigentes e deputados "rejeitados" caiam na real.

 

Mas também teremos um "coaching" especial para os nossos irmãos lambe-botas que não conseguirem a esperada nomeação. Vamos ministrar disciplinas evangélicas para não desanimarem e não caírem na depressão. Vamos falar da fé e da esperança. Assim, os gajos podem continuar a lamber por mais cinco anos na esperança de um próximo quinquênio melhor. Dói muito saber que há colegas "escovinhas" que lamberam somente um semestre e foram nomeados Pé-Cê-As e você ainda é a incógnita da equação.

 

Esse "coaching" vai-se chamar "a vida é uma 'laife'". Inscrições abertas. O candidato deve ser assaltante... digo, exaltante comprovado da pátria; apresentar cópia autenticada de certidão de preguiça de raciocinar e trabalhar e; carta de motivação de querer ser povo. Não é necessário apresentar fotografia porque nós vos conhecemos.

 

Temos vagas para "coaches": ser apóstolo/a da desgraça convicto/a; não ter comido sequer um atum oficioso e; ter excelente domínio da "Tabela de Nhangumele" na óptica do utilizador. Ter visto "mão externa" uma vez na vida é uma vantagem.

 

Aprioristicamente, agradecido.

 

- Co'licença!