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sexta-feira, 12 março 2021 08:06

IESE defende uma abordagem que inclua Nampula e Niassa no combate ao terrorismo em Cabo Delgado

Apesar da província de Cabo Delgado ser o epicentro dos ataques terroristas, o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) defende a necessidade de se incluir as províncias de Nampula e Niassa no programa de combate ao extremismo violento, que se verifica naquele ponto do país, desde Outubro de 2017.

 

De acordo com a organização, a insurgência tem ramificações geográficas complexas, por intermédio da instalação de células religiosas de tendência radical e mecanismos de recrutamento fora da província de Cabo Delgado, com destaque para as vizinhas províncias de Nampula e Niassa, onde o grupo terrorista explora as diferentes dinâmicas sociais, económicas, políticas e religiosas locais para efeitos de recrutamento.

 

A tese consta do mais recente número (138) da publicação IDeIAS (Informação sobre Desenvolvimento, Instituições e Análise Social), tornada pública na última terça-feira. A mesma baseia-se num estudo realizado pelos pesquisadores do IESE (Salvador Forquilha) e da Fundação MASC (João Pereira) entre os meses de Julho e Dezembro de 2020, no qual pretendiam entender as dinâmicas da insurgência em Nampula e Niassa.

 

Lembre-se que, à luz desse estudo, o pesquisador e então Director do IESE, Salvador Forquilha, revelou, em Julho de 2020, num debate virtual, que a província de Nampula registara, em Março de 2017 (sete meses antes do início dos ataques em cabo Delgado), a presença da seita Al Shabaab.

 

Porém, na publicação feita esta terça-feira, os pesquisadores explicam que as células de Nampula e Niassa não conseguiram militarizar-se e desencadear acções armadas de grande envergadura contra as instituições do Estado e populações civis, devido, por um lado, a uma melhor coordenação entre as autoridades governamentais e as lideranças religiosas muçulmanas locais e, por outro lado, às dificuldades por parte do grupo em estabelecer uma logística capaz de desencadear e alimentar ataques armados naquelas províncias.

 

De acordo com o IDeIAS, em Nampula e Niassa, os insurgentes exploram as clivagens religiosas dentro do Islão a nível local; as clivagens étnicas; a instrumentalização da narrativa anti-Estado/Frelimo; os esquemas de microcréditos com vista a impulsionar pequenos negócios dos futuros recrutas; assim como fazem promessas de emprego em Cabo Delgado no sector da pesca e da mineração. Sublinha que os alvos, na sua maioria jovens em condições de grande vulnerabilidade, são provenientes dos distritos do litoral de Nampula (Angoche, Mossuril, Nacala-a-Porto, Nacala-a-Velha e Memba) e dos distritos do Niassa que se encontram na zona limítrofe com a Tanzânia (Lago, Sanga e Mecula) e Cabo Delgado (Marrupa).

 

Por essa razão, entende o IESE, conhecer as dinâmicas do contexto local constitui uma condição fundamental para o combate à insurgência. “Nesse sentido, a violência armada no norte de Moçambique exige uma abordagem que deixe de olhar para Cabo Delgado como uma «ilha» para se interessar às dinâmicas presentes nas outras duas províncias porque, afinal, não é só Cabo Delgado!”, considera a fonte. (Carta)

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