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quarta-feira, 15 maio 2019 06:23

O governador, os ratos e a factura do hotel: um conto patético com fim romântico

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- O palácio do Governador de Nampula (residência oficial), Victor Borges, tinha muitos ratos e cobras;

 

- Então, o Gabinete do Governador decide fazer uma "Carta de Compromisso e de Cadastro" (que não foi assinada pelo próprio Chefe do Gabinete) a um hotel de luxo e caro da cidade para alojar o governante e sua família num período não especificado garantindo que o próprio Gabinete do Governador (portanto, o Estado através do erário público) pagaria todas as despesas de alojamento e alimentação dos seus inquilinos mediante apresentação da factura; 

 

- Daí que, o governador, sua esposa e seus dois filhos carregaram nas suas "xi-djumbas" e foram viver para o hotel; 

 

- Enquanto isso, decorriam obras de reabilitação do palácio para eliminar malta Jerry e as "sineiques" invasoras; 

 

- Acontece que, trinta dias depois, o exílio da família palaciana virou notícia e motivo de piada, chacota, zombaria e crítica da opinião pública;

 

- Sendo assim, os palacianos decidiram pegar de volta nas suas "xi-djumbas" e regressaram ao palácio ainda em obras finais; 

 

- Foi daí, então, que, no dia seguinte, o governador convocou uma conferência de imprensa para informar, em primeira mão, que o valor da factura (de cerca de um milhão e trezentos e cinquenta mil meticais) referentes as despesas de alojamento e alimentação do período do exílio e o valor da outra factura referente às obras de reabilitação do palácio sairiam do seu bolso, ou seja, que o Victor Borges, ele próprio, iria recorrer a um financiamento bancário para pagar as despesas. 

 

Nesta estória algo não bate certo. Escapa-nos uma peça. Nunca vi nem ouvi sobre alguém que pede financiamento bancário para pagar dormida e reabilitação de um palácio (depois de ter dormido e depois das obras terem iniciado). É muito estranho! 

 

Eu diria que tentaram tramar o cota. O antigo Ministro da Justiça, Abdurremane Lino de Almeida, caiu neste tipo de ciladas: despesas que parecem pequenas, decisões levianas e tufa. Parece-me que tentaram montar um ramo seco para Borges sentar. A sorte do Borges é ser humilde e granjear simpatias da opinião pública. Borges conseguiu romantizar este conto patético e saiu-se lindamente. 

 

É ano eleitoral este: haverá eleição de governadores. Todo cuidado é pouco! 

 

- Co'licença!

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