Na verdade, a nomeação para cargo de PCA é vista como uma gratificação pela sua entrega abnegada à causa do “lambebotismo”, que abraçara desde a criação do famigerado “G40”, grupo de choque do partido Frelimo, cuja paternidade é atribuída a Gabriel Muthisse e a Jossias Maluleque, pseudónimo de Edson Macuácua.
O “G40” foi institucionalizado no segundo e último mandato de Armando Guebuza. Sua actividade central, para além de hossanas e louvores à Frelimo, seus líderes e acções, ainda que contrárias aos interesses da maioria, e diabolizar e assassinar o carácter de todos aqueles que ousassem e ousam pensar diferente do partido-Estado.
A ascensão de mais um “G40” para um cargo de chefia e direcção nas instituições públicas tem lugar depois de, no passado dia 6 de Novembro prestes a findar, o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, ter conferido posse a Amorim Bila, outro integrante do grupo, cuja competência técnica é questionável, para o cargo de Director-adjunto do Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFIM).
No seu currículo (de Cumbane) enquanto membro activo daquele grupo de choque, consta a intolerância e instigação exacerbada ao ódio contra vozes contrárias às políticas do governo do dia, tendo, por via da sua conta na rede social Facebook e sob olhar inerte dos órgãos da administração de justiça, ameaçado, de forma velada, alguns analistas políticos da praça.
Em Maio último, Cumbane visou ferozmente Samora Júnior, filho de Samora Machel, primeiro Presidente de Moçambique independente, por este ter, publicamente, se oposto a algumas decisões tomadas por Filipe Nyusi, Presidente da República e do partido Frelimo.
No mês em alusão, Cumbane escreveu também uma “carta aberta” a Armando Guebuza, por sinal seu “pai e ídolo político”, em que o acusa de ser o “mastermind” dos ataques que têm estado a ocorrer na província de Cabo Delgado, região norte do país, desde Outubro de 2017.
À data, Julião Cumbane chegou mesmo a afirmar que Armando Guebuza, que praticamente virou alvo preferencial dos seus post, transformou os “Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) numa organização criminosa e antipatriótica” que usa parte do dinheiro do calote para alimentar a matança naquela província costeira.
Entretanto, durante o reinado de Armando Guebuza, o “prof” era o defensor e mor do seu “pai e ídolo político”. Proferia vitupérios contra todos que tomassem a liberdade em questionar a qualidade e a oportunidade de algumas decisões tomadas pelo então Presidente da República. Até quem ousasse no usufruto da liberdade de expressão, direito constitucionalmente consagrado, e com fito de contribuir para a construção do Estado, era vexado impiedosamente.
Durante a recém-terminada campanha eleitoral, isto, para as eleições do passado dia 15 de Outubro, através da sua conta naquela rede social, foi, a par de Egídio Vaz e Julião Arnaldo, outra dupla do “G40”, dos membros mais activos em matéria de caça ao voto a favor de Filipe Nyusi e do partido Frelimo. Nos seus inúmeros posts, para além de partilhar imagens de comícios e chavões de Filipe Nyusi, dedicava atenção especial em ridicularizar os partidos da oposição e os seus respectivos candidatos, configurando a Renamo o seu principal alvo.
Aliás, é de notar que o professor Cumbane, ainda no período convencionado para “caça ao voto”, postou, igualmente, na sua conta do Facebook, uma foto em que ele aparece todo enrolado na bandeira da Frelimo, numa clara demonstração de apoio e lealdade. Importa fazer menção que, no ano passado, 2018, Teodato Hunguana e Teodoro Waty avançaram com uma queixa-crime contra Julião Cumbane por alegadas ameaças proferidas por este último, igualmente, num post no Facebook.
Na missiva, Cumbane disse, na altura, que as opiniões de Hunguana e Waty faziam parte de uma campanha de conspiração para tomar controlo do Estado. Teodato Hunguana e Teodoro Waty, membros da Frelimo, por via de artigos de opinião e interpretação jurídica, defendiam que houve exageros de interpretação da Lei nas decisões da Comissão Nacional de Eleições, cujo escopo foi o afastamento das candidaturas de Venâncio Mondlane, na altura cabeça-de-lista da Renamo, e a AJUDEM, um movimento cívico, que tinha como cabeça-de-lista Samora Machel Júnior.
Quem é Julião Cumbane?
Julião João Cumbane, natural da província de Inhambane, é docente da Faculdade de Ciências da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Licenciou-se em Física, na mesma Universidade, em 1994, com uma monografia intitulada “Estudo do Efeito da Temperatura no Redimensionamento das Células Solares” e, mais tarde, fez o mestrado e doutoramento na Universidade de WitWatersrand, na vizinha África do Sul.
É docente da disciplina de Física Ambiental e em 2017 tentou sem sucesso leccionar a disciplina de Física Estatística (disciplina do terceiro ano). Devido às dificuldades que os estudantes estavam a enfrentar para assimilar os conteúdos, a direcção da faculdade tomou a decisão de substituir o “prof” Cumbane, antes do término do semestre, por um professor de nacionalidade Cubana de nome Jesus Hernandez.
Com vista a não prejudicar os estudantes, adoptou-se um regime especial, que na verdade foi extensão do tempo de aulas convencionado para cadeira, de modo a permitir que os mesmos pudessem concluí-la. (Ilódio Bata)