Cosme Jacinto Nyusi, irmão do actual Presidente da República de Moçambique (PR), está a posicionar-se como um dos homens fortes nos negócios do sector mineiro em Moçambique. Em 2015, quando Filipe Nyusi assumiu o cargo de Presidente da República, Cosme Jacinto Nyusi não tinha sequer um registo empresarial em seu nome.
No entanto, em 2017, o irmão do PR estreia-se no mundo dos negócios através da empresa Maganhux, Lda. dedicada à prestação de serviços na área de electricidade. Entre 2019 e 2022, Cosme expandiu os seus investimentos para o sector mineiro, tendo registado, neste período, pelo menos três empresas do sector mineiro em seu nome. Além disso, o irmão do PR adquiriu participações empresariais no mesmo sector.
Estas constatações estão num estudo publicado recentemente pelo Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização da sociedade civil que há cerca de duas décadas luta pela boa governação na esfera pública. A organização relata que até 2015, ano em que Filipe Nyusi ascendeu ao cargo de PR, Cosme era um simples jurista, mas em 2017, entra para o mundo dos negócios de exploração de recursos minerais com o registo da empresa Maganhux, Lda., da qual é sócio juntamente com Lourenço Magaço Júnior.
“As empresas registadas em nome de Cosme Nyusi no sector de mineração estão baseadas/sediadas em províncias altamente ricas em recursos naturais, com destaque para Nampula, Cabo Delgado, Tete e Manica”, lê-se no relatório do estudo.
O CIP descobriu que a mais recente das empresas do sector de mineração registadas em nome de Cosme Nyusi é a Dinema Minerais, Lda. A empresa foi criada em Março de 2022 e tem Cosme Nyusi como sócio maioritário, com 80% do capital social. Os restantes sócios, nomeadamente, Filipe Cosme Jacinto Nyusi e Miguel Ângelo do Rosário Nhusse Chicophier, com 10% do capital cada, são igualmente membros da família Nyusi.
Segundo os documentos consultados pela organização, a Dinema Minerais, Lda. está baseada na província de Nampula e tem como principais actividades a exploração, comercialização e exportação de recursos minerais. Entretanto, esta empresa ainda não dispõe de licença de exploração.
Da vasculha, o CIP descobriu também a JOMACO Minerais, Lda., constituída em Agosto de 2021, uma empresa do sector de mineração detida pelo irmão de Filipe Nyusi. Cosme Jacinto Nyusi é sócio da empresa com 30% do capital. Outros accionistas, nomeadamente Jorge José Mirione e Marcelino Cornélio Pedro, controlam respectivamente 30% e 40% do capital social da empresa.
“Os documentos de registo da empresa indicam que esta está baseada na província de Tete - onde detém licenças para a exploração de recursos naturais - e tem como objecto social, entre outros, a gestão e exploração de títulos mineiros; prospecção, compra e venda de minerais diversos”, acrescenta a fonte.
Outro registo empresarial de Cosme Nyusi, descoberto pelo CIP, é a BEITTA Resources, Lda., baseada em Montepuez, Cabo Delgado, com licenças para a exploração de recursos minerais nesta província. A empresa foi criada em 2019 e é detida por Cosme Jacinto Nyusi, Chao Oin e Jordão André.
A nossa fonte descreve que, de acordo com os documentos de registo da empresa, constituem actividades a pesquisa, prospecção, exploração e comercialização de recursos minerais, e consultoria e agenciamento da actividade mineira, petrolífera e gás, entre outras.
Aquela organização constatou ainda que, para além destas empresas, Cosme Jacinto Nyusi adquiriu, em 2020, participações na empresa Crystal Mining, Lda., que explora recursos minerais nas províncias da Zambézia e Nampula. A empresa é igualmente detida pelo empresário maliano Ibrahim Bocoum.
O CIP ressalva que a ascensão de figuras politicamente expostas - titulares de cargos públicos, seus familiares e pessoas próximas - no mundo empresarial, e no sector de mineração em particular, é padrão em Moçambique. Foi assim durante a governação de Joaquim Chissano, continuou com Armando Guebuza e na governação de Filipe Nyusi a prática repete-se.
“O percurso empresarial de Cosme Nyusi encaixa-se neste padrão: uma figura inexpressiva no mundo dos negócios que desde que o seu irmão ascendeu ao cargo de PR passou a criar empresas e a adquirir participações empresariais no sector mineiro”, sublinha-se no relatório do estudo.
Por fim, a organização ressalta que, embora a participação de pessoas politicamente expostas (como é o caso de Cosme Nyusi) em negócios do sector extractivo não seja em si ilegal, esta representa elevados riscos de corrupção, evasão fiscal, lavagem de dinheiro, entre outros, sobretudo quando não são publicamente conhecidos os indivíduos que “efectivamente controlam estas empresas e delas se beneficiam. (Carta)