Para Manteigas, esta "é uma matéria de Estado (…) é o Estado que tem de garantir a defesa e tranquilidade do país”. O político nega que o líder da RENAMO, Ossufo Momade, não tenha sido eleito pelos militares, afirmando que "estes estão representados nos órgãos internos da RENAMO”.
O porta-voz da “Perdiz” apela à autoproclamada "Junta Militar” a não recorrer à força das armas para viabilizar as suas reivindicações.
DW África: Em entrevista exclusiva à DW África, esta segunda-feira (26.08), o presidente da autoproclamada "Junta Militar da RENAMO”, Mariano Nhongo, prometeu inviabilizar a realização das eleições gerais, porque o partido de que diz ser líder "supostamente” foi excluído do processo eleitoral. Como lidar com esta situação de ter-se um partido com dois líderes?
José Manteigas (JM): A RENAMO reconhecida no ordenamento jurídico moçambicano como partido político é esta liderada por Ossufo Momade. Agora, se Mariano Nhongo não vai permitir a realização das eleições, isso não é o nosso posicionamento. Nós vamos concorrer em todos os círculos eleitorais do país, quer nas presidenciais, assim como para as assembleias provinciais. Este é o desafio que temos pela frente, por isso sempre dissemos que estamos focados nas eleições.
DW África: Mas o senhor Mariano Nhongo ameaça emboscar a qualquer partido político que fizer campanha eleitoral. Isso preocupa-vos ou não?
JM: Preocupa. Mas atacar pessoas indefesas, entidades públicas e personalidades isso configura um crime. Se o senhor Mariano Nhongo tem alguma reivindicação a fazer, nós achamos que não deve ser por via das armas, porque isso é uma afronta ao Estado de direito democrático moçambicano.
DW-África: Qual é o posicionamento público da RENAMO, face a estas ameaças do senhor Mariano Nhongo?
JM: Esta matéria remete-nos à intervenção do Estado. É o Estado que tem de garantir a defesa, segurança e tranquilidade do país. As Forças de Defesa e Segurança saberão posicionar-se para fazer face a esta situação.
DW África: Nhongo acusou Ossufo Momade de não ter sido eleito pelos militares. A pergunta que fazemos é: O que é que regem os estatutos da RENAMO? Os militares elegem o presidente do partido de forma paralela?
JM: A RENAMO é um partido político. Portanto, a eleição dos seus órgãos é feita em Congresso. O partido esteve reunido na Serra da Gorongosa, entre os dias 15 e 17 de Janeiro, deste ano, no VI Congresso que elegeu Ossufo Momade como presidente da RENAMO e os respetivos órgãos do partido. Daí que qualquer acto praticado à margem e à revelia destes órgãos, não é obra do partido. E os seus actores não se identificam com a RENAMO.
DW África: Neste Congresso, que elegeu Ossufo Momade como presidente da RENAMO, os militares tiveram direito a voto?
JM: Há uma particularidade neste congresso, primeiro foi realizado na Serra da Gorongosa onde estiveram os militares do estado-maior general da RENAMO. Segundo, nos órgãos do partido estão também presentes os militares, como são os casos do Jossefo de Sousa (membro da Comissão Política do partido) e tantos outros (…). Portanto, os militares estão integrados nos órgãos do partido, por isso ninguém pode dizer que estão excluídos.
DW África: Mariano Nhongo diz estar em conversações com deputados da RENAMO na Assembleia da República, para criação de uma comissão que se vai encarregar de renegociar o DDR [Desarmamento, Desmobilização e Reintegração] com o Governo moçambicano. Afinal quais e quem são estes deputados que estão a cumprir ordens do senhor Ossufo Momade e ao mesmo tempo do Mariano Nhongo?
JM: Este é um pronunciamento que deixa muito a desejar. Não sei com que deputados ele está a lidar e o que está a negociar. O que lhe posso dizer é que a bancada parlamentar da RENAMO é dirigida pelo presidente do partido e recebe orientações da RENAMO. Portanto, não tenho conhecimento desta tal negociação. (DW)