O PODEMOS (Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique), que suporta a candidatura presidencial de Venâncio António Bila Mondlane, denunciou, na manhã desta segunda-feira, a existência de um plano para viciar dados eleitorais em benefício dos dois maiores partidos políticos do país, nomeadamente Frelimo e Renamo. A denúncia foi feita por Albino Forquilha, Presidente do Partido, em conferência de imprensa concedida hoje, em Maputo.
Segundo Forquilha, o plano, que resulta de “ordens superiores”, passa, primeiro, por retirar o PODEMOS do primeiro lugar, que lhe é devido, de modo a acomodar a Frelimo no poder e, segundo, por dar votos à Renamo, de modo a mantê-la como segunda maior força política do país.
Tal plano, revela Forquilha, visa “honrar os compromissos políticos que existem entre o partido Frelimo e o Líder da Renamo”, fazendo com que Ossufo Momade continue sendo o Líder da Oposição, “custando a justiça eleitoral feita pelo povo nas urnas, votando no PODEMOS e fazer com que ele perca todo mérito que ele teve neste pleito eleitoral”.
“Os resultados [da votação de quarta-feira] que estamos a ter, a nível dos distritos, não são aqueles que o povo, efectivamente, depositou nas urnas, isto tendo em vista a responder à esta ordem superior para que o PODEMOS não consiga estar, nem no primeiro, nem no segundo lugar”, afirma.
O Presidente do PODEMOS garante ter provas que sustentam a sua posição, assim como do seu candidato presidencial, porque “temos actas e editais das Mesas”. Aliás, no último fim-de-semana, Venâncio Mondlane publicou um link dos editais em sua posse, guardados no Google Drive. Os editais mostram, na sua maioria, a vitória de Mondlane, em contradição com os resultados oficiais que apontam para vitória da Frelimo e Daniel Chapo em quase todo país.
Por isso, Forquilha defende que o Partido PODEMOS “nunca irá permitir e nunca irá aceitar a promulgação e validação desses resultados pelo Conselho Constitucional sem que haja uma confrontação dos resultados anunciados pelos distritos e os produzidos nas Mesas, distrito por distrito”.
Para além de acomodar a Frelimo no poder e a Renamo na segunda posição, a viciação dos resultados eleitorais visa também, segundo Forquilha, “manter a supremacia da Frelimo no Parlamento, por forma a aprovar as leis a seu belo prazer”, por um lado, e, por outro lado, manter a Frelimo e a Renamo “como pilares da Lei Eleitoral”, de modo a continuarem a “coordenar a manutenção da injustiça eleitoral”, que se carateriza pela existência “de uma lei objectiva e não abstrata”.
Esta foi a primeira reacção do Presidente do PODEMOS desde que o país foi à votação, na quarta-feira, no âmbito da realização das VII Eleições Presidenciais e Legislativas e IV das Assembleias Provinciais, que incluem a eleição do Governador da Província. Forquilha disse ter muitos membros reunidos pelo país, esperando por orientações superiores do partido para reagir à injustiça eleitoral.
“Nós vamos continuar a fazer esta luta política, denunciando e conversando com todos para perceber o nível de injustiça eleitoral neste país, mas também estamos a interpor recursos junto dos Tribunais Distritais por forma a termos alguma resposta deste nível para que a justiça seja reposta”, defende Forquilha, afastando, do momento, qualquer reação violenta.
Mantendo a “injustiça eleitoral”, o Presidente do PODEMOS afirma que “o povo saberá o que fazer” porque o processo eleitoral é do povo moçambicano e não de um partido. “Se o processo eleitoral, em Moçambique, não responde a democracia, então teremos de encontrar outros mecanismos para que a justiça se reponha neste país”, sentenciou.
Refira-se que, até ontem, a contagem paralela de Venâncio Mondlane apontava sua vitória com 53%, em todo país, à frente de Daniel Chapo, que contava com 39%. Ossufo Momade aparecia na terceira posição com 5%, enquanto Lutero Simango era o quarto e último lugar com 3%. O nível de processamento era de 53,01%.
Do apuramento paralelo feito pela equipa de Venâncio Mondlane e do PODEMOS, Daniel Chapo, que é apontado vencedor das eleições presidenciais, pelos órgãos eleitorais, vencia em apenas três províncias, nomeadamente, Gaza, Inhambane e Niassa, sendo que, nas províncias de Inhambane e Niassa, a vitória de Chapo não ultrapassava 50%.
No entanto, os resultados oficiais, indicam a vitória de Daniel Chapo e Frelimo em todo país, com mais de 50% dos votos. Pelos resultados oficiais, a Frelimo deverá ter, mais uma vez, mais de dois terços dos deputados, o que lhe poderá garantir legitimidade para, querendo, alterar a Constituição da República (A.M.)