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terça-feira, 21 janeiro 2020 06:00

“Quem me julga é Deus, tenho consciência do que faço” – responde Shafee Sidat à suposta traição ao islamismo

Desde o último sábado, 18 de Janeiro, que circulam mensagens condenando a participação de Shafee Sidat, Administrador do distrito de Marracuene, província de Maputo, na cerimónia tradicional de abertura da época de “canhú” – bebida tradicional – naquela parcela do país, por alegadamente estar a violar os princípios islâmicos.

 

As referidas mensagens, supostamente trocadas entre Feizal Sidat – Presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF) e irmão de Shafee – e um “conhecido”, próximo da família Sidat, condenam a participação do Administrador de Marracuene na referida cerimónia e afirmam que “não podemos vender o nosso iman (fé) por causa da política”.

 

O facto é que Ahmad Shafee Sidat participou recentemente, na qualidade de mais alto representante do Estado naquele distrito da província de Maputo, numa cerimónia tradicional de abertura da época de “canhú”, que coincide com o lançamento das festividades do “Gwaza Muthini”, a ter lugar no dia 02 de Fevereiro, data em que se celebra a passagem de mais um aniversário da batalha de Marracuene, que teve lugar em 1895, opondo as forças rongas, comandadas pelo jovem príncipe Zixaxa, às forças portuguesas, comandadas pelo Major Alfredo Augusto Caldas Xavier.

 

Na referida cerimónia, Shafee Sidat ajoelhou, tal como manda a tradição, e acompanhou a cerimónia de invocação dos espíritos de Marracuene, tendo depois tomado a bebida tradicional “canhú” e, de seguida, visitado campas dos “Mabjaias”, os líderes tradicionais daquele distrito.

 

Ora, esta atitude, normal na cultura moçambicana, é tida como anti-islâmica. Segundo alguns fiéis daquela religião, é proibido fazer rituais de invocação de defuntos, assim como é proibido ingerir bebidas alcoólicas. As fontes consultadas pela “Carta” defendem que Shafee podia ter participado da cerimónia, mas sem nenhuma intervenção directa no ritual, deixando para um cristão a missão.

 

À “Carta”, Shafee Sidat foi grosso e directo: “Quem me julga é Deus. Sou adulto e responsável pelo que faço. Tenho consciência do que faço. Não aceito ser julgado por ninguém, além de Deus”, defendeu, negando prolongar com a conversa.

 

Entretanto, algumas fontes entendem que o facto de Shafee Sidat não ser cristão não implica que tenha de detestar os rituais por estes praticados, já que este tipo de atitude pode levar-nos a um ambiente de “ódio religioso”.

 

Aliás, as mesmas fontes sublinham que o Estado moçambicano é laico e, na qualidade de representante do Estado, em Marracuene, era sua obrigação participar da cerimónia, tal como faz o Presidente da República e demais representantes do Estado em cerimónias do género.

 

Refira-se que a cerimónia de invocação de espíritos, denominada “Kupahla”, é uma tradição secular na sociedade moçambicana e a mesma serve para chamar os antepassados a testemunhar a realização de um determinado evento. A cerimónia é tida como de vital importância, de modo que a cerimónia decorra num ambiente tranquilo e pacífico.

 

Lembre-se que Ahmad Shafee Sidat é Administrador do distrito de Marracuene, desde Agosto de 2019, tendo substituído no cargo Juvêncio Mutacate, que conduziu os destinos daquele distrito desde Setembro de 2017. (Carta)

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