“É fundamental reconhecer que o poder político e a autoridade em Moçambique continuam a ser quase exclusivamente investidos na Frelimo.… São necessários líderes visionários e corajosos com forte apoio económico para levar a cabo as reformas necessárias para colocar Moçambique de volta a uma tendência institucional e socioeconómica favorável," diz a UNU-Wider no seu novo estudo “Mozambique at a Fork in the Roads”.
“A pobreza, desigualdade e falta de inclusão existentes irão gerar frustração, que deve ser tratada em vez de suprimida. Os acontecimentos em Cabo Delgado são um alerta.”
Este estudo é a melhor análise que se faz de Moçambique nestes dias e conta muito. O Instituto Mundial de Pesquisa em Economia do Desenvolvimento da Universidade das Nações Unidas (UNU-WIDER) em Helsínquia tem feito pesquisas sérias sobre Moçambique há 15 anos. Este estudo foi iniciado no ano passado com o apoio do Ministério da Economia e Finanças de Moçambique e é liderado por Finn Tarp, diretor da Wider entre 2009-19, Antonio Cruz, ex-Diretor Nacional de Planejamento e o ex-embaixador dinamarquês Johnny Flento. Os contribuintes incluem ex-ministros, um ex-juiz do Supremo Tribunal e eminentes investigadores moçambicanos.
O estudo confirma que uma pequena elite da Frelimo criou aquilo a que chama de sociedade de "acesso limitado", na qual um pequeno grupo partidário controla o Estado e usa-o para se tornar dominante nos negócios, e retém o poder através do seu controlo de instituições como o judiciário e a comissão eleitoral. E avisa que "a rivalidade dentro da elite na Frelimo não é suficiente para criar mudanças significativas. Apenas alguns grupos beneficiam da ligação entre interesses políticos e comerciais."
O estudo é igualmente crítico em relação aos doadores e à imposição do neoliberalismo. É essencial desenvolver “uma visão unificadora para uma estratégia de crescimento centrada na agricultura e agroindústria, na dinâmica do setor privado com mão-de-obra intensiva e nos recursos naturais [que] carecem há décadas”, conclui o estudo.
“Para além disso, as reformas no Sistema Nacional de Saúde, a promoção de padrões de qualidade sistemáticos na Educação e o alargamento da protecção social serão essenciais para garantir uma sociedade moçambicana mais inclusiva. Este diagnóstico aponta ainda para a necessidade de igualdade de condições de concorrência. de competição política ... bem como para assegurar a separação entre os poderes executivo, judiciário e legislativo." (Joe Hanlon)