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segunda-feira, 17 junho 2019 08:06

Vida selvagem “rejuvenesce” no PNG depois da Guerra Civil

Vinte e sete anos após o fim da guerra civil, que opôs o governo do partido único (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), a vida selvagem está a “rejuvenescer” no Parque Nacional da Gorongosa (PNG), o maior cartão-de-visita “selvático” do país, localizado na província de Sofala.

 

A observação consta de um Relatório, intitulado “Um novo dia em Moçambique”, produzido em conjunto entre a organização National Geographic Society e o PNG, divulgado, semana finda, pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC).

 

O documento, publicado na página oficial da entidade responsável pela gestão das áreas de conservação, refere que, até ao momento, foram documentadas 5.867 espécies, através dos Censos Aéreos, que decorrem anualmente, no país, desde 2013. Entre as espécies que mostraram uma ampla recuperação, encontram-se os elefantes, búfalos, hipopótamos, inhacoso e leões.

 

De acordo com o Relatório, em 1972, o PNG tinha 2.542 elefantes, mas, devido à guerra que durou 16 anos, quase toda a espécie foi dizimada e seus troféus usados para comprar armas e alimentar a guerrilha. Em 2002, só existiam 300 elefantes. Entretanto, com a campanha para a recuperação da espécie, naquele parque nacional, iniciada, em 2002, estima-se que existam 650 paquidermes.

 

A outra espécie que, em 1972, existia em maior quantidade é o búfalo (quase 13.286), mas, em 2002, era das menos numerosas (só tinham 90 búfalos). Porém, com o trabalho de recuperação, iniciado naquele ano, em 2018, já se contabilizavam 1.021 búfalos.

 

O hipopótamo também não passou ao lado da situação. Em 1972, o PNG tinha 3.483 hipopótamos, mas até 2002, só tinha 160 membros desta espécie, entretanto, dados do último censo animal revelam que existem 546 hipopótamos.

 

O Relatório afirma ainda que, em 2018, nasceram 30 leões, foi avistado um leopardo e reintroduziu-se uma matilha de mabecos. Algumas presas, defende o estudo, abundam, pois, quase não têm predadores.

 

Os dados da monitorização dos leões indicam que os esforços para recuperar o equilíbrio estão a funcionar. As coleiras de GPS ajudam a reduzir conflitos entre seres humanos e elefantes.

 

Flávia é uma leoa do grupo de Sungué e foi-lhe colocada uma coleira, em 2015. Quando o Parque começou a monitorizar os leões, um aglomerado de pontos de GPS costumava indicar que um leão ficara preso numa armadilha, porém, actualmente, com os esforços de aplicação da Lei, os aglomerados revelam que as leoas e suas crias encontram-se sempre em movimento.

 

Antes de serem trazidos para a Gorongosa, em Abril de 2018, documentam os especialistas, os mabecos não se conheciam. Para estabelecer uma ligação entre si, formando uma matilha, o PNG manteve-os num recinto fechado durante dois meses.

 

O estudo revela que o PNG foi, em tempos, dominado pelos búfalos. Agora, o inhacoso é o herbívoro mais abundante, representando 63 por cento (correspondente a 57.016) da biomassa animal daquela área de conservação, prosperando junto dos lagos e rios, uma vez tendo poucos predadores e melhor acesso à água.

 

Refira-se que os censos aéreos são realizados em cada dois anos, com recurso a helicóptero, numa área com cerca de dois mil quilómetros quadrados. Os censos visam monitorizar o crescimento da população de animais à medida que são trazidos exemplares da África do Sul e de outras áreas de conservação do país.

 

Entre os censos realizados, destaque vai para o do ano de 2018, num voo efectuado ao longo de PNG, nos rios Vunduzi e Urema, onde foram contados mais de 500 hipopótamos, pela primeira vez, desde a guerra civil. Nessa época, mais de três mil hipopótamos viviam prosperamente no Parque, enquanto os Búfalos, provenientes de outros Parques, foram introduzidos para reforçar o número de efectivos da Gorongosa.

 

O documento diz que, com o rejuvenescimento da vida selvagem, o PNG recebeu 4.800 visitantes, em 2018, isto após o “reacendimento” do conflito político-militar, entre 2014 e 2016, na zona centro, que tinha retraído os visitantes.

 

No passado, o PNG registou a presença de rinocerontes-negros, mas a sua reintrodução afigura-se difícil, por gerar um risco elevado de atrair caçadores furtivos com fins comerciais. Os especialistas dizem que, face a isto, “é um projecto ainda na gaveta”. A recuperação total precisa de tempo e de espaço, pelo que a Fundação Greg Carr e parceiros (incluindo o governo) são defensores do alargamento da Gorongosa.

 

Outro aspecto, apresentado no documento, indica que, durante este período de recuperação da fauna, naquele Parque, foram confiscadas mais de 21.027 armadilhas de laço e de mandíbula de aço, que, de acordo com os especialistas da National Geographic Society e do Governo, continuam a ser a principal ameaça para os leões. Outras 1.700 armadilhas de laço e de mandíbula de aço foram, voluntariamente, entregues, quando o esforço de recolha começou em 2015.

 

O PNG já formou 50 clubes de raparigas, atendendo às necessidades de duas mil raparigas na zona-tampão. Os programas ensinam competências importantes, que as ajudam a manter-se na escola e a evitar o casamento infantil.

 

Contudo, os especialistas alertam que, apesar da recuperação da vida selvagem naquele local, o futuro dos animais depende da esperança que for dada às comunidades que vivem nas redondezas do PNG.(Omardine Omar)

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