A aposta do Governo moçambicano de construir um sistema de trânsito rápido de autocarros (BRT) tem o potencial de impulsionar uma revolução ao nível da mobilidade urbana no país, considera Lucília Sportono, uma especialista em Direito do Transporte, numa análise sobre a iniciativa que publicou na sua conta de Linkedin.
“O BRT, concebido como um sistema de transporte de passageiros que circula por faixas exclusivas, oferece, ao contrário do autocarro convencional, uma maior capacidade, rapidez e eficiência na sua manutenção e maior segurança para os passageiros”, defende Sportono, consultora no ramo de transporte.
Uma vez que não partilha a via de circulação com outros veículos, o BRT diminui a congestão, evita atrasos e confere uma maior previsibilidade à viagem, avança ainda.
Por outro lado, o sistema tem também um menor impacto ambiental, pois reduz as emissões de gases de efeito estufa e libertação de fumo, prossegue.
Aquela perita assinala que em Agosto de 2022, o Banco Mundial aprovou uma doação de US$ 250 milhões para o projeto de Mobilidade Urbana em Maputo.
Nesta linha de acção, o Ministério dos Transportes e Comunicações de Moçambique lançou o programa “MOVE MAPUTO”, sob o lema “Fazemos o longe ser perto, transportando pessoas e encurtando distâncias”.
Embora se assemelhe apenas a um projecto de infra-estrutura, o MOVE é muito mais do que isso. O projecto visa melhorar os serviços prestados aos usuários, fortalecer as instituições responsáveis pelo transporte urbano, aprimorar o quadro regulatório e legislativo, apoiar a profissionalização dos operadores, financiar a habilitação dos funcionários do sector público e prestar formação para os jovens profissionais de diferentes disciplinas, de modo a habilitá-los para se tornarem os futuros líderes da mobilidade urbana, destaca-se.
O MOVE inclui o plano para uma linha de BRT de 19 quilómetros, que conta com um percurso segregado, conectando o centro de Maputo à Praça da Juventude em Magoanine e à Rotunda Missão Roque em Zimpeto.
O serviço de BRT também irá oferecer rotas directas, que ligam a outros terminais importantes em Maputo, Matola e Marracuene, abrangendo um total de 46 quilómeteos de BRT não segregados. O BRT proporcionará serviços directos e de qualidade para cerca de 124 mil passageiros por dia.
Os bairros atendidos terão acesso a estradas mais seguras e resilientes, com iluminação e passeios renovados, rotas de peões, ciclovias, estradas asfaltadas e sistemas de drenagem de água.
Além da infra-estrutura, o projecto prevê a possibilidade de adquirir 120 autocarros, que realizarão aproximadamente 1.150 viagens diárias, o que permitirá uma oferta adicional de cerca de 40 milhões de viagens por ano.
Assim, o BRT trará benefícios significativos para a acessibilidade, incluindo redução do tempo de viagem em cerca de 22%, descongestionamento do tráfego, segurança rodoviária e redução da poluição ambiental.
Lucília Sportono refere ainda que o projecto promove uma mobilidade urbana mais eficiente e sustentável, ajudando a tornar a cidade de Maputo um lugar mais agradável e habitável para todos.
O anúncio do Ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique sobe a adopção de veículos elétricos para o BRT representa uma grande oportunidade para Moçambique, destaca ainda.
A especialista enfatiza que o país subsidia fortemente os combustíveis fósseis, representando quase 9% do PIB, enquanto os subsídios ao transporte público são apenas 0,05% do PIB (22).
Actualmente, um autocarro consome em média 90-110 litros de combustível por dia e percorre cerca de 200 km, enquanto um chapa gasta cerca de 20% a mais de combustível, e emite 50% mais de CO2 por quilometro, transportando menos passageiros, nota, estes factores afectam negativamente a produtividade laboral, a saúde respiratória e reduzem o tempo útil do dia.
Além disso, a dependência de combustíveis fósseis torna o custo do transporte mais sensível a aumentos de preços, o que pode resultar em tarifas mais altas e impactar os grupos de rendas baixas, especialmente nas áreas urbanas (24).
BRT eléctrico
Electrificar o BRT será uma oportunidade para reduzir as emissões de CO2, melhorar a qualidade do ar, reduzir a dependência de combustíveis fósseis e reduzir os custos de transporte. Além disso, pode criar oportunidades para a economia local, especialmente se os veículos elétricos forem produzidos e mantidos localmente.
“A ideia de um novo paradigma começou em 2019, quatro anos antes do lançamento do projeto MOVE, quando se deu início à coordenação e implementação de políticas de mobilidade na Área Metropolitana de Maputo.
Neste sentido, foram promovidos cursos de formação para funcionários do governo, com o objetivo de consciencializar técnicos e tomadores de decisões políticos, sobre os novos modelos de mobilidade.
A sociedade de Maputo também foi convocada a participar num evento que simbolizou uma mudança para transportes mais sustentáveis como a primeira via de bicicleta pela cidade (15), que reuniu mais de uma centena de pessoas.(Carta)