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segunda-feira, 04 novembro 2019 06:23

Versão do “proprietário” da viatura usada no assassinato de Matavele: “emprestei ao Nóbrega que pediu para uma emergência familiar”

O caso do assassinato de Anastácio Matavele ainda vai fazer correr muita tinta. Depois do jornal Savana da última sexta-feira ter revelado que afinal a viatura usada pelos agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), no assassinato de mais um dos destemidos filhos de Gaza, pertence ao actual Edil de Chibuto, Henrique Machava, que, por sua vez, diz ter vendido para Ricardo Manganhe, na edição de hoje, “Carta” traz a versão do indivíduo que se diz ser o proprietário da viatura.

 

Ricardo Manganhe, técnico no Conselho Municipal de Chibuto, falou à Carta de Moçambique, na tarde de ontem, domingo. À Carta, Manganhe tratou de confirmar que é sim o actual proprietário da viatura de marca Toyota, modelo Mark X, com a chapa de inscrição ADE 127 MC, em virtude de tê-la adquirido a Henrique Machava.

 

 

A “viatura de Ricardo Manganhe” foi usada pelos cinco agentes pertencentes à tropa de elite da Polícia, nomeadamente, a Unidade de Intervenção Rápida e o Grupo de Operações Especiais que, à queima-roupa e em plena luz do dia, tiraram a vida de Anastácio Matavele.  

 

Manganhe diz que comprou a viatura a Henrique Machava a um preço de 250 mil meticais, tendo ele pago, tal como disse, uma parte do valor, no caso 200 mil meticais, faltando, neste momento, apenas 50 mil para a conclusão do negócio. Sobre os documentos que atestam a propriedade de viatura, Manganhe contou que está refém do pagamento do valor em falta, razão pela qual usava a viatura com os registos do anterior proprietário. 

 

“Emprestei ao Nóbrega. Ele veio pedir emprestado alegando que tinha uma emergência familiar” 

 

Ricardo Manganhe disse que, na verdade, não sabe como a sua primeira e única viatura foi parar nas mãos dos assassinos de Anastácio Matavele. A única coisa que sabe dizer é que emprestou a sua viatura a Nóbrega Justino Chaúque, agente da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), que perdeu a vida no aparatoso acidente em que o “gang” se envolveu depois de assassinar Anastácio Matavele.

 

Manganhe explicou que emprestou a viatura a Nóbrega Chaúque porque ele pedira sob o argumento de que pretendia atender a uma emergência familiar. Manganhe disse que cedeu a viatura a Chaúque no passado dia 5 de Outubro (sábado), dois dias antes do assassinato de Matavele.

 

A amizade com Nóbrega Chaúque, tal como disse, remota aos tempos da escola. Aliás, contou também que até os pais de Nóbrega são afilhados de tios seus.   

 

A fonte que temos vindo a citar avançou que Chaúque, com quem reza na Igreja Assembleia da Deus (embora não na mesma paróquia), garantira-lhe, no dia em que veio levar a viatura, que devolveria na segunda-feira (dia 7 de Outubro), por sinal o dia em que Anastácio Matavele foi assassinado. 

 

“Emprestei ao Nóbrega (Chaúque). Ele veio pedir o carro alegando que tinha uma emergência familiar e precisava do meio para se locomover. Eu emprestei o carro porque é um amigo. Para além de amigo, é um irmão da Igreja (Assembleia da Deus). Os pais de Nóbrega são afilhados dos meus tios”, explicou Manganhe.

 

Contou ainda ao nosso jornal que aquela não era a primeira vez que emprestava o seu carro a Nóbrega Chaúque, mas nunca imaginara que o seu amigo tivesse uma conduta duvidosa e que pudesse usar a sua viatura para actos ilícitos.

 

Manganhe disse, igualmente, que ainda não foi notificado pelas autoridades policiais para prestar qualquer esclarecimento em torno do assunto.

 

“Eu emprestei o carro a um amigo. Nunca imaginei que ele estivesse a pedir o meu carro para fazer aquilo. Para mim aquilo foi um choque. Fiquei sem saber o que fazer. Até agora não sei o que fazer. Nunca imaginei que ele andasse nessa vida”, atirou Manganhe.  

 

“Não se fez compra e venda porque quem comprou não concluiu o pagamento”, Henrique Machava

 

Ainda na tarde de ontem, “Carta” contactou o edil de Chibuto, Henrique Machava, com intuito de ouvir a sua versão dos factos. Ao nosso jornal, Machava começou por dizer que vendeu a viatura a Ricardo Manganhe no passado mês de Agosto.

 

A viatura que, segundo disse, pertencia à sua esposa, foi vendida a Ricardo Manganhe a 250 mil meticais e só não se fez ainda a alteração dos dados de registo porque o comprador não pagou todo o valor. Dos 250 mil mts acordados, tal como disse Machava, Manganhe apenas pagou 200 mil meticais, faltando, neste momento, 50 mil meticais, que serão pagos, tal como disse, no presente mês de Novembro.

 

Aliás, Machava explicou que o valor remanescente, a princípio, devia ter sido pago no passado mês de Setembro, mas Manganhe pediu o alargamento dos prazos.     

    

Henrique Machava disse que, apesar de não ter recebido a totalidade do valor, a viatura vinha há muito a ser usada por Ricardo Manganhe, anotando que só este último é podia, melhor que ninguém, explicar o facto de a viatura ter sido usada pelos agentes da PRM que crivaram de balas Anastácio Matavele.

 

Anastácio Matavele foi, recorde-se, assassinado no passado dia 7 de Outubro por um grupo de cinco agentes da PRM, pertencentes às forças especiais, nomeadamente, a UIR e o Grupo de Operações Especiais (GOE).

 

Edson Silica, Eclidio Mapulasse, Nóbrega Chaúque, Martins William e Agapito Matavel foram os executores. Edson Silica e Eclidio Mupalasse encontram-se presos. Nóbrega Chauque e Martins William perderam a vida no acidente de viação. Agapito Matavel, tal como deram a conhecer as autoridades policiais na última quarta-feira, continua em parte incerta. (Ilódio Bata)

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