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Política

Peter Gastrow, um investigador sul-africano sobre criminalidade organizada (anteriormente ligado ao Institute for Security Studies e hoje vinculado ao Global Initiative Against Transnational Organized Crime) disse ontem à “Carta” que é pouco provável que Manuel Chang evite uma extradição para os EUA. 

 

Gastrow, que visitou ontem as instalações de “Carta de Moçambique”, recordou que o sistema de justiça criminal sul-africano está a viver um momento positivo de mudança, depois de anos de captura por parte de um poder político corrupto (com Jaboc Zuma na liderança, sob a tutela dos irmãos Gupta) que bloqueara boa parte das suas instituições. Essas mudanças, que passam pelo reforço da transparência no processo de indicação de magistrados e investigadores de topo, envolve também o aprofundamento da separação de poderes.

 

Gastrow diz que o actual Presidente sul africano, Cyril Ramaphosa, não vai permitir que a RAS mostre a imagem de um Estado pouco afoito ao reforço da cooperação policial e judicial internacional. “Ramaphosa quer provar interna e externamente que está comprometido na luta contra a corrupção transnacional e que a RAS é um parceiro credível na cooperação judiciária à escala global”. 

 

Num momento em que a RAS atravessa um dilema - a busca de investimento estrangeiro e a saída para a Austrália de empresários locais fugindo à política de expropriação de terra sem compensação - decidir contra o pedido americano para a extradição de Chang para os EUA (que foi finalmente depositado na terça feira em Pretória, de acordo com fontes reputadas de "Carta"), seria estar a ir na contramão de um discurso e prática a favor da independência das instituições de justiça, rematou o reputado pesquisador. (M.M.)

Manuel Chang vai continuar detido na prisão de Moderbee, nos arredores de Joanesburgo até pelo menos o próximo dia 31 de Janeiro, quarta-feira, quando tiver que regressar ao Kempton Park Magistrate Court para a derradeira audiência relativa ao seu pedido de liberdade sob caução. A sessão de hoje, marcada de forma relâmpago, terminou um pouco depois das 15 horas.

                      

A Procuradora Elivera Dreyer opôs-se veementemente à sua liberdade, considerando haver forte risco de fuga. A defesa de Manuel Chang submetera o requerimento do pedido de caução na passada segunda feira, numa acção inesperada.  Na audiência anterior, no dia 18, a defesa tinha removido o pedido de liberdade sob caução, dando prioridade à sessão de 5 de Fevereiro, a tal da discussão da extradição para os EUA ou da transferência para Moçambique, conforme solicitado no passado dia 10 pelo nosso Ministério Público.

 

Mas o pedido de liberdade sob caução foi alvo de uma forte oposição por parte do Ministério Público sul africano. Colocado na escala 5 do regulamento de aplicação de cauções na África do Sul, um dos requisitos do requerente era provar que tem residência na terra do rande. Chang provou. Apresentou um endereço em Malelane (Mpumalanga), a 45 km da fronteira com Moçambique. A Procuradora mandou investigar prontamente e confirmou que o endereço existe. 

 

É uma casa arrendada, possui sauna e piscina...e jacuzzi, etc. Mas a Procuradora, mesmo assim, desconfiou. Disse que a proximidade com Moçambique e, por isso, o risco de fuga. A defesa argumentara que, em Malelane, Chang podia ter acesso à família, que ele era diabético e precisava de espaço para a prática de exercícios físicos. O Tribunal solicitou uma responsável da penitenciária em causa, que disse que a prisão de Moderbee tinha condições para acolher diabéticos. Em face disso, a Procuradora Elivera foi taxativa: “Liberdade sob caução não”, Segundo ela, a prática mostra que na RAS era possível adquirir passaportes falsos e fugir do país.

 

No próximo dia 31 de Janeiro, a sessão será destinada à tomada de decisão do Tribunal sobre uma eventual liberdade sob caução. A dado momento da sessão, o Tribunal solicitou detalhes sobre o património financeiro de Chang. Depois de ver os extractos bancários fornecidos pela defesa, os quais não foram divulgados à imprensa a pedido de Manuel Chang, a Procuradora Elivera disse: “Manuel Chang tem muito dinheiro e pode fugir”. Em suma, as possibilidades de uma liberdade provisória são remotas. Mas no caso de isso acontecer, Chang deverá pagar milhões de randes. Elivera deu a entender que ele pode. (Carta)

 

Quarta-feira sim, quarta-feira sim, os madjermanes – antigos trabalhadores moçambicanos na extinta República Democrática Alemã (RDA) – marcham por algumas das principais avenidas da capital, entoando cânticos “revolucionários”, empunhando bandeiras do país onde trabalharam, e dísticos com dizeres em contestação ao governo. Ou, mais concretamente, contra a Frelimo. Sempre escoltados por um forte aparato policial, eles partem do Jardim 28 de Maio, vulgo Jardim dos Madjermanes, sede da sua Associação (a ATMA – Associação dos Antigos Trabalhadores na Alemanha) na Av. 24 de Julho, sobem pela Av. Albert Luthuli até à Av. Eduardo Mondlane, de onde marcham em linha recta até à “Ronil”. Uma vez na Av. Karl Marx, voltam a descer até se fazerem novamente à Av. 24 de Julho, detendo-se, por não menos de uma hora, na esquina justamente defronte do Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS). 


Aquele é o seu principal “target”. Tanto assim que, justamente ali no MITESS, eles aumentam a intensidade dos seus cânticos, gritam palavras de ordem a plenos pulmões e barram o tráfego de automóveis nos dois sentidos. Só regressam à sua base –  ainda pela 24 de Julho –  quando sentem que a sua missão semanal está concluída. Na sua marcha de regresso, sempre de bandeiras e dísticos em punho, a cantar e a declamar palavras de ordem, eles voltam a congestionar o trânsito. Invariavelmente escoltados pela PRM. E na certeza de que na próxima quarta-feira mais haverá – caso o Governo não resolva o seu problema.

 

E andamos nisto vai para 30 anos… Mais precisamente deste 3 de Dezembro de 1990, com jornadas semanais que primeiro aconteciam às sextas-feiras, mas já há largos anos passaram a ser às quartas. 

 

Coletes amarelos e outras novidades… 

A grande novidade desta semana foi o facto de os madjermanes terem adoptado uma nova estratégia de luta. Inspirados no movimento dos “coletes amarelos” que “abanou” a França de Macron, os nossos conterrâneos marcharam trajados daquele modo. E assim prometem continuar semana que vem… E na outra. Como sempre, fizeram o mesmo trajecto, acompanhados pela força policial habitual, “fecharam” as ruas por onde passaram, e imobilizaram-se defronte do MITESS… só que equipados a rigor. “Os coletes dão-nos maior visibilidade. Eles foram adquiridos através de fundos próprios, ou seja, provenientes de contribuições dos membros da nossa associação, a ATMA (Associação dos Antigos Trabalhadores na Alemanha), uma vez que todos nós, de uma ou de outra forma, temos as nossas próprias fontes de rendimento”, diz Arnaldo Mendes, um dos mais carismáticos representantes dos madjermanes. “Carta” acompanhou ontem todo o percurso da caravana. No final da marcha, como sempre, aconteceu a concentração do grupo na sua base – o Jardim 28 de Maio – onde se seguiram vários discursos. 


Uma vez ali, outra novidade: um dos mais antigos membros do grupo, que afinal é pastor, começou por pedir a bênção de Deus e fez uma prece que foi acompanhada pelos demais. Disse ele: “Senhor, assim como o teu filho amado Jesus Cristo foi humilhado aqui na terra, nós também estamos a ser humilhados nesta nossa terra… Por isso entregamos as nossas vidas às tuas mãos, Pai”. Uma terceira novidade: Manuel Daniel, representante dos madjermanes na zona norte, veio de Nampula, especialmente para participar na marcha de ontem. O seu discurso foi contundente:

 

“ Eu vim a Maputo propositadamente para participar nesta marcha, em representação de todos os madjermanes do norte. Se a Polícia tiver uma bala reservada, que essa bala seja para mim… Mas lutarei até ao fim pelos nossos direitos”. O grande questionamento que fazem é: ”por que é que a Ministra não nos recebe? Faz tempo que prometeu que o faria… O próprio Comandante da Policia a nível da cidade tem estado connosco em diversas ocasiões, mas também anda a enganar-nos: diz-nos sempre que a Ministra nos receberá, mas todas as semanas marchamos, paramos defronte do Ministério e nem sinal da Ministra…”.  Pois então, como é de prever, próxima quarta-feira há mais…(Homero Lobo)

quinta-feira, 24 janeiro 2019 05:23

Chang pode ser liberto hoje

O antigo Ministo das Financas, Manuel Chang, detido em Joanesburgo desde o passado dia 29 de Dezembro, pode ver a luz do sol hoje, se os juízes do Kempton Park Magistrate Court aceitaram um inesperado pedido de liberdade provisória sob caução, submetido esta semana pelos seus advogados. Uma audiência-relâmpago foi agendada para as 9 horas de hoje. Fontes de “Carta” revelaram que a sessão vai discutir a liberdade provisória sob caução para Manuel Chang, pedido esse que havia sido retirado pela defesa na audiência anterior, de 19 de Janeiro. Nessa sessão, os advogados haviam colocado como prioridade a discussão do pedido de transferência do detido para Moçambique (entendido por eles como pedido de extradição, mas o requerimento do Ministério Público local, do dia 10 de Janeiro, não foi colocado nesses termos; con). A audição de hoje foi marcada com todo o sigilo, para evitar uma presença em massa de jornalistas.

 

Ontem, “Carta” tentou em vão saber de Rudi Krause, um dos seus advogados, qual seria o valor da caução a propor ao Tribunal, mas ele, que sempre esteve aberto a falar, não respondeu às nossas mensagens de texto por whatsapp. Da vez que nos atendeu a chamada, disse que estava ocupado.  Não se conhecem as razões por que está a ser guardado segredo relativamente à audiência. Se for liberto hoje eventualmente sob termo de identidade e residência, Manuel Chang deverá regressar ao Tribunal no próximo dia 5 de Fevereiro, onde a decisão sobre a sua extradição para os EUA ou para Moçambique (até lá já haverá esse pedido de extradição requerido pelas nossas autoridades de justiça) será tomada. (M.M.)

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, manifestou ontem a disponibilidade do Governo para colaborar com os órgãos de justiça na investigação das dívidas ocultas, apelando à calma e paciência dos moçambicanos. "Reiteramos a nossa disponibilidade como Governo para continuar a colaborar com as instituições de justiça para o desfecho do processo", disse o chefe de Estado moçambicano, na sua primeira intervenção pública sobre o processo depois da detenção do antigo ministro das Finanças Manuel Chang, a 29 de dezembro na África do Sul.  

 

O Presidente moçambicano falava durante uma cerimónia de recepção do corpo diplomático acreditado em Maputo por ocasião do ano novo. Para Nyusi, é importante que se dê espaço para que as instituições de justiça que investigam o caso trabalhem de forma autónoma, mantendo a paciência e calma para evitar manifestações que "perturbem a ordem e tranquilidade públicas".   

 

"Apelamos a todos moçambicanos para continuarem a aguardar com serenidade pelo desfecho deste processo, respeitando a ordem e tranquilidade públicas e distanciando-se de atos de agitação e violência capazes de perturbar o desenvolvimento do país e das próprias investigações", observou. Nyusi disse ainda que o Governo moçambicano "continua firme no combate à corrupção", abrindo espaço para "retirar qualquer elemento que seja uma obstrução" às investigações das dívidas ocultas. "Notamos grande susto pelo fluxo de casos de corrupção registado nos últimos tempos, compreendemos. Encaremos isto como resultado dos casos acumulados", declarou o chefe de Estado moçambicano, frisando a necessidade de o país respeitar a separação de poderes. (Lusa)

O Presidente Filipe Nyusi determinou hoje a passagem à reserva de seis generais da Polícia da República de Moçambique e promoveu outros oito oficiais, informou a Presidência em comunicado. Trata-se de Armando Canheze,Pedro Matessane, Adriano Mucuapera, João Mahunguele, João Zandamela e Dora Manjate, que passam à reserva, uma decisão que foi tomada sob proposta do Ministério do Interior. Ao mesmo tempo, num outro despacho presidencial, o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, promoveu Alfredo Mussa e Domingos Francisco Jofane à patente de primeiro-adjunto do comissário da Polícia, no escalão de oficiais generais.

 

A nota acrescenta ainda que o chefe de Estado nomeou também Artur Chume ao cargo de comandante da Academia Militar "Marechal Samora Machel", em substituição de Victor Muirequetule, que dirigia a instituição há oito anos.

 

As mudanças na polícia moçambicana acontecem num momento em que o Governo moçambicano e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) estão em negociações e há um memorando assinado em agosto entre as partes e que prevê a integração no exército e na polícia de antigos guerrilheiros da maior força de oposição em Moçambique.

 

O documento, assinado entre o chefe de Estado e o presidente da Renamo, Ossufo Momade, prevê o enquadramento de "10 oficiais para ocupar postos de direção e comando na Polícia da República de Moçambique (PRM)", mas só depois de um "entendimento referente à sua colocação na orgânica do Ministério do Interior".

 

O documento também distribui diversos cargos militares entre a Renamo e o Governo e, ao nível do Estado-Maior General das Forças Armadas, prevê que, de um total de nove departamentos, três sejam entregues a homens do partido da oposição.

 

O memorando prevê, adicionalmente, que, de um total de 12 repartições do Exército, quatro sejam entregues à Renamo, assim como lhe sejam entregues sete posições em brigadas e batalhões independentes - totalizando 14 oficiais da Renamo a enquadrar nas Forças Armadas de Moçambique.

 

Em Dezembro, o Ministro da Defesa nomeou, interinamente, três oficiais da Renamo para cargos de direção nos departamentos de Informação, Comunicação e Operações do exército, mas a principal força de oposição manifestou-se descontente, considerando que o memorando prevê o enquadramento de 14 homens provenientes do partido.

 

Oficialmente, o atual processo negocial entre o Governo da Frelimo e a Renamo arrancou há pouco mais de um ano, quando Filipe Nyusi se deslocou à serra da Gorongosa, centro de Moçambique, para uma reunião com o então líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que morreu a 3 de Maio do ano passado devido a complicações de saúde. Além do desarmamento e da integração dos homens do braço armado do maior partido da oposição nas Forças Armadas, a agenda negocial entre as duas partes envolvia a descentralização do poder, ponto que já foi ultrapassado com a revisão da Constituição, em Julho. (Lusa)