“Sem muito rigor técnico, o “Debate Eleitoral” promovido pelo Grupo SOICO, através da STV, STV Notícias e STV Play, a ter de se classificar os seus intervenientes, em primeiro lugar estaria Augusto Banzo do MDM, seguido de Eunice Andrade da ND, em terceiro lugar Armindo Chembane da ASTIMO e, no último lugar, Venâncio Mondlane da Renamo. Note que Venâncio Mondlane não conseguiu, nos dois momentos, esgotar o seu raciocínio e, na minha opinião, o cronómetro e a natureza das perguntas não lhe foram favoráveis. Para todos, há muito TPC por fazer”
AB
A televisão privada do grupo SOICO organizou e difundiu para o mundo o que se chama de “Debate Eleitoral”. Na minha opinião, foi uma oportunidade para os cabeças-de-lista fazerem-se conhecer ao grande público e à Cidade de Maputo, em particular. Com este programa, o grupo SOICO mostrou, claramente, estar atento à agenda nacional e, mais do que isso, mostrou que é possível trazer, de forma atempada, as ideias dos partidos políticos sobre a governação autárquica.
O moderador esteve à altura, o sistema de contagem de tempo mostrou, de forma objectiva, que é possível fazer-se um trabalho sério sem recurso à “batota”, embora alguns dos representantes dos partidos políticos se tenham mostrado um pouco desconfortados com o sistema, habituados a falar de forma interminável. Mais uma vez, o grupo SOICO mostrou que, para o debate público, com vários intervenientes, é importante o controlo do tempo de forma a não praticar “injustiça” contra alguns e “favorecer” outros. Neste particular, devo manifestar a minha gratidão ao grupo SOICO e seus colaboradores que estão atentos à vida nacional.
Eu acompanhei o programa através da STV Generalista e quando passou para a STV Notícias e STV Play não mais acompanhei, devido à necessidade que tenho de descansar um pouco mais cedo. Contudo, até onde assisti, notei o à-vontade do cabeça-de-Lista do MDM, Augusto Banzo. Na sua primeira intervenção, facilitou o moderador, elencando exclusivamente as três grandes prioridades que nortearão a sua governação, caso ganhe as Autárquicas. Já não se pode dizer o mesmo em relação ao cabeça-de-lista da Renamo, Venâncio Mondlane, que, mostrando o domínio de alguns problemas de Maputo, não estava preparado para o tipo de perguntas do jornalista. Na sua primeira intervenção, divagou sobre a actual Gestão Municipal e, diga-se, não era a pergunta do jornalista.
A representante da ND, Eunice Andrade, também se mostrou à altura das perguntas e respondeu em tempo útil, tendo poupado alguns segundos que não chegou a usá-los. Já Armindo Chembane, cabeça-de-lista da ASTIMO, mostrou que a actividade informal tem futuro e o futuro reside na evolução do comércio informal na perspectiva de formalização, contudo, a formalização que se pretende nada tem que ver com a governação actual. Foi interessante ouvir este membro da Sociedade Civil, vindo do negócio informal, a falar com a eloquência com que o fez, mostrando, de forma clara e objectiva que se pode buscar a solução do mercado informal nos seus actores.
Na abordagem feita pelos cabeças-de-lista do MDM, Renamo, ND e ASTIMO, se fosse a avaliar, daria como nota mais alta ao representante do MDM, de seguida à representante da ND e da ASTIMO e, finalmente, com o valor mais baixo o representante da Renamo. Devo ressalvar aqui e agora que o representante da Renamo pode ter sido traído por dois aspectos essenciais: primeiro, excesso de confiança e, segundo, a natureza das perguntas e o tempo cronometrado. Entretanto, de acordo com o grupo SOICO, haverá muito mais!
Adelino Buque
Razaque Manhique tem o direito de não comparecer aos debates televisivos mas também tem a obrigação moral de dizer o que pensa. Trump gazetou o primeiro debate para a nomeação republicana nos EUA e anunciou que não vai participar no segundo debate, agendado para 27 de Setembro em Simi Valley, na Califórnia.
Mas nesse dia, ele estará em Detroit cortejando os membros do sindicato United Auto Union, em greve, e em horário nobre ele vai continuar a mostrar, falando para a TV, que o candidato republicano é ele, e não os seus pares que estão debatendo também TV. Ele não debate, mas fala e diz o que pensa.
A directoria de campanha da Frelimo tem de pôr o Manhique a falar, nem que seja por teleponto. Não falar é um erro crasso. O eleitorado de Maputo já é demasiado adulto para votar nesse silêncio só por uma questão de manutenção do status quo!
Em tempos frequentei a área de lobby (uma maneira chique de dizer “bar”) de uma unidade hoteleira da praça laurentina (também uma maneira chique para dizer “praça maputense) e apercebi-me, através do barman, de que o bar fora tomado por uma certa etnia/tribo que “derrubara” uma anterior, incluindo a língua de comunicação do bar. Coisas do “Agora é a nossa vez”.
E por falar no “Agora é a nossa vez”, enquanto conceito sobre a emergência de uma nova ordem, acho de que ele não derruba ou toma tudo do que existia. É o caso do sobrenome das famílias. Há famílias que podem até perder o poder do dia ou financeiro, mas nunca o sobrenome que as identificam, incluindo até, e sobretudo, certas características ou qualidades como as de uma família tradicional ou chique.
Sobre isto lembro-me de uma novela brasileira em que uma família despencou financeiramente, mas fazia questão de manter a pose e a áurea identitária de ser uma família tradicional ∕clássica, a que domina a arte da fala, da cortesia e das boas maneiras.
Estou a falar disto a propósito de uma recente conferência de imprensa da empresa Tmcel onde ela, praticamente, anunciou que estava de volta ao mercado. Um mercado que já fora a área de lobby sob seu total e completo domínio, em concreto das duas extintas empresas que a geraram: as defuntas Mcel e TDM.
Este final de semana voltei a unidade hoteleira citada acima, talvez por conta da notícia da empresa Tmcel que me animara bastante. Estava curioso em saber se a onda da retoma chegara também a área de lobby do hotel. Perante a minha curiosidade, o barman perguntou-me se já se haviam realizado as eleições locais e nacionais. Trocamos sorrisos.
“Deixe o seu número e ligo logo que se registarem mudanças”. Prontamente acedi e deixei o meu 82 com o barman. Este, depois de apontar, com ar estupefacto, o número no seu dispositivo, remata: “82, o sobrenome chique das telecomunicações em Moçambique”.
Nando Menete publica às segundas-feiras.
“População jovem cresce rápido e analfabeta, tendo passado de 5.3 milhões para 9.4 milhões entre 1997 e 2017. Trata-se de pessoas entre os 15 e 35 anos de idade e as províncias de Nampula e Zambézia são as que contribuem com maior natalidade e, no sentido oposto, encontram-se Niassa e Província de Maputo”.
Fonte: Carta de Moçambique, estudo do INE – Instituto Nacional de Estatística
“O estudo publicado pelo INE – Instituto Nacional de Estatística, sendo oportuno, revela o quanto não se tem pensado no país real, hoje. Moçambique importa desde a caixilharia para os imoveis, mobiliário de casa e de escritório, produtos de origem agrícola, carteiras para os estudantes, num país com potencialidades agrícolas de invejar, com a silvicultura e florestas nativas para a produção de madeira a dar com o “pau”. Ainda que houvesse formação profissional massiva, quem seria o comprador dessa produção dos jovens, se tudo importamos sem nos preocuparmos com a produção nacional. Importamos até roupa interior usada! Meu Deus, Moçambique precisa de ultrapassar certas atitudes e pensar no bem-estar do seu povo, em especial para a Juventude”.
AB
O estudo publicado, recentemente, pelo INE – Instituto Nacional de Estatística é bastante assustador. Avisa que, nos últimos 20 anos, a população jovem moçambicana cresceu na ordem de 4.1 milhões de pessoas, saindo de 5.3 milhões em 1997 para 9.4 milhões em 2017. Trata-se de jovens com idade entre 15 a 35 anos e, destes números, 9.4 milhões de jovens, 5 milhões são mulheres, ou seja, a população feminina continua a crescer de forma desproporcional em relação à masculina. O estudo indica que as províncias com maior fertilidade são as de Nampula e Zambézia e, de seguida, alerta:
“Esta situação sugere que existe um contingente de jovens com potencial, que não tem sido aproveitado através de investimentos na sua educação, formação e enquadramento profissional. Dado que uma parte considerável dos jovens são pouco educados, não estão envolvidos em nenhum tipo de formação profissional e nem enquadrados em nenhum sector produtivo da sociedade, estes têm o potencial elevado para se tornar numa fonte de instabilidade social”.
Estudo do INE. Publicado no Jornal electrónico “Carta de Moçambique”
Segundo o mesmo estudo, as províncias de Maputo e Niassa são menos férteis em termos de crescimento da Juventude, passaram de 200 mil em 1997 para 600 mil em 2017. Ora, os números, embora não se comparem com as províncias de Nampula e Zambézia, em termos quantitativos, são, na minha opinião, bastante elevados quando comparados com os investimentos necessários nas áreas de Educação no geral e na formação profissional em particular. Mas se os números são assustadores, a realidade é pior ainda porque, em abono da verdade, o inquérito refere-se a 2017, sendo que passam cinco anos e a realidade piorou. Espero estar errado.
Por outro lado, os dados aqui publicados pelo INE vêm mostrar que as escolas de formação profissional existentes em Moçambique, sobretudo, as tuteladas pela Secretaria de Estado da Juventude e Emprego, não têm estado à altura da demanda juvenil. Mostram ainda que o ingresso a essas formações constitui um grande privilégio aos beneficiários, sendo urgente a mudança desse estado de coisas. Este estudo foi feito em 2017, sendo que passam cinco anos e não me parece que tenha mudado muita coisa no terreno. Ou seja, não me parece que o estudo tenha colocado à reflexão o sector de educação e formação profissional, pois, deveria ter melhorado alguma coisa.
É urgente a massificação da formação profissional, mas, acima de tudo, é urgente a mudança do nosso mercado de economia, que privilegia muita importação de bens que podem ser produzidos localmente. Por exemplo, importamos carteiras, num país produtor de madeira, as caixilharias para a construção civil, hoje, são predominantemente importadas, as mobílias de casa e de escritórios são importadas e, diga-se, com belos acabamentos, mas de consistência duvidosa. Trata-se de mercadorias que poderiam ser produzidas em Moçambique.
Ainda que se abram muitas escolas de formação profissional para as pessoas cursarem, se não puderem produzir para abastecer o mercado, o paradigma não irá mudar. A importação de bens agrícolas, da vizinha África do Sul, é também exemplo de que, mesmo formando técnicos agrícolas em quantidade, se a concorrência continuar desleal com a importação de bens do vizinho, essa gente ficará sem trabalho.
O anúncio do estudo é oportuno, mas as coisas não podem ser vistas na perspectiva de educação e formação profissional apenas, a análise deve ser vista na perspectiva de mudança do nosso paradigma económico, o que deve vir de fora e o que devemos produzir internamente. Muito recentemente, por ocasião da CASP – Conferência Anual do Sector Privado, o lema foi sobre a Industrialização, mas foi uma corrente de lamentações, com destaque para a Indústria Gráfica, em que o livro é importado com isenção e a matéria-prima para alimentar a indústria gráfica local tem impostos a pagar. É urgente pensar-se na economia como um todo, incluindo o processamento de parte das commodities produzidas na agricultura, na indústria extractiva e outros sectores da economia.
Adelino Buque
Há um sinal inequívoco de que a África Austral não está alheia aos acontecimentos do resto da África, que os eleitores de hoje são, maioritariamente, jovens que não viveram o colonialismo e que nada justifica a penúria económica dos seus países na actualidade. A maioria desses jovens que vivem na penúria terão sido colegas de alguns que vivem na abundância e fartura hoje e eles se questionam, porque para alguns o colonialismo continua marcante e para os outros as coisas são bem diferentes. O punhado de compatriotas que vivem na fartura e exibem sem se coibirem pode ser a gota de água que fará transbordar o copo. Moçambique que se prepare e crie um discurso de reconciliação e de partilha convincente.
Mas a rejeição por parte dos observadores da SADC dos resultados que dão vitória ao candidato da Zanu-PF, Emmerson Mnangagwa, com 52,6% contra 44% do seu opositor mostra, igualmente, que a fraude não é a melhor forma de se conseguir a vitória. O grau de vigilância eleitoral, quer através dos partidos nacionais quer por observadores internacionais e da região, cresceu e todos clamam por resultados justos. Moçambique deve tirar lições das eleições do Zimbabwe, sobretudo, no que diz respeito ao manifesto eleitoral para jovens e mulheres, duas classes determinantes, na minha opinião, para se fazer eleger.
Zimbabwe merece sair da crise em que se encontra!
“África Austral parece caminhar rumo à Democracia, não se deve parar o vento com as mãos, pois não é todos os dias que observadores das eleições da SADC chumbam eleições da própria região, uma vez que a maior parte deles são os libertadores que governam e são eles que determinam quem deve ser observador. No caso do Zimbabwe, mais do que observadores, são os Chefes de Estado que não quiseram testemunhar a investidura de um “Golpista” eleitoral, como considera Siphosami Malunga, advogado e activista dos Direitos Humanos zimbabueano.
A perpetuação do poder de Emmerson Mnangagwa fará com que o Zimbabwe continue na linha de pobreza, com mais de 18 mil milhões de USD de dívida externa e 175% de inflação no mês de Junho. A probabilidade de negociação da dívida parece estar gorada com a declaração de eleições não justas e nem transparentes, pela quase totalidade de observadores das eleições, desde a SADC, a UA, EU e outros observadores. Obrigado presidentes da zona Austral, que boicotaram a investidura com ausência no Estádio Nacional do Zimbabwe”.
AB
“As eleições foram usurpadas pelo partido no poder com interesses próprios e não resolvem a crise de legitimidade nem fornecem um roteiro para salvar a economia devastada. Os resultados anunciados unilateralmente sábado à noite, dando ao Presidente Emmerson Mnangagwa 52,6% dos votos, foram possíveis devido ao seu domínio sobre o poder judicial, agências de segurança e, acima de tudo, uma Comissão Eleitoral repleta de apparatchiks do partido no poder.”
In Siphosami Malunga, no CDD: Siphosami Malunga é um advogado constitucional e de direitos humanos do Zimbabwe que trabalhou em eleições em África e no mundo.
Ontem, 11 de Setembro de 2023, na página do CDD, dirigido pelo Prof. Dr. Adriano Nuvunga, vem inserido um longo artigo sobre as eleições de 23 de Agosto de 2023, no território vizinho e amigo do Zimbabwe. Igualmente, o Jornal electrónico “Carta de Moçambique” faz a publicação sobre a vitória de Emmerson Mnangagwa que servirá de sufoco à população sofrida do Zimbabwe, com mais de 10 milhões de habitantes procurando a vida em territórios fora do Zimbabwe.
Nas publicações acima referidas, considera-se gorado o esforço do Antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Alberto Chissano, que, junto com o BAD – Banco Africano de Desenvolvimento, liderou ou lidera esforços para a negociação da dívida externa do Zimbabwe, estimada em mais de 18 mil milhões de USD. Uma das condições para o efeito eram eleições “livres e justas”, o que certamente não aconteceu. O nível de desorganização, para alguns “organizado”, das eleições do Zimbabwe foi tal que a votação, no lugar de 12 horas estipuladas, levou dois dias.
A presença do Presidente Filipe Jacinto Nyusi deve ser vista em contexto histórico nas relações Moçambique – Zimbabwe. Para os mais novos pode não ser compreensível, mas o Zimbabwe é um país que ascendeu à independência com o apoio de Moçambique, através dos soldados internacionais, da aplicação de sanções à Rodésia de Ian Smith, entre outros sacrifícios, conscientemente consentidos. Na actualidade, o antigo Presidente Joaquim Alberto Chissano está a procurar mediar o retorno da economia daquele país à normalidade e seria inglório virar as costas hoje e na situação em que está o país.
Na verdade, a não participação dos 13 Chefes de Estado na tomada de posse de Emmerson Mnangagwa pode ter sido concertada entre os Chefes de Estado da região, mas não deixa de mostrar que as más práticas no que concerne às eleições deve pertencer ao passado. Zimbabwe continuará a precisar da África Austral para prosseguir e, mais do que o presidente, a população Zimbabueana precisará muito mais, por isso a presença de Moçambique, África do Sul e a República do Congo deve ser vista como um sinal de apoio aos esforços de reforço da amizade e cooperação, até porque estes são os países que mais acolhem refugiados do Zimbabwe.
Zimbabwe não é Moçambique, é verdade!
Neste momento, os políticos moçambicanos, sobretudo no seio do Partido Frelimo, não podem ficar indiferentes aos acontecimentos no Zimbabwe, sobretudo porque, como escrevi acima, a Zanu-PF é um Partido que recebeu e recebe um forte apoio de Moçambique. Tirando a questão da dívida externa e da inflação de Junho, num país que já não possui moeda nacional, a base de agricultura do Zimbabwe é mais robusta que a nossa, a recuperação na produção agrícola depois da crise das terras é uma realidade. Então, que lições se deve tirar daquela votação!? Eis a questão!
A primeira lição é que há ventos de mudança em quase toda a África, que a época dos Partidos de Libertação, que não souberem se adaptar está prestes a terminar e a nova era de libertação económica está em marcha. Na verdade, o grande mal dos territórios africanos é de não possuir ideias novas sobre como se sair do marasmo económico em que nos encontramos. A questão é a capacidade de rotura entre a antiga estrutura económica criada pelo sistema colonial que prevalece e a criação de uma nova estrutura económica que beneficie os africanos.
As antigas colónias da França em África estão a liderar pelo exemplo. São jovens de 30 a 40 anos que rompem com os acordos de 1960, que permitiam a França beneficiar-se dos recursos dos seus países sem contrapartidas. São estes jovens dirigentes emergentes e não comprometidos com o antigo colono que pretendem libertar a África da dependência económica. Moçambique, por exemplo, com a exploração de Gás natural em Cabo-Delgado e Inhambane, as populações locais não sentem nenhuma mudança nas suas vidas. Em Cabo-Delgado, as contas falam de uma percentagem ínfima de exploração para Moçambique e estamos satisfeitos!
Finalmente, o eleitor de ontem e de hoje são total e completamente diferentes. Os jovens eleitores de hoje não conheceram o colonialismo, por isso falar de pobreza originada pelo colonialismo, para eles, soa à piada, pese embora algumas situações sejam justificadas. Mas para a juventude não faz sentido, exactamente, porque consegue ver um punhado de cidadãos nacionais, alguns com quem certos jovens estudaram, com uma vida melhor e sucedida. No entanto, não eram melhores na escola, porque será! Creio que não preciso de dar resposta, todos têm ideia das razões.
Adelino Buque
Escrevo este texto, o primeiro dos vinte, sobre o jornalista moçambicano José Belmiro. Serão, no fundo, vinte textos no total - ou talvez mais; acho que vinte textos são suficientes para empilhar o entulho da desonestidade desse grande jornalista.
Sou diminuto demais, confesso, para escrever sobre esse jornalista, mas a desonestidade brilhante que carrega em suas atitudes e discursos são impressionantes. Não façam fé em mim, também tenho sido desonesto, também tenho tido trambolhões, mas em matéria de desonestidade, estupidez e insensatez, acho que tenho muito a aprender com esse grande jornalista.
Um jornalista e amigo já me tinha falado das atitudes embonecadas que este jornalista usou para desfilar a cintura nos corredores da Comissão Nacional de Eleições para, no fim, mandar à fava quem lá o colocou. No fundo, ele fez o que fazem os capitães da desonestidade: encher a barriga, arrotar insensatez e depois mostrar a todos que a coisa mais importante é o prato e não a pia onde tudo termina ensopado.
José Belmiro, rodeado por um vagão de juristas carregados de sacos de códigos e leis, pensa que pode tudo, pensa que pode escarafunchar o nariz dos outros com a vara da sua desonestidade. Vem-me à lembrança uma passagem de uma carta do Papa Celestino VI, dirigida aos “condutores dos povos”, que me sinto na obrigação de citá-la: “o servilismo dos que vos rodeiam, menos para servir do que para explorar, alimenta em vós o orgulho e a ilusão do poder”.
José Belmiro foi desonesto comigo - ainda o é -, foi desonesto com tantos outros que ontem me contaram os seus episódios, os seus filmes de terror, os seus gestos amaneirados de usar as pessoas e a sua atitude de responsável quando se enforca num écharpe de jornalista e jurista. Haja paciência!
Capitão da desonestidade é uma designação que terei de um romance medieval quando um certo autor se referia a um padre que roubava os bens da igreja. E José Belmiro não rouba os bens da igreja, não desonra a igreja, mas ele faz um culto sagrado à desonestidade. Ele faz crescer empresas e empresas, remando com a bengala da desonestidade, esperneando as pessoas, usando as estilhas da força dos outros e, ao fim do dia, está-se nas tintas com todos e tudo.
Estou a meter os parágrafos à matroca, neste texto, simplesmente para criar um certo equilíbrio entre a desonestidade desse jornalista e as tantas personagens que andam consigo. Como alguém é capaz de ser tão desonesto assim? Como alguém que se diz empresário, jornalista, assessor e jurista acumula, também, todos os cacifos da desonestidade? Existe pouca gente honesta, pois os muitos desonestos que existem abocanham toda a desonestidade, deixaram apenas migalhas.