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sábado, 15 outubro 2022 12:56

O Carlos Ribeiro já deve estar a contar ao Carlos Cardoso as novidades da terra

Escrito por

ribeirosomethi

O Carlos Nazareth Ribeiro que morreu nesta semana era um homem interventivo na sociedade e para isso ele usava sua amizade com jornalistas. Era daqueles seres inconformados, vivia no antípodas do fingimento cúmplice com o status quo. Carlos Cardoso era o jornalista a quem ele mais recorria. Ribeiro frequentava a redacção vezes sem conta ao fim do dia. Para deixar uma cacha. Ele era uma fonte fiel de informação. Cardoso era um cultor de fontes e em Ribeiro ele buscava clareza sobre suas dúvidas relativas à vida comercial de Maputo, as vicissitudes da burocracia estatal, incluindo a tributária. Ribeiro estava sempre solícito do outro lado da linha. Durante anos, ele geriu a Interfranca, quando o centro era o ícone da moda e afins em Maputo. Era um homem de referência.

 

E com reverência. Discretamente. Era um animal político. Quem lhe seguiu no Facebook mais recentemente deve ter percebido desse seu voluntarismo para o exercício da cidadania. Crítico. Mas um crítico que era anti panfletário, sagaz e mordaz, que apreciava o comentário político e a linguagem viperina do Carlos Cardoso. Houve entre ambos uma cumplicidade urdida na vontade da participação cívica quando o advento da democracia e das autarquias locais bateu as portas e emergiu entre muitos o entusiasmo e a crença de que era possível melhorar a gestão da cidade de Maputo no contexto de um laxismo generalizado e uma gestão caótica da terra urbana.


O JPC, um grupo de cidadãos que se mobilizou e conseguiu formar bancada na Assembleia Municipal de Maputo, gozando da inesgotável energia do Editor bateu se por uma agenda de transparência mas foi vencido pela ortodoxia da Frelimo. Cardoso, Ribeiro e companhia defendiam que a terra urbana podia ser uma fonte de receitas para a edilidade sem se abdicar do pressuposto Constitucional da propriedade estatal. Cardoso era contra a negociata milionária da terra, sobretudo nas barreiras e toda a faixa da Marginal.A terra é do Estado mas era vendida milionariamente para bolsos privados. Uma grande aberração. Carlos Ribeiro participou desses momentos de discussão efervescente sobre a vida da cidade de Maputo, tentando melhorar coisas como a gestão dos mercados e suas receitas, assim como a interacção com um galopante sector informal. Ribeiro foi um cidadão pleno. Eu venero a importância que ele depositava no jornalismo como uma ferramenta de mudança social. Sua cumplicidade com o Carlos Cardoso dá disso conta, sem batota.

 

O assassinato do jornalista foi uma crueldade sem paralelo. Ribeiro partiu há dias. Eu creio que ele deve ter se encontrado já com o Editor em qualquer reencarnação. Sua primeira novidade será revelar ao Cardoso do unanimismo que se apoderou da sua Frelimo. Pois, a Frelimo do Cardoso. O grupo virou de massa pensante para massa dançante. Quem escreveu que a razão era o que era e a emoção negra...


Um grande abraço Carlos Ribeiro

 

Marcelo Mosse



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