Os casos de amputação de órgãos genitais em crianças na província de Tete preocupam os médicos afectos na cidade de Maputo, uma vez que são encaminhados para a capital do país para cirurgias de implantação do pénis. Segundo informações partilhadas esta segunda-feira, pelo Médico Cirurgião de Fístula Obstétrica, Igor Vaz, só este ano, a sua equipa já recebeu dois casos de crianças vindas da província de Tete, cujos órgãos genitais foram amputados, o que leva a crer que existem mais casos que nem chegam às unidades sanitárias.
“Antes de recebermos no princípio do ano a criança que até agora se encontra internada, também recebemos uma outra criança que teve o pénis amputado por um familiar na mesma província e, em conversa com alguns colegas de Tete, ficamos a saber que há mais casos de amputação de órgãos genitais para fins de enriquecimento das pessoas”, explicou Vaz.
“Esta situação precisa ser resolvida o mais urgente possível porque os órgãos genitais retirados destas crianças não servem absolutamente para nada. Não há ninguém que enriqueça por vender órgãos genitais, uma vez retirados, tempo depois, estes órgãos não servem para nada”.
Para o médico cirurgião, a criança que se encontra actualmente internada vai ter de passar por quatro a cinco cirurgias de forma a permitir que a mesma possa urinar de pé. “Quando chegar aos 18 anos vai precisar de uma nova cirurgia porque o pénis que será implantado agora não tem a mesma função que um pénis normal. Então, aos 18 anos deve ser criado um novo pénis e, depois, fazer-se uma prótese peniana e, até ao fim da vida, vai sofrer de cirurgias e consultas de controlo”.
Já a mãe da criança de oito anos, que se encontra num dos hospitais da cidade de Maputo, sequestrada por um vizinho e amputado o órgão genital em 2020, de lá para cá, começou a viver os piores momentos da sua vida.
“Meu filho tornou-se violento, sofreu bullying na escola por não ter pénis e, até hoje, o meu vizinho não foi preso para ser responsabilizado pelo acto cometido contra o meu filho. Sempre que vou à polícia, as autoridades dizem que não possuem meios para irem atrás dele para o prenderem. O meu vizinho passa a vida a chantagear-me. Depois de ter cortado o pénis e os testículos do meu filho, ainda teve a coragem de ligar para a minha mãe para saber se encontramos o meu filho com vida”, explicou.
“Eu quero justiça, meu filho já não é mais homem, já não pode fazer filhos, ele agora é uma criança traumatizada. Até meu esposo abandonou-nos. Recebi ajuda para que meu filho seja operado em Maputo. Será implantado um pequeno pénis, para pelo menos conseguir urinar em pé”. (M. Afonso)