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BCI
segunda-feira, 09 março 2020 06:08

Senhores Doutores, vocês são melhores que isso!

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Não sei porque razão, mas o processo eleitoral - neste pedaço de terra com nome de jóia - é um autêntico festival de boçalidade, futilidade, vulgaridade, inutilidade, banalidade, etecetera. O evento torna-se uma fossa e os concorrentes, excrementos de toda ordem e feitio. Não se discutem manifestos, discutem-se pessoas. Cavam-se passados fúteis que não agregam valor ao debate. 

 

Isto a propósito da eleição da Ordem dos Advogados. Mas também a propósito da eleição da Cê-Tê-A e da SOMAS. Sem esquecer a eleição do MISA, passando pela Esse-Ene-Jota, pela Efe-Eme-Efe, pelas eleições gerais, presidenciais, autárquicas e das assembleias provinciais. Mas também a propósito da premiação do N'GOMA e da AEMO.

 

Se olharmos de soslaio a esses eventos, vamos encontrar algo em comum: desconfiança na comissão eleitoral que acaba no descrédito de todo o processo. São dedos acusatórios, adiamentos, desistências, assobios para o lado, lamúrias, insultos, desacatos. Para piorar, fala-se sempre de um certo partido político que anda infiltrado nos processos eleitorais das agremiações civis. Sempre a imiscuir-se, a baralhar os processos e a criar desordem, qual energúneno obcecado. 

 

A diferença entre esses eventos é que malta FRELIMO e RENAMO e Eme-Dê-Eme se batem, se incendeiam casas e sedes, se insultam, se abusam, se ferem e se matam abertamente ao vivo e a luz do dia, enquanto que os outros fazem tudo isso cobardemente. Hipocritamente, no meio da peleja, os advogados ainda se tratam por "ilustre colega". No fundo no fundo, bem lá no fundão mesmo, começa a ficar claro que por detrás dessas organizações há muita farinha e carapau. Começa a transparecer que o mais importante é ficar na cozinha.

 

Eu era fã de advogados. Os advogados eram os gajos com os quais eu mais rendia em termos de civismo e seriedade. Eram "top" para mim. Mas, honestamente falando, os dois últimos processos eleitorais me decepcionaram muito. Alguém vai dizer que em democracia é assim mesmo, que o que venceu é a Ordem, que a agremiação está mais coesa, que tudo ficou para atrás, que o futuro é o que interessa, bla bla bla... Uma ova! É assim - sim, mas não devia ser. Eleição devia ser uma coisa muito séria... de advogados, muito mais séria ainda. A ética e a moral deviam ser o A-Dê-Ene da Ordem. "Adversário não é inimigo" devia ser o fio que cose o seu genoma. 

 

Os advogados deviam ser o espécime da justiça, da transparência, da cordialidade e do civismo. Onde se reunem para discutir ideias devia ser o molde da ética e da moral. Os processos eleitorais da Ordem dos Advogados deviam ser o protótipo da democracia. Cobrir-se de ternos e gravatas e ostentar pastas de pele de crocodilo ou búfalo e carregar molhos de chaves não basta. Lembrem-se da "mulher do César", meus senhores! Sentem e discutam profundamente sem evasivas nem subterfúgios e elevem a vossa fasquia. Emancipem-se a altura da vossa importância e prestígio na sociedade! Não deixem nodoar o último pano que falta. Vocês são a luz da sociedade. Não se desonrem, senhores doutores! Vocês são melhores que isso. 

 

Não rendi convosco. Estou desconsoladamente decepcionado. Aquelas "cobras e lagartos" de um lado para o outro não eram necessárias. Jogar baixo também não era necessário. Vão ver que podiam ter feito um processo eleitoral sem barulho. Um evento civilizado de uma classe que se espera civilizada. Se advogados devem-se insultar para se votarem entre si, então é o fim da picada. Eu esperava muito mais. Pensava que o país ainda tinha alguma esperança. Agora só falta ouvir que há um Nhongo-advogado que está a disparar na 24 de Julho ou na Julius Nyerere.

 

Enfim, ao novo Bastonário, os meus mais sinceros parabéns. Bom trabalho! Una a classe! 

 

- Co'licença!

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