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BCI
quinta-feira, 04 junho 2020 06:05

Mercados municipais podem ser focos de propagação da Covid-19 em Nampula

Nampula passou, em 24 horas, a ser a segunda província do país com maior número de casos de infecção pelo novo coronavírus, depois do diagnóstico, de segunda para terça-feira, de 47 casos positivos, tendo aumentado de 14 para 61, o número total de casos até aqui registados naquele ponto do país.

 

A informação deixou a sociedade quase de boca aberta, tendo em conta que a província foi uma das últimas a entrar no mapa da Covid-19 no país. Entretanto, um estudo conjunto conduzido pelo Observatório do Meio Rural (OMR) e pela Universidade Católica de Moçambique (UCM), no passado mês de Maio, aponta a cidade de Nampula como a que menos cumpre com as medidas de prevenção, decretadas pelo Governo no âmbito do Estado de Emergência.

 

O estudo, que teve lugar nas cidades de Maputo, Beira e Nampula, tinha como objectivo avaliar o nível de cumprimento das medidas de prevenção da Covid-19 nestas cidades e focou-se no comportamento dos cidadãos na utilização de máscaras, luvas e cumprimento do distanciamento social, assim como na higienização de locais de maior concentração de pessoas. O estudo incidiu em quatro grandes espaços, nomeadamente: terminais e paragens de transporte; mercados municipais; casas de pasto (barracas); e cemitérios e casas mortuárias.

 

E foi nos mercados municipais que a pesquisa constatou as maiores irregularidades na terceira maior cidade do país. De acordo com a pesquisa, publicada esta semana pelo OMR, na edição nº 92 da publicação “Observador Rural”, o nível de cumprimento das directrizes governamentais relativamente à utilização de máscara é bastante reduzido naqueles locais.

 

Dos sete mercados observados pelos pesquisadores (Belenenzes 2, Waresta, Descida-Cavalaria, Cotocuani, Comauto, Bairro Central e Matadouro), o mercado Waresta é o único que tinha todos os vendedores observados com máscara, enquanto os restantes apresentavam uma percentagem não superior a 30. “De acordo com a observação, entre 25% e 31% dos vendedores observados nos mercados municipais de Nampula usavam máscara, tendo essa ausência sido mais notada no mercado de Cotocuani, onde nenhum vendedor utilizava”, descreve o estudo de 37 páginas.

 

“O comportamento dos consumidores nos mercados revela ainda menor precaução, ainda que mostrando uma ligeira tendência de crescimento geral, de 15%, na primeira observação, para 31% na segunda. O desleixo foi mais evidente nos mercados de Descida-Cavalaria e Cotocuani, onde nenhum cliente foi observado com máscara”, acrescenta a fonte.

 

De acordo com a pesquisa, não só há pouca cultura do uso da máscara, como também há pouco cumprimento das normas do distanciamento social, quer por parte da maioria dos vendedores (27% não cumpriram as normas na segunda observação), quer da parte dos clientes (apenas 2% respeitaram a distância de segurança).

 

Pessoas escolarizadas com baixa cultura de uso da máscara

 

A pesquisa conduzida pelos académicos João Feijó (OMR) e Ibraimo Hassane Mussagy (UCM) analisou o perfil sociodemográfico da população que utiliza máscara e constatou que, na cidade de Nampula, a taxa de utilização da máscara é mais elevada entre os homens (48,9%) que entre as mulheres (35,7%) e que é ligeiramente mais elevada na faixa etária com mais de 40 anos (66,7%) e menos evidente entre a população entre 20 e 40 anos de idade (34,6%).

 

O estudo revela ainda que a população menos escolarizada (nomeadamente indivíduos com o ensino primário) regista maiores índices de utilização da máscara (60%), do que a população com o ensino secundário completo (51,7%) ou ensino superior (46,4%). Esta tendência contraria a que se verifica nas cidades de Maputo e Beira, onde os mais escolarizados têm tendência de usar a máscara que os menos escolarizados.

 

“A principal justificação para a não utilização da máscara é o incómodo que este material de protecção traz para a respiração (38%), seguindo-se o esquecimento (20%) e a justificação financeira (18%). Destaca ainda que “10% dos indivíduos que não traziam máscara consideraram ainda ser desnecessário”.

 

A nível dos transportes públicos, o estudo conjunto do OMR e UCM revela que a maioria dos passageiros nos transportes públicos rodoviários utiliza máscara, tendo a percentagem aumentado consideravelmente ao longo dos dois períodos observados, nomeadamente, de 48,9% para 84,2%. “Trata-se de uma prática que foi mais observada na paragem de Petrona-Bairro da Memória (95,7%), de Faina-Bairro Piloto (84,6%) e de Matadouro (84,6%) e menos evidente na paragem de Angoche (66,7%)”.

 

Entretanto, a tendência não é a mesma nos “my love”, onde se observou uma reduzida utilização da máscara por parte dos passageiros em transportes de caixa aberta, tendo diminuído de 72% para 38%.

 

A observação abrangeu seis paragens/terminais de transporte rodoviário, nomeadamente, Waresta, Faina-Bairro Piloto, Petrona-Bairro da Memória, Gorongosa, Paragem de Angoche e Matadouro. “Na segunda observação às paragens de transporte não se verificaram sistemas de demarcação no piso nos locais de espera de passageiros. Na mesma observação, durante a espera dos passageiros nas paragens, em nenhum caso foram cumpridas as regras de distanciamento social”, acrescenta.

 

Referir que, em termos metodológicos, a pesquisa baseou-se em observações, que decorreram em dois períodos distintos, nomeadamente, de 6 a 9 de Maio (quarta a sábado) e de 19 a 22 de Maio (terça a sexta-feira). A pesquisa recorreu também a uma amostra de 126 elementos, repartidos igualmente pelas três cidades, o que corresponde a um nível de confiança de 90% e uma margem de erro de 10% para o conjunto do universo.

 

Lembre-se que o país conta, neste momento, com um cumulativo de 316 casos positivos de infecção pelo novo coronavírus, dos quais 109 estão recuperados e dois perderam a vida. A província de Nampula é a segunda mais afectada do país, com 61 casos confirmados de Covid-19, atrás da província de Cabo Delgado que lidera a lista com 146 casos positivos. A cidade de Maputo aparece em terceiro lugar com 57 casos positivos. Com a morte de outro cidadão (não pela Covid-19, mas que também tinha testado positivo a doença), Moçambique conta com 204 casos activos. (A.M.)

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