O Instituto Nacional de Gestão e Redução de Riscos de Desastres (INGD) de Moçambique apelou ontem aos deslocados dos ataques terroristas em Cabo Delgado para denunciarem a possível presença de insurgentes nos centros de acomodação.
“Temos que continuar a ser vigilantes, a saber quem é que está do nosso lado, porque, se calhar, nós, ao sair de Chiúre, para aqui, talvez estejamos a sair com os insurgentes, com aqueles bandidos”, disse a presidente do INGD, Luísa Meque, num encontro, no distrito de Eráti, província de Nampula, com famílias obrigadas a fugir do distrito de Chiúre, província de Cabo Delgado, norte do país, na sequência de ataques terroristas, nas últimas semanas.
“Temos que reforçar a vigilância, [saber] quem é que está do nosso lado, quem é que está a receber o nosso apoio”, enfatizou Meque.
A presidente do INGD admitiu que a assistência alimentar que está a ser prestada às vítimas da violência armada em Cabo Delgado é insuficiente, devendo ser disponibilizada gradualmente.
“Sabemos que nem todos poderão ter, no mesmo momento, o apoio que nós estamos a trazer, porque somos muitos”, declarou Luísa Meque.
Face a relatos de que há residentes do distrito de Eráti que também se têm feito passar por deslocados de guerra, para receberem assistência, as autoridades terão o cuidado de assegurar que apenas as vítimas da violência é que vão ter ajuda humanitária, avançou Meque.
“Só vão receber o apoio ou a assistência aquelas pessoas que não são daqui, aquelas pessoas que deixaram tudo nas suas casas para vir para aqui”, destacou.
Na quinta-feira, o Governo moçambicano disse que 67.321 pessoas fugiram dos ataques armados das últimas semanas na província de Cabo Delgado, avançando que algumas populações já estão a regressar aos pontos de origem.
“Nesta altura, nós falamos de cerca de 67.321 deslocados, o que corresponde a 14.217 famílias”, afirmou Filimão Suaze, porta-voz do Conselho de Ministros, numa conferência de imprensa, no final da sessão semanal do órgão.
O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria de 27 ataques em vilas “cristãs” no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, em que afirma terem morrido 70 pessoas nos últimos dias.
Através dos canais de propaganda do grupo, que documenta estes ataques com fotografias, é referida ainda a destruição de 500 igrejas, casas e edifícios públicos.
As autoridades moçambicanas não comentam a situação operacional, mas a Lusa ouviu nos últimos dias, na vila de Chiùre, relatos de deslocados que chegam à localidade sobre ataques, destruição de hospitais, escolas e casas, além de mortos, provocados em diferentes aldeias do distrito pelos insurgentes.
O governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, afirmou na segunda-feira à Lusa que os atos “macabros” que assolam há duas semanas o sul daquela província moçambicana são protagonizados por “grupinhos” de “extremistas violentos”.
A província de Cabo Delgado enfrenta há mais de seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com dados das agências das Nações Unidas, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.(Lusa)