Está completamente aniquilado o poderio militar da Renamo, o principal partido da oposição no xadrez político moçambicano, com o encerramento, na manhã desta quinta-feira, da principal base militar do seu braço armado.
O acto, que teve lugar no Posto Administrativo de Vunduzi, distrito de Gorongosa, província de Sofala, marcou a conclusão do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos homens armados da Renamo, no âmbito da implementação dos Acordos de Cessação das Hostilidades, assinados a 01 de Agosto de 2019, na Serra da Gorongosa, entre os Presidentes da República e da Renamo, Filipe Jacinto Nyusi e Ossufo Momade, respectivamente.
Lembre-se, o processo de DDR iniciou a 31 de Julho de 2019, com a desmobilização dos primeiros antigos guerrilheiros da Renamo no famoso Quartel-General da Renamo, em Gorongosa, tendo abrangido um total de 5.221 antigos combatentes da “perdiz”. Aliás, o encerramento da Base de Vunduzi estava previsto para o dia 19 de Dezembro de 2022, porém, a cerimónia acabou sendo adiada devido ao boicote protagonizado por um grupo de guerrilheiros, que exigia o pagamento de pensões.
Discursando na cerimónia de encerramento do principal reduto da Renamo, o Chefe de Estado disse que o DDR durou “o tempo necessário para a devida maturação”, numa clara justificação aos quatro anos que o Governo e a Renamo levaram para concluir o processo.
“Durou o tempo necessário para criar a confiança, meio-caminho para o sucesso de qualquer processo”, defendeu Filipe Nyusi, sublinhando que o DDR iniciou e terminou na temida Serra da Gorongosa por ser o Estado Maior General da Renamo, de onde os homens armados da “perdiz” controlavam as restantes bases militares.
Por outro lado, o Presidente da República explicou que a demora na conclusão do DDR se deveu à falta de dinheiro para o pagamento de pensões. Aliás, segundo o Chefe de Estado, as pensões não faziam parte do Acordo, tendo sido inclusas durante os debates. Acrescentou ainda que o processo de pagamento das pensões demorou devido ao atraso na conclusão do DDR, pois, era necessário, primeiro, registar, desarmar e desmobilizar os beneficiários para se proceder com o pagamento das pensões.
Para Filipe Nyusi, a conclusão do DDR “representa o escalar de mais um degrau no caminho para o alcance de uma paz duradoura”, resultando do diálogo que se manteve com a liderança da Renamo, pelo que, apela à confiança entre as partes para o alcance da almejada reconciliação nacional.
“Não deve haver cidadãos de primeira e de segunda” – Ossufo Momade
Por sua vez, o Presidente da Renamo, Ossufo Momade, entende que o desfecho positivo do DDR resulta do firme compromisso de Filipe Nyusi e da comunidade internacional, “que souberam atravessar as barreiras que pretendiam manter o país refém do conflito político-militar”.
No entanto, o Líder do maior partido da oposição revela que, desde a desmobilização da primeira base, a Renamo tem assistido actos contrários às suas aspirações, com destaque para a perseguição e assassinato dos guerrilheiros desmobilizados, recusa de atribuição de espaços para construção de habitação e a não fixação de pensões, “o que colocou os nossos compatriotas num ambiente de desconfiança e privação de condições condignas”.
“Num país que se pretende reconciliado, não pode e nem deve haver cidadãos da primeira e da segunda categoria, porque todos são filhos da mesma pátria e o poder político deve ser alcançado através de eleições livres, justas e transparentes”, defendeu Momade, sublinhando que “não há paz quando o ódio, a perseguição, a intolerância e a exclusão social continuam a ser motivos de discórdia no país”.
Referir que na manhã de hoje, foram desmobilizados, na Serra da Gorongosa, um total de 347 antigos guerrilheiros da Renamo, sendo que a última arma foi entregue, simbolicamente, pelo Presidente da Renamo ao Presidente da República. (A. Maolela)