A maratona do “namoro” ao eleitorado entra hoje, quinta-feira, para o vigésimo dia. Embora com alguns episódios de violência, resultado da incivilidade e intolerância dos partidos concorrentes, do ponto vista formal, a campanha corre conforme o previsto. Entretanto, salta à vista o facto de, até ao dia de ontem (quarta-feira), figuras de proa filiadas aos três principais partidos políticos da praça nomeadamente, Frelimo, Renamo e Movimento Democrático de Moçambique, não terem dado “ar da sua graça”.
15 de Outubro do ano corrente é o dia convencionado para a votação. A maratona de “caça” ao voto, de acordo com o calendário facultado pelos órgãos eleitorais, termina no dia 12 de Outubro. Os dias 13 e 14 estão reservados para que os eleitores reflictam sobre aquelas que serão as suas escolhas.
A lista dos que, até aqui, não foram capturados pelas objectivas dos jornalistas que cobrem de forma abnegada as actividades diárias dos partidos políticos participantes do escrutínio é curta. No topo, pelo gabarito, figura o ex-Presidente da República e também Presidente Honorário do Partido Frelimo, Armando Guebuza, figura idolatrada por uns e execrada por outros.
Desde que iniciou a campanha eleitoral no passado dia 31 de Agosto não se tem qualquer imagem de Armando Guebuza envolvido em actividades de “caça” ao voto. O ex-estadista moçambicano, cujo “reinado” foi marcado pela contratação, à revelia dos órgãos de soberania, de mais 2 biliões de USD a favor da EMATUM, PROINDICUS e MAM, que arrastaram o país à sarjeta, nem na rede social Facebook, com maior número de usuários no país e no mundo, foi visto em acções de campanha.
O Presidente Honório da Frelimo nem sequer apareceu, ainda, nos vídeos propagandísticos do partido Frelimo, onde, até aqui, já apareceram figuras como o Padre Filipe Couto, a jurista Ivete Mafundza, o empresário do ramo dos transportes Amade Camal, a deputada Ana Rita Sitole, a dar o testemunho a favor do partido e do seu candidato presidencial.
A última aparição pública de Armando Guebuza foi durante a visita de sua Santidade Papa Francisco, que escalou o país de 04 a 06 de Setembro prestes a findar. Primeiro num evento que teve lugar no Palácio Presidencial, a Ponta Vermelha, onde apareceu sentado ao lado de Joaquim Chissano, antigo Presidente da República e, igualmente, Presidente Honorário da Frelimo. Seguidamente, quando abordou o desaparecimento físico de Robert Mugabe, para quem era um “verdadeiro combatente”.
Aliás, Joaquim Chissano, lembre-se, reuniu, na passada segunda-feira (16), na cidade de Maputo, com funcionários públicos, onde, na ocasião, pediu votos a favor do candidato da Frelimo, Filipe Nyusi, que concorre à sua própria sucessão. No evento, em que quase todos os funcionários públicos estavam vestidos com as corres da Frelimo, o antigo estadista moçambicano teceu duras críticas aos indivíduos que têm estado a promover actos de violência durante a campanha. O antigo Chefe de Estado ainda foi visto ontem a conquistar votos na Matola.
Após a visita do Sumo Pontífice, nem Armando Guebuza ou outro seu parente directo foi visto nos primeiros dezanove dias da campanha eleitoral.
Samora Machel Júnior, filho do primeiro Presidente de Moçambique independente, Samora Machel, é outro que, nos dezanove dias, não se fotografou ou deixou-se fotografar pelos “escribas”. O filho de Samora Machel, num passado não muito distante, foi protagonista principal de um braço-de-ferro que nem as duas sessões do Comité Central (CC) da Frelimo, órgão decisório entre os Congressos, foram capazes dar qualquer desfecho.
A confrontação nasceu na senda de um processo disciplinar aberto contra ele (Samora Machel Jr.) na sequência da sua candidatura à presidência da Autarquia da Cidade de Maputo pela AJUDEM, um movimento cívico, nas eleições autárquicas realizadas no ano passado, 2018.
Na sua defesa (que se confundiu com um libelo acusatório) ao processo disciplinar que lhe fora instaurado, o membro do Comité Central sugeriu, na altura, a suspensão de Filipe Nyusi por violação grosseira dos estatutos e sugeriu que se abrisse espaço para que outros membros se candidatassem a candidato do partido Frelimo nas próximas Eleições Gerais.
A III Sessão Ordinária do Comité Central da Frelimo decidiu, recorde-se, conceder mais tempo ao Comité de Verificação, órgão de disciplina do partido, para trabalhar no processo, isto depois de Samora Machel, quando chamado a se explicar durante a reunião magna, ter dito que jamais falara fora dos órgãos. Aliás, disse, igualmente, que tudo quanto se falava na imprensa, à data, era obra da imaginação criativa dos órgãos de comunicação social.
Das Sessões do CC a esta parte, Samora Machel Jr. apenas apareceu “publicamente” no passado mês de Junho, numa entrevista concedida a um canal privado de televisão, na qualidade de Presidente do Conselho de Administração da Montepuez Ruby Mining.
O outro que tem dado pouco nas vistas, para não dizer que simplesmente não se conhece qualquer aparição pública, é Elias Dhlakama, irmão mais novo do falecido líder histórico da Renamo, Afonso Dhlakama.
Depois de ter desistido da corrida para encabeçar a lista da Renamo na eleição para Governador da Província de Sofala, alegadamente por ter sido surpreendido e, por via disso, não ter tido tempo para se preparar para o desafio, Elias Dhlakama ainda não foi visto a calcorrear as ruas daquela província em beneficio da Renamo e do seu candidato presidencial, Ossufo Momade.
Elias Dhlakama foi candidato derrotado à presidência da Renamo pelo actual presidente do partido, num escrutínio em que participaram também Manuel Bissopo e Juliano Picardo, durante o Congresso realizado na Gorongosa, em Janeiro último.
Para Governador de Sofala, a Renamo apostou em Noé Marrimbique, um professor bem afamado pelas terras do Chiveve. Desde que iniciou a campanha, Elias Dhlakama foi visto apenas numa foto promocional, tirada à entrada de um imóvel, em que aparece descontraído ao lado do seu sobrinho, filho de Afonso Dhlakama. Na imagem, Elias Dhlakama surge vestido com um casaco e boina que ostentam os símbolos do partido.
Ainda no partido Renamo, o destaque vai, mas também pela negativa, para a ausência do antigo Secretário-Geral do Partido e actual membro da Comissão Permanente da Assembleia da República, Manuel Bissopo. Manuel Bissopo, que concorre ao cargo de deputado da AR pelo círculo eleitoral de Sofala, ainda não foi visto de “fato-macaco” a namorar o exigente eleitorado daquela província geneticamente com simpatias pelos partidos da oposição, menos com a sua figura.
Candidato derrotado nas eleições autárquicas de 2008, em Dondo, derrotado nas eleições autárquicas de 2018, na Beira, derrotado por Ossufo Momade nas internas para a presidência do partido e, mais tarde, afastado do posto de Secretário-Geral, Manuel Bissopo está votado ao esquecimento.
Desde a sua destituição do cargo de Secretário-Geral do partido não se tem em memória qualquer intervenção de vulto da sua autoria. Na Assembleia da República tem brilhado pelas suas raríssimas intervenções nos debates durante as sessões plenárias. Coincidência ou não, o facto é que desde que Ossufo Momade ascendeu à liderança do partido pouco ou quase nada se tem visto de Manuel Bissopo, tal como se tem verificado desde que iniciou a campanha eleitoral. (Ilódio Bata)