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quinta-feira, 25 abril 2019 14:30

Nyusi nos corredores da diplomacia moçambicana na China, por Egídio Vaz*

“Moçambique é um país irmão e amigo da China: e reafirmamos a nossa disposição para o seu desenvolvimento”, Xi Jinping. Foi assim que o Presidente Chinês resumiu a audiência concedida ao Presidente Filipe Nyusi, quando o recebeu no Palácio do Povo, ontem. A manhã e tarde da quarta-feira, dia 24 de abril de 2019, não foram quaisquer para Jinping. Ele teve uma torrente de audiências com seus homólogos, chefes de Estados, que aceitaram o convite para participarem do II Fórum Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional, a ter lugar de 26 a 27 de Abril em Pequim. Ao todo são 120 Estados e 90 organizações internacionais que assinaram o compacto do Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional, incluindo Moçambique.

 

Xi Jinping tinha que os receber em audiência entre 24 e 25 de abril. Em média, o Presidente Chinês dedicou até 25 minutos para cada Chefe do Estado. Mas, para o caso de Moçambique, foi diferente. A irmandade entre China e Moçambique também se provou na prática, olhando para o tempo que os dois Chefes de Estado levaram a conferenciar: nada menos que 85 minutos (1hr, 25min), numa demonstração inequívoca de que havia muito que falar e partilhar informação mutuamente importante para os dois. O episódio foi igualmente demonstrador das habilidades diplomáticas do nosso Presidente Nyusi, cujo rastro de simpatia e afeto contagia a todo e qualquer um que o conhece.

 

O Presidente Filipe Nyusi foi o primeiro de todos a ser recebido pelo Chefe do Estado chinês, Xi Jinping. Imediatamente o PR foi recebido pelo número dois da República chinesa, o Presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, Li Zhanshu, também conhecido nos meandros da diplomacia chinesa como “o padrinho de Moçambique”, com quem almoçou naquela tarde. Não é para menos, se tivermos em conta que o resto dos Chefes de Estado tiveram apenas 25 minutos com o Presidente Xi. O russoVladmir Putin, que chega hoje a Pequim, será dos últimos a serem recebidos pelo Presidente chinês.

 

Só para dar mais um ou dois exemplos da destreza diplomática do presidente moçambicano. Na manhã de hoje, 25 de Abril, Raila Odinga, antigo Primeiro-ministro queniano e atual líder da oposição, teve que aguardar pelo Presidente Nyusi à saída do Hotel para lhe saudar. Não havia tempo e Odinga sabia que, se tivesse perdido aquele instante, muito dificilmente lhe encontraria. E também Odinga queria fazer ciúmes ao seu Presidente, Uhuru Kenyatta, que tudo fez para que se hospedasse no mesmo Hotel onde o seu “irmão” Presidente Nyusi se encontra.

 

Não conseguiu; pois perdera a reserva em benefício da recém-eleita Presidente da Indonésia, Joko Widodo. As 08:35, o Presidente Nyusi irrompia dos elevadores e eis que o abraço aconteceu, para a alegria de ambos. Odinga não estava no Hotel para mais nada. Abraçou, saudaram-se em KiSwahili e depois evadiu-se do espaço. Odinga havia chegado na noite anterior e soube da presença do Presidente Nyusi, pelo que procurou todas formas de o saudar, antes do raiar do sol.

 

Aconteceu o mesmo com a atual Directora-Geral do FMI, Christiane Lagarde, quando, em plenos “anos ranhosos” e quando ninguém queria falar com Moçambique, Presidente Nyusi encontrou-a no seu gabinete em Washington e lá se tornaram amigos.

 

Mas, voltemos ao assunto principal: à semelhança dos outros Presidentes que o precederam, o Presidente Nyusi também tem uma meta e um desafio pessoal que pretende realizar. Ligar o Zumbo ao Chinde. Diríamos por, outras palavras, ligar por estrada o Distrito do Zumbo ao Oceano Índico. Este foi um dos temas na mesa das discussões, ao que China se prontificou em atender/financiar. A ser concretizado, serão 1123 km de estrada ligando todas as províncias do centro de Moçambique, o que vai melhorar a vida das populações dos distritos de Zumbo, Fíngoe, Moatize, Doa, Mutarara (Tete); Morrumbala, Chinde, Luabo e Mopeia (Zambézia); Caia, Chemba (Sofala); Tambara (Manica), para além de ainda melhorar as relações comerciais, mobilidade de pessoas e bens não só para os moçambicanos como para os países do “hinterland”, nomeadamente Malawi, Zâmbia e Zimbabwe.

 

De igual modo, a EN1 não ficou esquecida. A China está disposta a financiar a reabilitação da estrada de modo a torná-la numa via de referência na região. Não é brincadeira. E, para fechar com chave de ouro, o Presidente Nyusi não se esqueceu dos estragos do IDAI. Xi reafirmou a disponibilidade da China em participar da reconstrução do país. E, para tal, ela vai também ajudar a reabilitar a EN6, que vai da cidade da Beira a Machipanda, fortemente sabotada pelas águas das chuvas do Ciclone IDAI.

 

Se olharmos para tudo o que escrevi em termos de resultados, chegamos a conclusão de que o Cinturão e Rota de que tanto se fala é isso mesmo: melhoria ou criação de melhores infra-estruturas de transporte e comunicação, interligando pontos de interesse nacional e estes com outros pontos de interesse internacional, por forma a melhor integrar as economias e escalar as sinergias de cooperação internacional.

 

Um Moçambique bem interligado é vantajoso não apenas para o país como para a região. E, no limite, a ambição de Xi é subverter o legado colonial nessa vertente, dado que ela foi feita para servir os interesses colonialistas e não necessariamente dos povos. E para terminar, um Memorando de Entendimento foi assinado entre o Ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, e sua contraparte chinesa, para a construção de uma estrada que vai de Namacurra a Macuse, numa extensão de 50 km. Esta estrada é de capital importância dado que em Macuse projeta-se a edificação de um porto cuja construção irá brevemente arrancar. O Fórum ainda não acabou mas, pelos resultados garantidos, vale a pena dizer que a diplomacia moçambicana funcionou. E bem. (*Em Pequim/Colaboração)

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