Quando a poeira assentar em Palma, a vila vai mostrar ao mundo um cenário dantesco. Para além das imagens da destruição terrorista, já conhecidas, como os escombros do que era a Agência BCI (que também ilustra este artigo), Palma está assombrada pelos avanços dos militares do Governo contra a propriedade individual e colectiva.
Fontes do interior do Exército relatam cenários dramáticos de invasão e roubo de propriedade alheia. Residências e negócios particulares foram assaltados. A vasta gama de empresas que forneciam serviços à indústria foi arrasada. Armazéns e contentores e acampamentos e estaleiros foram vandalizados pela tropa governamental, descrevem as fontes. Motorizadas, geradores, utensílios para construção civil, computadores, impressoras são furtadas. O destino do produto do roubo é a Tanzânia, país que recebe esses bens com uma mão, enquanto com outra expulsa refugiados moçambicanos. Os militares circulam com seus "troféus" sem qualquer restrição, diante de suas chefias.
A pilhagem em Palma, agora da autoria dos militares do Exército, começou logo que os terroristas foram empurrados para seu refúgio em Mocimboa da Praia (para onde levaram 4 camiões, com os quais abrem vias de circulação no meio do mato, permitindo-lhes movimentarem-se longe das patrulhas do Governo).
Duas semanas depois do assalto à Palma a 24 de Março, foi relatado que a Saipem, uma multinacional de apoio à indústria de LNG, colocou à venda grande parte do seu equipamento a preços de bagatela pois já estava a sofrer roubos por parte dos militares do Exército. Outro equipamento foi transportado para Maputo. Grosso modo, a quase totalidade dos estaleiros de Palma foram vandalizados. E quando houver condições de segurança para a retoma dos projectos, vai ter que se começar do zero.
Assalto à banca
Há pouco mais de uma semana, militares do Exército protagonizaram uma cena inimaginável. Na calada da noite, puseram-se a disparar, dissimulando um ataque terrorista, espantando os incautos. Aliás, durante dez dias consecutivos, os militares usaram o troar dos balázios noite adentro, nesse fingimento de ataque terrorista. Foi assim que varreram os bens alheios na vila. E foi, também, o estratagema usado para roubar o que tinha sobrado de papel-moeda na posse dos bancos. O alvo foram dois bancos. Os militares dinamitaram os cofres dos dois bancos e levaram consigo tudo o que lá havia, dinheiro em Meticais e USD. Uma fonte estima em 60 milhões de Meticais o valor na posse dos militares.
Os dois bancos visados são o Standard Bank e o BCI. Na agência do SB, os militaŕes usaram explosivos para derrubar as paredes traseiras, pois a porta da sua casa forte é de nível 5, suficientemente forte para resistir a um arrombamento com o uso de ferramentas manuais.
Depois que tiveram acesso à casa forte, varreram toda a "massa". Na Agência do BCI arrombaram um cofre que estava no meio dos "escombros". Para o efeito, os militares-ladrões usaram geradores e baterias que haviam surrupiado em estaleiro que forneciam apoios aos projectos de gás. Depois puseram-se em fuga, deixando as máquinas no terreno.
De acordo com as nossas fontes, na semana passada alguns militares tentaram desertar usando barcos para Pemba, levando consigo o dinheiro. Já estavam na zona de Afungi. Mas foram interceptados durante a revista cerrada que tenta evitar que terroristas se misturem com quem foge deles (e do Exército) a caminho de Pemba, por mar. Boa parte do dinheiro roubado foi apreendido e está na posse de oficiais superiores. Nossas fontes desconfiam que os tais oficiais fizeram o confisco para proveito próprio, não sendo certo se irão devolver o dinheiro aos bancos.(Marcelo Mosse)