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quarta-feira, 02 outubro 2019 06:28

SALA DA PAZ: os meus medos

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A SALA DA PAZ é uma grande escola de democracia. Começou em Nampula e agora se expandiu pelo país todo, buscando mais aprendizado, formas harmoniosas de resolver diferenças políticas e aprimorando a transparência na gestão dos processos eleitorais. É uma grande escola e fazer parte dela tem sido igualmente uma grande honra.

 

Posso me gabar de conhecer a SALA DA PAZ por dentro. Mas, como não há bela sem senão, parece que alguém descobriu que esta plataforma é um laboratório de lapidação de futuros políticos, um esconderijo de políticos acobardados e quiçá um terreno de espionagem política. E isso me preocupa muito. Me dá muito medo.

 

Parece que as pessoas que a gente confia os planos e as estratégias desta importante plataforma, a dado momento, acabam sendo recolhidas ou resgatadas pelos partidos políticos - esse ópio civilizacional. De manhã você está a discutir assuntos muito sérios da SALA DA PAZ com alguém e a noite você fica sabendo que esse mesmo alguém está na lista do partido A, Bê, Cê... Xis, Dabliu ou Zé. Isso me preocupa muito. Me dá muito medo.

 

O meu medo é de chegarmos à uma fase em que a plataforma será tomada de assalto pelos partidos políticos. Uma fase em que os partidos políticos terão membros-permanentes na SALA DA PAZ por quotas de representação parlamentar. Uma fase em que esta plataforma não passará disso, simplesmente uma plataforma. Uma fase em que a SALA DA PAZ cairá no descrédito da opinião pública. Uma fase em que a própria SALA DA PAZ não saberá dizer o que ela é na essência. Uma fase de uma SALA DA PAZ sem termos de referência claros e objectivos. Uma organização suspeita. Uma plataforma sem identidade.

 

Tenho medo que as pessoas não saibam em quem e em o que acreditar. Dizia Aristóteles, a primeira verdade de um discurso é o seu próprio orador. Tenho medo que as pessoas percebam que já não somos mais verdadeiros quanto os nossos discursos. A opinião pública ainda espera muito de nós.

 

São os meus medos. Nada contra as decisões de quem quer que seja. Nada contra as pessoas se filiarem onde quer que seja. Só não me agrada que as pessoas usem organizações da sociedade civil como a SALA DA PAZ para fazerem preliminares. Uma organização que faz observação e monitoria do processo eleitoral não pode ser a porta de entrada para a política activa. A SALA DA PAZ não merece essa fama. Qualquer um é livre de se filiar a qualquer partido político que lhe apetecer, mas que não seja através da montra da SALA DA PAZ.

 

Não sou de cortar liberdades de ninguém, mas não podia deixar de partilhar os meus medos. Medo de entrar numa sessão e não saber quem é quem ou quem será quem mais logo ou, pior, quem sou eu. Medo de não saber se vale a pena este compromisso. Medo de não saber a quem dedico as minhas energias. Medo de gritar de júbilo ou de desmaiar no dia de votação. Medo de não conseguir acudir a luta entre o meu eu e o meu mim. Medo de ser um porta-voz de uma organização sem voz nenhuma. Medo de pensar que tudo é normal e que os fins justificam os meios. Medo de confundir opiniões e burlar expectativas.

 

São muitos os meus medos sobre o futuro da SALA DA PAZ. São enormes os meus medos.

 

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