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BCI
terça-feira, 20 julho 2021 10:21

Carta ao Leitor ||| Tomás Salomão, a elite política nos negócios, o Xerife, um novo paradigma e a postura da demissão

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Golpeado profundamente no seu ego, Tomás Salomão, membro da Comissão Política da Frelimo, continua inamovível. De pedra e cal como PCA do Standard Bank (SB), mesmo depois de seu único capital (o capital do lobby político) ter sido esvaziado de forma vexatória pelo Xerife do Banco de Moçambique, o governador Rogério Zandamela.

 

A suspensão do SB por um ano é uma punição gravosa que vai certamente reconfigurar a correlação de forças entre os Big Five da banca moçambicana. O SB vai perder uma boa parte da sua quota de mercado. Bancos como o BIM e o ABSA estão a receber alguma preferência dos clientes que estão a transitar do SB. 


Há pouco mais de um mês, quando foi anunciada a suspensão provisória do SB do mercado cambial interbancário (e mais tarde de todo o mercado cambial), Tomás Salomão exibiu um ar de serenidade absoluta, tentando mostrar que era capaz de inverter a situação em benefício do banco.

 

Mas não. As contravenções tinham demasiado gravosas, lesa-economia, e justificariam, para uns, as medidas de choque anunciadas pelo banco central. E, de certo modo, o Xerife, em véspera de renovação de mandato (16 de Setembro), aproveitou o cenário para cimentar seu poder político diante de uma elite frelimista sem margem de manobra: a espada das dívidas ocultas está severamente apontada em direcção às suas cabeças.

 

O endividamento oculto (incluindo as evidências sobre um famigerado “new man”) fragilizou tremendamente a capacidade de "leverage" desta elite política diante do FMI, e Zandamela sabe disso, e usa isso para demonstrar sua independência (a do banco Central, como regulador) e isso é bom para o sistema financeiro no geral. O problema é que ele fá-lo sem decoro, não medindo os efeitos secundários das suas intervenções sobre a economia e negócios. No caso vertente do SB, ele ignorou completamente o efeito perverso sobre os clientes do banco.

 

Mas, a grande lição (e este é o tópico central deste texto) que fica deste caso é o inicio do fim da promiscuidade entre política e negócio nos lugares cimeiros da banca. A prática vigente, de o capital apontar uma figura política para liderar, embora que simbolicamente, seus negócios, esperando dele uma mãozinha de proteção em caso de reconhecida improbidade, está a chegar ao fim. Basta olhar para a nóvel composição dos órgãos sociais do BCI.

 

A incapacidade demonstrada por Tomas Salomão, que não conseguiu empurrar a Comissão Política da Frelimo para uma trincheira de musculação contra Zandamela é o indicador mais paradigmático dessa transição. Não creio que os accionistas do SB segurem Salomão por mais tempo. A ver vamos... A classe política saiu severamente beliscada desta trama. E Tomás Salomão poderá acabar deixando o SB pela porta dos fundos. Ele mostrou-se completamente irrelevante lá. 

 

O único comportamento que lhe pode safar - não perante os accionistas mas perante a sociedade - é ele demitir-se de cabeça erguida, mostrando à sociedade uma ainda esperada postura de bom senso...inaugurando nesta mesma sociedade, pela primeira vez, uma postura de dignidade jamais vista em Moçambique...a postura da demissão quando chegamos ao fim da linha...(Marcelo Mosse)

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