A Polícia foi chamada ontem à sede nacional da Renamo, em Maputo, após antigos guerrilheiros da maior força da oposição, contestatários do líder do partido, Ossufo Momade, na sequência das eleições gerais, terem protestado nas instalações.
“Quem chamou a Polícia ainda nos interessa saber e com que intenção (…). Nós chegámos e pedimos que a Polícia não entrasse nas premissas da Renamo, porque afinal de contas não há necessidade de haver Polícia para resolver um problema que está dentro de casa. E como viu, uma hora e meia, duas horas, o assunto está resolvido”, explicou aos jornalistas o deputado Muhamad Yassine, à porta da sede do partido, envolvida por um aparato policial.
Numa mensagem enviada aos jornalistas durante a manhã, este grupo de antigos guerrilheiros da Renamo, desmobilizados ao abrigo do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), assinado com o Governo, referiam que, juntamente com outros quadros do partido, “tomaram” a sede, “exigindo a demissão” de Ossufo Momade do cargo de presidente, depois de já terem pernoitado no local.
Presente no exterior, o contingente policial acabou por não tomar qualquer ação na sede nacional da Renamo em Maputo. “Esta era uma situação que, no meu entender, não era assim tão complicada assim de se resolver. Era uma questão de nos sentarmos com os nossos mais velhos militares, poder perceber exatamente qual é que era a sua exigência e como é que se pode tratar”, acrescentou o deputado, garantindo que foi alcançado um “consenso”.
“É uma questão mesmo estatutária. É entendimento dos militares que o segundo conselho nacional deve ser realizado este ano, em função daquilo que é o estatuto. E eu penso, em função daquilo que discutimos, que vamos submeter a carta ao gabinete do presidente e pedir que o conselho nacional seja realizado este ano”, acrescentou Muhamad Yassine, falando em “representação do porta-voz do partido”, garantindo que esse pedido, embora sem detalhar o motivo para a convocatória dessa reunião magna, “não fere” os estatutos da Renamo.
“Estão aqui os representantes dos militares e conseguimos um consenso, afinal de contas somos uma única família: é a Renamo. Não há uma casa que não tenho desentendimentos. O bom é que discutimos os nossos assuntos dentro de casa e todos nós estamos felizes com aquilo que foi o resultado do nosso entendimento”, concluiu Yassine, mas sem permitir que os representantes dos antigos guerrilheiros falassem à comunicação social presente.
Ossufo Momade assumiu a liderança da Renamo após a morte do líder histórico e fundador do partido Afonso Dhlakama (1953-2018) e foi também candidato nas eleições gerais de 09 de outubro de 2024 ao cargo de Presidente da República.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) moçambicana anunciou em 24 de outubro a vitória de Daniel Chapo (Frelimo) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, resultados que ainda carecem da validação do Conselho Constitucional, mas que não são reconhecidos por nenhum dos restantes três candidatos, entre acusações de fraude eleitoral.
Venâncio Mondlane, ex-deputado da Renamo e apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), ficou em segundo lugar, com 20,32%, totalizando 1.412.517 votos, seuindo-se Ossufo Momade, com 403.591 votos (5,81%), e Lutero Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceiro partido parlamentar), com 223.066 votos (3,21%).
Já para as legislativas, segundo a CNE, venceu a Frelimo, garantindo mais 11 deputados, para um total de 195 mandatos, seguida do Podemos, elegendo 31 deputados.
De acordo com os resultados anunciados pela CNE, a Renamo, até agora maior partido da oposição, caiu de 60 para 20 deputados, e o MDM manteve a representação parlamentar, mas viu o total de deputados cair de seis para quatro. (Lusa)