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sexta-feira, 10 julho 2020 07:27

O segredo do M'tumuke

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Estranho! Eu podia jurar de pés juntos que, quando o Chefe de Estado e Comandante em Chefe das Forças Armadas diz que o povo deve estar vigilante e deve apoiar o Estado no combate ao terrorismo, está a se referir em relação a todo tipo de apoio. Eu pensava que estar vigilante era fofocar para malta militares e polícias sobre quem tem comportamento suspeito na zona. Pensava que ser vigilante era estar atento às peripécias do inimigo. Pensava que apoiar na luta contra o terrorismo era dar abrigo, comida, água, suruma, aconchego, etecetera, aos militares e polícias para ficarem mais fortes e espertos. 

 

Eu então estava todo convencido que dar informações sobre quem pretende prejudicar os nossos irmãos das Forças de Defesa e Segurança era um acto heróico e condecorado. Juro!!! E, para mim, estar vigilante incluía revelar quem são os traidores dentro da corporação. Do tipo, encontrar uns bradas fardados num Mahindra lá para as bandas de Quissanga e dizer: hei, bradas, vocês sabiam que a Anadarko [Total] manda um dinheiro para vocês e o vosso chefe come sozinho?... e depois sair a correr. Eu pensava que aí então eu já podia concorrer para o Prémio Nobel da vigilância. 

 

Por isso, quando o Canal de Moçambique revelou que havia um contrato entre as multinacionais e o Estado moçambicano sobre um subsídio para os putos militares e polícias e que alguém andava a comer com seus amigos, eu então fiquei radiante. Até já estava a pensar em falar com o Matias Guente para começar a fazer "laives" no Zoom sobre "coaching" de vigilância ou, então, criarmos um instituto superior de vigilância civil com preços bonificados. Quando o Armando Nename depositou 50 meticais na referida conta para apoiar os militares no combate aos insurgentes, vi nele um candidato a professor da disciplina de Vigilância Prática. Afinal, estava enganado! 

 

Hehehehehe... O que eu pensava que era vigilância é, afinal de contas, conspiração. O que eu pensava que era todo heróico é crime de simulação. O que eu pensava que era apoio é segredo do Estado. Estranho isso!!! Um segredo do Estado guardado no sector privado. Um segredo do Estado moçambicano confiado a um gerente de um banco comercial privado com origens portuguesas. Um segredo do Estado com nome de um indivíduo guardado no computador de um outro indivíduo. O que devia ser segredo do M'tumuke passou a ser do Estado. Vai entender!!! 

 

- Co'licença!

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