Nampula é a província mais populosa do país; é a segunda província com maior densidade populacional (perdendo apenas para a cidade de Maputo); é uma província de alta mobilidade comunitária e urbana; é uma das províncias com maior mobilidade e presença de estrangeiros (cerca de 10 por cento dos residentes são africanos dos grandes lagos); é um corredor nacional e regional (marítimo, terrestre e aéreo); possui um dos maiores centros de refugiados do país e da região; recebe refugiados de guerra de Cabo Delgado; tem uma população maioritariamente analfabeta; é um terreno sensível a boatos; é uma província predominantemente da oposição (onde quase tudo o que vem do governo se confunde com ordens do partido FRELIMO e a tendência é não acatar para não parecer frelimista); é uma província culturalmente com forte solidariedade comunitária; etecetera.
Só agora, depois de estarmos na contaminação comunitária da Covid-19, o governo central, na pessoa do ministro da Saúde, diz que vai reforçar a vigilância a nível da cidade e da província de Nampula e, por isso, vai instalar um laboratório de testagem na província. Isto é o verdadeiro espírito moçambicano de deixar tudo para a última hora. Espírito de bombeiro.
Isso significa que estamos a viver uma Emergência sem Estado. O Estado está a correr atrás da Emergência. O Estado está perdido. Não se explica que Nampula, Niassa, Cabo Delgado (até Zambézia) ainda estejam dependentes do laboratório de Maputo quase três meses depois ser detectado o primeiro caso aqui na região. Nampula é capital regional e tem tudo para ter um laboratório também regional. Aquela triste e vergonhosa notícia do primeiro óbito que teve o seu resultado cinco dias depois de morrer é obra da preguiça do Estado. Esses números volumosos de casos que estamos a ter na província também têm a ver com isso. A transmissão comunitária que hoje se vive em Nampula é o resultado dessa apatia. Assim não dá!
Será que o governo não fez essa leitura antes de entrarmos para a contaminação comunitária?! Será que a comissão científica não analisou isso e mais outras características?! Será que esses números que estamos a ter em Nampula são, de facto, surpreendentes de todo?! Será que é mesmo novidade que Nampula iria "ganhar"?!
E agora!!! Será que não é tarde demais?! Um laboratório de testarem da Covid-19 no fim do terceiro "round" do Estado de Emergência vai ajudar?! Ainda vamos a tempo de conter essa contaminação?! Ou é como aqueles cotas que esquecem de tomar a viagra e só se lembram no meio do jogo. Aqueles que tomam "gonazololo" no momento do orgasmo, quando tudo está a tremer, ambos com olhos de bagre morto, pernas bambas e gemidos de hienas no cio. Só para dizer que tomou!
- Co'licença!
Se as ruas pudessem votar seria bem interessante. Conheço uma rua da cidade de Maputo, que de tão oprimida, nem na oposição votaria. Essa rua, na verdade uma avenida, é a Ahmed Sékou Touré (o nome de um antigo presidente da Guiné-Conacry), a outrora e colonial Afonso de Albuquerque, o nome de um expansionista português que chegara a Governador/Vice-rei da índia portuguesa. Para quem é/foi morador ou com o local de trabalho nesta avenida não hesitaria em subscrever o presente texto, pois sabe quão a Ahmed Sékou Touré é oprimida por dentro e pelos seus pares vizinhos. Sigam-me.
A partida, as fronteiras da Av. Ahmed Sékou Touré - inicia na Av. Julius Nyerere, antigo presidente tanzaniano, e finda na Avenida da Tanzânia - significam que se está ainda em Nachingwea, o campo de treino militar da FRELIMO na Tanzânia. Logo, não se está independente na Av. Ahmed Sékou Touré. É a primeira opressão. A segunda situa-se no início da avenida e do lado esquerdo para quem dá costas à Nyerere (com todo o respeito). Trata-se de um edifício das finanças que, trocado em miúdos, é o símbolo de impostos (e quem gosta de os pagar?). Na mesma posição e do lado direito está localizada o Palácio dos Casamentos que é a terceira e sinistra (para alguns) opressão. Isto para citar, de memória, alguns exemplos.
A opressão, na Av. Ahmed Sékou Touré, não se circunscreve apenas ao local de nascimento. Existe uma outra, a que me interessa, tão presente, devastadora e sufocante em toda a sua extensão. Falo da opressão movida por duas avenidas paralelas e adjacentes. São a Eduardo Mondlane, 1º presidente da FRELIMO, e a 24 de Julho, o dia das nacionalizações. As avenidas, entre outras e ditas protocolares, por onde passa o poder, soltando ruidosas sirenes que de tanto vociferarem, dos dois lados da avenida, e vezes sem conta em simultâneo, até ameaçam, à milhas, a saúde dos tímpanos dos patronos da rua quer os do presidente guinéu, no sossego do seu túmulo, lá para as bandas de Conacry, a capital da Guiné do mesmo nome, quer os do Governador e Vice-rei da índia portuguesa que anda, suponho, perdido pelas ruas de Lisboa, a capital, por conta do desaparecimento do seu túmulo no Terramoto de Lisboa de 1755.
Dos quatro presidentes de Moçambique, o único que até agora vi a passar pela oprimida Ahmed Sékou Touré, e no exercício das suas funções, foi Armando Guebuza, o “Enfant terrible” de Samora Machel, que cortara, no sentido Este-Oeste, uma boa parte da avenida e creio, terá parado, para uma inauguração ou visita, algures próximo ao Jardim dos “Mandgermans”, o oficial Jardim da Liberdade. Em conversa com um amigo, que também vira e ligara para mim, enquanto o “momento histórico”, a passagem da comitiva presidencial pela Av. Ahmed Sékou Touré, acontecia, comentamos, na altura, de que só ele, o Guebuza, entre os três presidentes até então, compreendia a dimensão da opressão habitada na Av. Ahmed Sékou Touré. Isto porque, na era colonial, na sua trajectória nacionalista, Guebuza “vivera” numa das suas esquinas, concretamente na da funesta, e de má memória, “Vila Algarve”, uma antiga prisão da polícia política portuguesa (PIDE), hoje um edifício em ruínas.
Lembrei-me da Ahmed Sékou Touré, como uma rua oprimida, a reboque do protesto da comunidade afro-americana contra a opressão de que são vitimas, em particular da polícia estado-unidense. Na esteira do exemplo, discordando apenas do recurso à violência, sugiro aos oprimidos da Av. Ahmed Sékou Touré, os antigos e os actuais, que se organizem e movam uma acção pacífica de protesto contra o Estado. No mínimo, um abaixo-assinado e um processo judicial em que se exija o pagamento de uma choruda indeminização, entre outros, por danos na audição e com efeitos nefastos na visão.
Por ora, enquanto decorrem os preparativos organizacionais para o protesto, até que se podia colocar, junto ao murete do Palácio dos Casamentos, uma lápide inscrita “ Rua Oprimida”. É uma ideia e não sei até que ponto seria consensual na futura Associação “Rua Oprimida”. Espero, a fechar, que os da Av. Ahmed Sékou Touré, os de ontem e os de hoje, não levem a sério, e nem a brincar, o escrito neste texto.
PS: Prometera, em finais de Maio, de que só voltaria a publicar no início de Julho. A ideia era a de mostrar ao PR o meu comprometimento em ficar em casa, fisicamente e virtualmente. Ainda não cumpri, sobretudo a nível virtual. Já publiquei um texto. Agora o segundo. Um exemplo de que está difícil cumprir com as medidas do estado de emergência. Não me parece que o facto de ter sido uma das vítimas da “Rua Oprimida” (tipo já não ouço e mal enxergo) seja uma desculpa plausível.
Quem de nós não morre quando todos morremos em Muidumbe?
Quem sobrevive incólume diante dos impiedosos algozes
daqueles nossos infaustos concidadãos de Muidumbe?
O sacrifício dos que foram assassinados em Muidumbe
não é bastante para sangrar os jornais além das efémeras notícias
que não abalam a nossa moçambicaníssima complacência?
Quem fica de joelhos pelos mortos de Muidumbe?
A galhardia daqueles que foram metralhados
sem comiseração
em Muidumbe
não sufraga a honra das nossas ruas?
Por que nada exigimos?
Por que razão nenhum clamor fazemos?
Os nossos punhos não se compadecem
por todos os que morreram por nós em Muidumbe?
Os mortos de Muidumbe não concitam a nossa dor?
Os mortos de Muidumbe desmerecem a nossa compaixão?
Os mortos de Muidumbe não tributam o nosso sofrimento?
Somos misericordiosos com os outros mortos
e postergarmos os nossos mortos de Muidumbe.
O sangue vertido em Muidumbe não é nosso sangue?
Onde estão as vigílias
as velas
as praças exaltadas?
As missas
liturgias
eucaristias.
Nenhuma cidade se levanta perante os mortos de Muidumbe.
Porquê?
Os mortos de Muidumbe resistem sem rosto.
Os mortos de Muidumbe são apenas um número
para a estatística
para o cadastro
para o catálogo da nossa humilhação colectiva
para a recensão da desonra
para o arquivo e para o esquecimento.
Os mortos de Muidumbe não cantam.
Os mortos de Muidumbe não falam.
Os mortos de Muidumbe não reclamam.
Os mortos de Muidumbe não sonham.
Os mortos de Muidumbe não gabam a quimera dos seus epitáfios.
Nem esperam o requiem dos outros defuntos.
Os seus gritos não conclamam os deuses
porque os deuses estão ensimesmados com outros mortos.
Os mortos de Muidumbe foram enterrados
mas permanecem insepultos.
Nenhuma necrologia inscreve os seus nomes.
Os jornais não têm letras de sangue
para os que morreram em Muidumbe.
Não há obituários para os mortos de Muidumbe.
Os jornais são omissos quanto ao massacre de Muidumbe
o genocídio de Muidumbe
os fuzilamentos de Muidumbe
o extermínio de Muidumbe
a carnificina de Muidumbe.
Os mortos de Muidumbe perseveram no anonimato
como os decapitados de Mocímboa da Praia
Quissanga
Mueda
Palma
Metuge
Macomia
a Norte onde se aniquila o futuro do nosso passado.
Os mortos de Muidumbe não desconsolam o mundo
o mundo está assoberbado com outros mortos
o mundo urge para os outros mortos
o mundo não tem empatia com os mortos de Muidumbe.
Há um pérfido alheamento pelos mortos de Muidumbe.
Os mortos de Muidumbe não fazem parangonas
não abrem telejornais.
Quem morremos com os mortos de Muidumbe?
Será que não morremos todos com os mortos de Muidumbe?
Ninguém de nós se condói pelos mortos de Muidumbe?
Que país é este que não se enternece com os mortos de Muidumbe?
Os nossos pêsames
a nossa consternação
a nossa comiseração
a nossa humanidade
não são dignos dos mortos de Muidumbe?
Que luto é este que escolhe não velar os mortos de Muidumbe?
Que mortos sufragamos nós para carpir as nossas lágrimas?
Que angústia é essa tão insolente quanto aos mortos de Muidumbe?
Que silêncio é este perante o silêncio dos que foram silenciados em Muidumbe?
Quem de nós não morre quando todos morremos em Muidumbe?
Nelson Saúte
Junho de 2020
Está no fim da estrada e mantém a dignidade dos tempos. Não verga. Quanto mais perto da meta, mais pujança na sua personalidade. É como se estivesse num grande estádio a abarrotar, sentido as palmas que a catapultam. Sabe que já não terá mais forças do que estas que estão no limite, por isso usa-as até ao limite. Não recorre aos anabolizantes, os anabolizantes é a música do passado, que repete sem se cansar no seu inacreditável gira-discos, daí a frescura transbordante da Mwali, recolhida numa casa transformada em Meca, onde os amigos vão regularmente para ouvir as histórias de uma era pura, que parece voltar em cada palavra.
Vive na orla do mar, de onde continua a usufruir, como sempre desde a nascença, da pompa de uma paisagem fascinante que se estende a seus pés. Dali ela acompanha o movimento dos pescadores, que muitas vezes voltam com os cestos vazios, depois de longas horas puxando as redes de emalhar ou de arrasto, ou ainda das mulheres, que ao cair da noite descem com as pequenas redes de pesca de camarão, e regressam também derrotadas, sem nada. Mas há muitos momentos também, que Mwali testemunha o festejar da faina farta.
Ela é a nossa secerdotisa, colocada no lugar de sumo pontífice, posto conquistado pelas “homilias” inacabáveis que inocula para que, segundo ela própria, pelo menos nos recordemos da existência do Criador do Céu e da Terra. E dos Homens. Mas Mwali por vezes exagera, se calhar levada pelas emoções de um ambiente borbulhante, que nos espicaça a querer voltar sem cessar, num ciclo vicioso, para aquele lugar que nos entusiasma. Citou, numa das recentes ocasiões, sem saber que provocaria um efervescente debate, uma vez que está habituada a ser ouvida sem grandes questionamentos quando evoca a bíblia, uma passagem que nos pareceu ser um contra-senso.
Normalmente nunca temos o livro Sagrado por sobre a mesa, para aferir o que vamos ouvindo da Mwali. O que ela diz é por demais caudaloso, tão profuso que nos limitamos a abanar a cabeça em sinal de consentimento, como vassalos, virando goela à baixo, de vez em quando, uma cachaçazita sempre disponível, para aclarar a mente. Mas nesse dia as coisas mudaram de rumo. Segundo Mwali, no Salmos, cap. 21, David diz o seguinte: “o que me magoa, é que o Altíssimo já não é o mesmo”. Perante esta afirmação, um dos companheiros virou-se para Mwali e disse, isso não é verdade! Não sou leitor da bíblia mas Deus sempre foi o mesmo desde que existe, quem não é o mesmo somos nós. Deus não é metamorfo.
No lugar de o ambiente gelar, uma vez que a “raínha” era posta em causa pela primeira vez, a “afronta” tornou-se motivo para voltarmos a encher os copos e desligar o gira-discos que tocava, em disco de vinil, a música de Percy Sledge, When a man loves a woman. Pedimos a bíblia, e Mwali disse que não tinha bíblia, porém - como nos afiançava - o que ela dizia era a pura verdade, e que se quisessemos nos certificar disso, então podemos ir consultar nas nossas casas. E é o que vamos fazer, enquanto aguardamos o próximo enconto que já está a criar emormes expectativas.
Quando os tamancos se comunicaram com o chão da terminal rodoviária da “junta” na periferia da cidade de Maputo, produziram um estrépito chamativo. O jovem que os calçava não se importou com os olhares folgazes de que era alvo.
Foi um dos últimos a desembarcar do autocarro interprovincial proveniente de Chókwè na província de Gaza.
Os seus admiradores miravam-no curiosos e deixavam escapar uma risada, o recém-chegado percebeu que criava impacto no seio das pessoas próximas.
- Onde apanho um chapa para a baixa? – questionou para um dos utentes da terminal rodoviária
Caminhou sereno segurando uma mala velha e pesada, usava um chapéu de palha com abas pequenas, a jaqueta de couro castanho desgastada e ligeiramente pesada descaía no ombro direito, exactamente do lado da mão que segurava a mala. A camisa de capulana com as cores amarelo e vermelho era suplantado pelo casaco, as calças eram de caqui verde-escuro.
Não demorou para embarcar no chapa, os passageiros abriram alas para deixa-lo passar admirando suas vestes, uma moça vagou o lugar e o ofereceu.
- Obrigado! - proferiu com um sorriso alegre no rosto.
O chapa marchava velozmente ultrapassando os outros carros, este malabarismo perigoso agradava a Carlos Wena que vinha pela primeira vez a cidade de Maputo com a mente repleta de sonhos que pretendia realizar. Vinha animado depois de receber o convite do seu primo que triunfara na grande metrópole.
O desembarque na baixa da cidade deixou-o atónito, olhava para cada canto da cidade intimidado pelos monstros de cimento que se erguiam por todo lado, os carros que circulavam velozmente dum lado para outro deixavam-no desorientado. Ficou parado por um tempo, estudando o ambiente que morava ao seu redor, temia dar um passo em falso que podia comprometer a sua chegada a grande cidade.
Posicionou a sua mala no chão, sentou sobre ela e procurou organizar as ideias, já passavam das 15h00.
Uma turba de petizes em gozo de férias escolares deu com o alegórico personagem de Carlos, pararam e olharam-no maravilhados, riam e trocavam conversa.
Já descansado pegou na sua maleta e iniciou a caminhada seguida de perto pelos meninos que multiplicaram as suas risadas agora que o viam em movimento.
A sua derradeira jornada seria até a casa do primo no bairro suburbano da polana caniço nos arredores da cidade.
Os meninos depois de consumirem momentos de alegria gratuita partiram para outras brincadeiras.
A vitrina com letras garrafais do nome do estabelecimento avivaram sua mente e recuperou uma imagem que guardava num canto especial da sua mente.
O jovem forasteiro entrou para o estabelecimento comercial, abeirou-se do balcão, descansou a sua mala no chão.
- Sim, se faz favor? Investiu o balconista.
Ainda distraído, o recém-chegado apreciou o ambiente que por ali morava durante um tempo e cabisbaixo falou para o balconista.
- Quero falar com o rei – disse convicto.
O balconista vigiou demoradamente o estranho cliente, e ainda perplexo perguntou:
- Como disse?
- Quero falar com o rei - repetiu o forasteiro seguro do que buscava.
Pela indumentária e o gesto meio aparvalhado, o atendedor ajuizou que o homenzinho devia estar desprovido de sanidade mental. Então decidiu embarcar na brincadeira.
- Meu senhor, somos um estado semipresidencialista, isto para dizer que temos um presidente que por coincidência foi reeleito a bem pouco tempo. – gabou-se o balconista dos seus dotes políticos.
- Mas eu quero falar com o rei! – insistiu sereno, o estranho cliente.
- Meu jovem, nós, a República de Moçambique não é uma monarquia. – frisou o balconista cada vez mais convicto dos seus saberes.
- Meu senhor, saiu na televisão a dizer que o rei chegou, até falam em inglês “the king is here” – assegurou Carlos sereno de que a sua explicação poderia elucidar o balconista.
Já meio irritado com a insistência parva do cliente, o atendedor procurou ignorar a investida do recém-chegado e deu atenção a um outro cliente.
Um curioso que destrinçava o diálogo entre o balconista e o pomposo cliente, processou a pretensão de Carlos, levantou-se e o abordou.
Depois de uma breve intersecção verbal, o curioso pousou teatralmente uma garrafa no balcão, Carlos abriu os olhos e largou um sorriso rasgado, segurou a garrafa que o ofereciam e agradeceu imensamente aquele anjo que soubera interpretar as suas aspirações.
- Eu sabia que o rei estava aqui! Afirmou felicíssimo – Muito obrigado mano.
E então bebeu, bebeu prazerosamente a cerveja.
Sinceramente! Será que era mesmo necessário que a Assembleia da República enviasse uma carta ao Tribunal Administrativo a solicitar um atestado sobre o estado de ética de Gustavo? Precisava mesmo?! Será que a dúvida sobre o dito cujo ser detentor de uma mão-leve era assim tão grande?! Será que não se podia esclarecer isso internamente, em vez de se gastar papel, tonner, carimbo, assinatura, agrafador, envelope, cola, combustível, tempo, etecetera, do Estado?!
Mas, também era necessário o Tribunal Administrativo fazer uma esteira daquele tamanho para responder à solicitação da Assembleia da República?! Aquele festival de vocábulos todo só para dizer que Gustavo roubou - sim -, foi condenado e ele não gostou da condenação e recorreu?! Custava alguma coisa dizerem simplesmente "senhores deputados, respondendo à vossa solicitação, temos a dizer, sem evasivas nem subterfúgios, que esse madala aí não presta... é gatuno, mas ele não não gosta de assumir!" e ponto final?! Aquelas voltas todas eram desnecessárias.
Também acho desnecessário o tempo de espera para ter uma resposta a um recurso da decisão do tribunal. Quase uma década a espera da tramitação de um recurso?! Assim qualquer ladrão esquece que roubou! Quer dizer, as vezes o Gustavo chega mesmo a acreditar que é inocente. É que já mamou a mola e esqueceu e, como nunca entrou na "djela", acaba acreditando mesmo que nunca roubou. Com o avanço da idade, coadjuvado por consumo desproporcional de poções etílicas e ervas daninhas, é normal que o Gustavo diminua paulatinamente os seus intervalos de lucidez e passe a acreditar na sua esquizofrenia de bom moço. Pode ser que, quando ele diz que é inocente e que nunca roubou, esteja a falar de boa fé. Pode ser que, no fundo do seu coração, o Gustavo acredite mesmo que seja um cidadão ético. É muito tempo de liberdade para um gatuno!
Enfim, está aí a certidão do acórdão do Tribunal Administrativo para "clarificar e aferir a idoneidade de um dos candidatos a membro da Comissão Central de Ética Pública" que mostra claramente que o fulano em questão não passa de um insurgente urbano de terno e gravata e português polido que se aproveita dos corredores do lambe-botismo criados pela FRELIMO para sequestrar o Estado moçambicano. Um charlatão de perigosidade nível 4.
- Co'licença!