Relaxa, camarada João Lourenço! Aqui relaxa-se. O melhor lugar do mundo para curtir umas férias é aqui. Aliás, aqui todo santo dia é dia de férias, feriado ou tolerância de ponto. Aqui trabalhar é pecado. Não entre na onda desses moçambicanos agitadores que dizem que o camarada devia ensinar alguma coisa ao nosso Presidente da República Filipe Nyusi. Não tente ensinar a trabalhar aqui. Não entre nessa. Vá por mim.
Não tente ensinar como se caçam marimbondos daqui. Se tentar, não será bem-vindo. Marimbondos daqui não se caçam. Não são para matar. Aqui caça-se a quem trabalha. Se tiver que caçar, que sejam vendedores, operários e camponeses.
Samora tentou caçar esses facínoras e pagou com a própria vida. Siba-Siba, Cardoso, Cistac (a lista é longa) também viraram de caçadores a presas de marimbondos.
A Kroll chegou aqui tipo James Bond e voltou depenada no dia seguinte. O seu relatório de mais de uma centena de páginas foi revisado, corrigido e editado que sobraram apenas cinco faces de folha de papel onde a primeira página é capa; a segunda, acrónimos; a terceira, índice; a quarta, agradecimentos e; a quinta, ficha técnica. Um todo trabalho de uma equipa forense internacional renomada virou lixo. Relaxa, senhor presidente, pois aqui a vida é essa mesmo: descansar. Aqui descansa-se.
Quando se cansa de descansar, volta-se a descansar. É assim que se ganha dinheiro por aqui. Veja que aqueles nossos deputados que só sabem elogiar a gravata e o penteado dos seus chefes são muito bem pagos. Aqueles Juízes sem juízo estão a pedir aumento das suas mordomias. Veja que até os trabalhadores da EMATUM, aquela empresa que comprou pranchas de surf pensando que eram barcos, têm feito greve por falta de salários (numa situação normal, a greve seria por falta de trabalho). Dizia, não tente ensinar a eliminar os nossos marimbondos, por favor! Esses são de estimação escolhidos a dedo num "pet-shop" de luxo para fazerem "marimbondagem" nas nossas vidas. São muito nossos.
Boas férias, camarada presidente!
Publicado em 13-12-2018
*Desde a primeira edição de Carta, em 22 de Novembro de 2018, o cronista Juma Aiuba impregnava nestas páginas o doce sabor da sua escrita. Sua morte abrupta foi um tremendo golpe. Para tentar manter sua voz viva, Carta decidiu reeditar semanalmente uma das suas crónicas. Seu perfume permanecerá vivo!
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