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sexta-feira, 19 janeiro 2024 07:00

Manuel de Araújo Quelimane admite concorrer à liderança da Renamo

O reeleito autarca moçambicano de Quelimane, Manuel de Araújo, admitiu ontem concorrer à liderança da Renamo se não vir “respostas” dos candidatos para os problemas do país e que Ossufo Momade, atual presidente, só com “uma metamorfose” pode continuar.

 

“Se nenhum deles responder, aí eu vou ter que avançar ou vou apoiar outros que respondam a essas perguntas”, afirmou Manuel de Araújo, em entrevista à Lusa, numa altura em que - não tendo sido ainda confirmada a realização de qualquer congresso eletivo na Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) -, três militantes já anunciaram que querem disputar a liderança do maior partido da oposição, num ano em que Moçambique realiza eleições gerais, incluindo para Presidente da República, em outubro.

 

“Se a Renamo quer manter o epíteto de pai da democracia não basta dizer da boca para fora que é pai da democracia, deve aparecer como pai da democracia. A Renamo está no mar alto, é um momento decisivo para a história da Renamo”, alertou o autarca de Quelimane, capital da Zambézia, membro do Conselho Nacional da Renamo e um dos mais populares militantes do partido.

 

No cargo desde dezembro de 2011, Manuel de Araújo, 53 anos, viu a Comissão Nacional de Eleições anunciar a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder) vencedora das eleições autárquicas de 11 de outubro último em Quelimane, perante a contestação generalizada aos resultados e acusações de “fraude”. Ao fim de 45 dias de manifestações diárias, esse anúncio seria revertido já em novembro pelo Conselho Constitucional, que proclamou Manuel de Araújo vencedor em Quelimane, na sequência da verificação das atas e editais da votação.

 

Nestas eleições autárquicas, a Renamo passou de oito autarquias, num total de 53, para apenas quatro, após intervenção do Conselho de Constitucional, entre 65 municípios (12 novos). Nas últimas legislativas o partido perdeu ainda mais de 30 deputados e não elegeu qualquer governador provincial.

 

O partido é liderado por Ossufo Momade desde a morte de Afonso Dhlakama, em maio de 2018, mas o mandato dos órgãos do partido, reforça Manuel de Araújo, expirou em 17 de janeiro: “Estão fora do seu mandato, portanto com menos legitimidade”.

 

Estranha por isso as declarações, este mês, do porta-voz do partido, José Manteigas, que apontou Ossufo Momade como candidato nas eleições gerais de outubro ao cargo de Presidente da República.

 

“A Renamo ou vai provar ao mundo que, na verdade é um partido democrático, segue os seus princípios convocando o Conselho Nacional e eventualmente o congresso seguindo métodos democráticos, ou então vai curvar à esquerda e vai para o caminho da antidemocracia, contra os teus próprios princípios”, contestou Araújo.

 

Mesmo sem congresso eletivo ou reunião da comissão nacional convocadas, três militantes já anunciaram que pretendem concorrer à liderança da Renamo, casos do deputado e ex-candidato à autarquia de Maputo, Venâncio Mondlane, do filho do líder histórico do partido, Elias Dhlakama, e do ex-deputado Juliano Picardo.

 

“A escolha é nossa. Neste momento, a liderança da Renamo tem que fazer essa escolha. Ou continuamos a ser os pais da democracia ou passamos a ser os padrastos da democracia”, avisou, voltando a pedir a convocação do Conselho Nacional para definir os próximos passos da vida interna do partido.

 

E o futuro, admite, até pode passar por Ossufo Momade a liderar a Renamo: “Não há dúvidas que a Renamo precisa de uma maior velocidade, a Renamo precisa de sangue novo, a Renamo precisa de uma liderança mais presente, mais pujante. A questão é se o presidente Ossufo Momade, aparecer mais pujante, mais arrojado, mais visível. Ele vai ter que fazer uma metamorfose dele próprio”.

 

Até lá, Manuel de Araújo insiste que é observador.

 

“Se eu notar de que não há uma candidatura que responde aos interesses da juventude, que responde aos interesses da intelectualidade, que responde aos interesses das mulheres, que responde aos interesses dos antigos combatentes e dos combatentes da liberdade, nessa altura, eu, como militante do partido, ver-me-ei obrigado e forçado a lançar uma candidatura alternativa”, disse.

 

Araújo recorda que há pessoas “que lutaram durante 16 anos” e “perderam a sua juventude” ou mesmo morreram para Moçambique conquistar a democracia e que também para os antigos combatentes da Renamo não há respostas ou soluções face às dificuldades do processo de desmobilização.

 

“Esses são problemas que eu quero ver nesses manifestos [dos candidatos]. Se esses manifestos respondem a isso ou não. Eu não vou votar em pessoas, vou votar em programas. Se o presidente Ossufo Momade responder essas perguntas, eu posso alinhar com ele (…) E se ninguém responder, acho que vamos ter que responder avançando”, concluiu.(Lusa)

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