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quinta-feira, 16 abril 2020 09:16

O fenomenal corte do Salema

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Boa noite, ouvintes da emissão nacional. Bom, não se pode dizer que foi uma grande partida, nem que foi um jogo impróprio para cardíacos. Ouvintes, verdade seja dita, foi um jogo muito desequilibrado, onde os Charlatões tentaram, durante todo o jogo, queimar tempo fazendo jogo sujo, sem nenhum argumento técnico nem táctico. Enquanto isso, os Indignados entraram para a partida com lição muito bem estudada, e fizeram um jogo bastante táctico, mas também, com uma vantagem técnica individual de dar água na boca.

 

De resto, o resumo deste jogo está nos últimos três minutos, quando o Tomás levanta a bola e faz um cruzamento acrobático para o meio campo do adversário, chamando de escandalosa a jogada dos Charlatões de quererem levar para si cerca de quatro milhões de meticais de integração social... para piorar, num momento crítico como este. Esta jogada do Tomás foi aplaudida pelos adeptos dos Indignados que lotaram o estádio. 

 

Não demorou que o Muchanga fizesse uma entrada faltosa contra o Tomás, que já se tinha livrado da bola. O Muchanga, no seu estilo característico, entrou com tudo contra o Tomás, sob pretexto de que o Tomás não entendia nada de reintegração social dos deputados. O Muchanga dá uma cotovelada ao Tomás e tira a bola do seu meio-campo com argumentos de que o dinheiro de reintegração social do deputado provém do desconto de 13 por cento do salário dos deputados e que no Malawi os deputados têm vivendas e carros novinhos-em-folha pagos pelo povo. 

 

O Maitololo - o trinco dos Indignados, inexperiente que é - tentou amortecer a bola no peito, mas não conseguiu dominar num frente-a-frente com o Galiza - dos Charlatões - que fez um corte lateral com os seus "NOVE PONTOS NOS II’s PARA DESMENTIR A FARSA EM TORNO DOS TAIS 4 MILHÕES PARA “REINTEGRAÇÃO!”. 

 

Já no último minuto da partida, Galiza corre folgadamente pelo corredor central, em direção a baliza contrária, fintando todos os adversários com os seus "nove pontos nos ii's". Depois de muitas fintas e dribles mafiados, Galiza entra na grande área adversaria com os mesmos argumentos do seu colega de equipa, António Muchanga, segundo os quais reintegração é desconto de 13 por cento do salário do deputado durante 5 anos. 

 

Sozinho com o guarda-redes, Galiza perde tempo com papo de que Moçambique "é dos que pior remunera os deputados na região austral de África, em África no geral e no mundo inteiro!" e "há gente que, nas organizações da Sociedade Civil, em empresas públicas, fundações, Institutos públicos ou universidades, recebe 2, 3, 4, 10 vezes mais em relação a um parlamentar deste país e tem 'ma regalias' de bradar os céus!". Como diria o Henrique Ali, Galiza perdeu tempo, e com tempo, perdeu a bola! 

 

Enquanto o Galiza se preparava para o remate que tiraria os Charlatões do zero à zero, surge o Salema num corte fenomenal, sem falta, limpinho, limpinho. Salema desmontou todos os "nove pontos nos ii's" do Galiza com um simples "número 2 do artigo 45 do Estatuto do Deputado, aprovado pela lei número 31/2014, de 30 de Dezembro". Pelos vistos, nem o Muchanga nem o Galiza sabiam desse documento que eles próprios aprovaram.

 

Depois do grande corte sobre o Galiza, o Salema - jogador experiente e táctica e tecnicamente competente -, fez o remate da vitória a partir da sua grande área (à moda Roberto Carlos). Foi um remate de baliza à baliza. Tanto o Muchanga quanto o Galiza, ficaram estáticos ao apanharem a ventania da bola em direção ao grande golo da partida, e quiçá, o melhor da história deste campeonato. 

 

De resto, a grande fotografia deste jogo é simplesmente o corte e o chapéu artístico do Ericino de Salema sobre o Galiza Júnior, e o estrondoso tiro já no último minuto de compensação. Afinal de contas, os Charlatões estavam a mentir: "o pagamento do subsídio de reintegração não pressupõe quaisquer contribuições". 

 

Contudo, é importante referir que, apesar da vitória  dos Indignados nesta partida, assim como noutras, os Charlatões vão levar a taça dos 4 milhões de meticais para casa. Foi sempre assim. Esse é o preço da nossa democracia. Esta democracia é cara, diz a FIFA.

 

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