Em circunstâncias não muito claras, André Oliveira Matade Matsangaíssa concedeu, esta terça-feira, uma conferência de imprensa. O evento, que não teve a habitual publicitação, decorreu numa das estâncias hoteleiras da capital do país, Maputo. Na essência, três temas corporizaram a interacção com os jornalistas: a Junta Militar, a Renamo liderada por Ossufo Momade e o processo de paz no país.
Refira-se que foi, igualmente, em circunstâncias estranhas que André Oliveira Matsangaíssa foi apresentado na Presidência da República, com “pompa” e “circunstância”, como um desertor da Junta Militar, após a interacção com o Chefe do Estado, Filipe Nyusi.
Mas foi sobre a auto-proclamada Junta Militar da Renamo, grupo do qual era membro sénior, que André Oliveira Matsangaíssa desdobrou-se em explicações, a começar pelo paradeiro do líder daquele movimento. Enigmático, Matsangaíssa recorreu ao “dentro em breve”, quando instado a pronunciar-se sobre localização exacta de Mariano Nhongo.
“Dentro em breve. Depois da minha comunicação vão perceber onde está Mariano Nhongo”, disse Matsangaíssa aos jornalistas, sentenciando que o movimento não estava mais para protagonizar ataques armados.
O sobrinho de um dos membros fundadores da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) começou por dizer que decidiu aderir ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) por ter compreendido que a paz é a melhor solução para o país.
Disse que ele e outros membros da Renamo decidiram filiar-se à Junta Militar de Mariano Nhongo motivados, por um lado, pelas desinteligências internas (no partido Renamo) e, por outro, devido às perseguições que vinham e vêm sendo perpetradas pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS). Aliás, usou da ocasião para apelar que fossem retiradas as forças que se encontram estacionadas na região centro do país.
“O que fez com que se filiassem à Junta é o desentendimento e a exclusão. E isso aconteceu no partido. Há forças da FIR (actual Unidade de Intervenção Rápida) que entravam nas matas e queimavam casas das pessoas. Mas, também pelos discursos dos nossos irmãos da Renamo. A forma como eles se expressam, com desprezo, influenciou para que a Junta se pudesse constituir como um movimento”, disse Matsangaíssa.
Duas figuras de proa, segundo André Oliveira Matsangaíssa, são o rosto da desestabilização no seio do partido: André Magibire, actual Secretário-Geral, e Alfredo Magumisse, deputado e membro da Comissão Política. Para o sobrinho de André Matsangaíssa, a dupla tem semeado um mau ambiente no partido e minado o bom andamento do DDR.
André Oliveira Matsangaíssa questiona o facto dos quadros seniores do partido, de forma recorrente, colocarem em causa as patentes que ostentam os militares provenientes da auto-proclamada Junta Militar.
“Pedir ao presidente Ossufo que eduque os seus membros que se encontram nos lugares de desmobilização. O comportamento que estão a mostrar é um pouco triste. Temos membros que estavam nas matas com os seus cargos e não é o Magibire, que não foi militar, para dizer que você não tem este cargo. Se ele diz isso, é porque era também um militar da Junta Militar. Quem pode dizer é quem esteve lá. Não é Magibire. É bem triste. Eu mando as minhas pessoas para o DDR e, de seguida, Magibire diz que esse cargo não é. Quem é Magibire na Junta Militar? O outro é Alfredo Magumisse”.
Ainda na sua alocução, André Oliveira Matsangaíssa não se coibiu de tecer comentários em torno da autoria moral e material dos ataques que têm estado a ocorrer na região centro do país. Sobre o assunto, Matsangaíssa disse que nem todos os ataques eram protagonizados pelo grupo.
Para já, o sobrinho de André Matsangaíssa tem um desejo: que seja decretada uma trégua para permitir o diálogo e ainda que seja aprovada uma lei da amnistia de modo a abrir espaço para que os militares saiam das matas.
“Eu gostava que houvesse uma trégua e essa seria a primeira garantia de segurança. A trégua deve ser acompanhada pela lei da amnistia que defende os militares quando saírem das matas”, avançou.
“Reconheço Ossufo Momade como Presidente da Renamo”
Foi quase que incontornável o ponto sobre a liderança da Renamo. A este respeito, André Oliveira Matsangaíssa tratou logo de dissipar quaisquer equívocos. Ossufo Momade é o Presidente da Renamo e tinha o seu reconhecimento pelo facto de ter sido eleito em sede de um congresso, que, por sinal, tomou parte.
A auto-proclamada Junta Militar, da qual André Oliveira Matsangaíssa foi membro, nasceu, recorde-se, da contestação à liderança de Ossufo Momade, na ressaca do congresso electivo de Janeiro de 2019.
André Matsangaíssa foi ainda questionado sobre as suas aspirações políticas. Bastante reservado, Matsangaíssa disse que sobre o assunto falaria em próximas ocasiões. De momento, tal como disse, não tinha intenções de ser o Presidente da Renamo porque havia já um que fora eleito pelos membros do partido.
O sobrinho do líder fundador do maior partido da oposição disse também que um dos seus objectivos é que não haja divisão entre a Renamo e a Junta Militar.
Para além de André Oliveira Matsangaíssa, a Junta Militar de Mariano Nhongo perdeu para o DDR o então porta-voz, João Machava, e o Chefe do Estado-Maior, Paulo Nguirande. (Carta)