O Presidente da Renamo, Ossufo Momade, diz que a sua formação política está a “engolir sapos” porque quer “a paz para os moçambicanos”. Aliás, Momade afirma estar a ser acusado de ter sido “comprado”, exactamente pelo facto de estar a lutar pela preservação da paz na República de Moçambique.
“Nós assinamos estes acordos porque queremos uma convivência política pacífica e (...) uma paz efectiva. (...) Estamos a engolir sapos porque queremos a paz dos moçambicanos e, por isso, somos acusados de termos sido comprados, mas, como queremos a paz dos moçambicanos, estamos aqui”, disse o Líder do maior partido da oposição.
Momade fez este desabafo, ontem, em Maputo, durante uma mesa redonda, organizada pelo Instituto para Democracia Multipartidária (IMD), em parceria com o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos (MJACR), no âmbito da celebração dos 30 anos da democracia multipartidária, em Moçambique. O Presidente da Renamo respondia, assim, a uma pergunta da “líder religiosa” Felicidade Chirindza em relação às divergências políticas que ainda se assistem no país e que culminam em ofensivas militares.
Dissertando sobre o tema “Paz e Reconciliação, em Moçambique”, Ossufo Momade defendeu que o Acordo Geral de Paz, assinado a 04 de Outubro de 1992, na capital italiana Roma, constituiu uma semente para a democratização do país, embora, na sua óptica, ainda persistam alguns dos velhos problemas: partidarização do Estado; perseguição e assassinato de opositores, jornalistas e académicos; intolerância permanente; e violação dos direitos humanos.
Segundo o Líder do maior partido da oposição, “nunca foi a nossa agenda tomar o poder pela força”, por isso, “participamos em todos os pleitos eleitorais”. Entretanto, alerta que “nunca vamos ter a Paz e Reconciliação, enquanto a Polícia e os agentes de Estado continuarem reféns de ordens do partido Frelimo”.
“(...) Não basta fazer discursos populistas em eventos nacionais e internacionais com temáticas de Democracia, Paz e Reconciliação Nacional. Precisamos de coerência, que consiste na aceitação do outro como sendo também moçambicano, com direitos e liberdades iguais. As assimetrias regionais, a falta de distribuição equitativa da riqueza nacional, a partidarização do Estado, a má-gestão da coisa pública, o nepotismo, a perseguição, sequestros, assassinatos selectivos dos opositores políticos, académicos, magistrados, jornalistas, empresários e outros males constituem um grave atentado à Paz e Reconciliação Nacional”, considera Ossufo Momade, que lidera a Renamo desde Maio de 2018, quando Afonso Dhlakama perdeu a vida.
Acrescentando, o Presidente da Renamo disse: “não pode existir reconciliação efectiva, quando alguns têm tudo e outros não têm para sustentar suas famílias. Não existe reconciliação, quando há perseguição e intolerância em relação ao pensar diferente. Não existe reconciliação, quando no aparelho do Estado e nas empresas públicas só é dirigente quem pertence ao partido governamental. Não há reconciliação, quando as autarquias dirigidas pela oposição são discriminadas na hora de alocação dos fundos e de investimento para o desenvolvimento”.
De acordo com Ossufo Momade, este cenário não permite que haja paz e reconciliação nacional, em Moçambique, porque “é uma paz aparente”. Recorda que o país viveu duas décadas de paz, após a assinatura do Acordo Geral de Paz, mas porque os alicerces da concórdia, da paz e da democracia foram postos em causa, o país regressou aos conflitos armados.
“As eleições, em vez de serem um momento festivo, transformaram-se num flagelo nacional, porque sempre que se aproxima um processo eleitoral segue-se uma instabilidade nacional, pois, o partido no poder simplesmente manipula os órgãos de gestão eleitoral, incluindo o Conselho Constitucional, a Polícia da República de Moçambique, (...) numa clara colocação dos interesses partidários acima dos superiores interesses dos moçambicanos”, destacou o político.
Para Ossufo Momade, os 30 anos do multipartidarismo não foram fáceis, pois: “nunca houve um espírito sincero de diálogo franco e aberto entre os moçambicanos, permanecendo os interesses de um grupo sobre os interesses dos outros moçambicanos”.
“Assinamos os acordos de Roma, de 5 de Setembro de 2014 e 6 de Agosto de 2019, porque estamos convictos que só com a paz podemos desenvolver o país e que esta é a base para erradicar a pobreza e proporcionar o bem-estar à população. Continuamos a dirigir o processo do DDR (Desmobilização, Desmilitarização e Reintegração) e das forças residuais como sinais inequívocos de querer a paz e reconciliação nacional”, finalizou. (Omardine Omar)