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terça-feira, 06 junho 2023 08:15

A desgraça criativa de Mc Roger

terça-feira, 06 junho 2023 07:23

Quando incapazes de nos autodiagnosticarmos!

Bastou um estalar de dedos do FMI para corrermos a mil a hora para revermos em baixa os salários dos titulares dos órgãos de soberania e dos servidores públicos, numa palavra, dos nossos big bosses e… dignos representantes! Não fomos capazes de, nós mesmos, com os nossos próprios olhos, vermos que estávamos a caminhar para o abismo. Nem se quer a proeza atingida o ano passado, 2022, jamais vista e registada em todos os anos da nossa independência nacional em que tal instituimos, de não conseguirmos pagar o décimo terceiro salário aos funcionários e agentes do nosso Estado, nos despertou para o quase holocausto perante o qual estamos (estavamos?, oxa lá sim!) de não podermos pagar salários.

 

É lamentável que assim tenha sido. Que tenha sido só a palavra do Fundo Monetário Internacional a entrar nos nossos ouvidos. Significa que nós não temos capacidade de nos autodiagnosticarmos; não temos capacidade de auto-análise, de nos auto-auditarmos; de vermos que estamos a caminhar no mato. Perdemos as sensibilidades cognitivas, ficamos sem intelecto. Triste e profundamente decepcionante para uma sociedade que almeja algo diferente, bom e fluorescente.

 

E sinais de perigo não faltaram. Nem era/é preciso conhecimento bastante apurado para perceber que “algo errado não estava certo”! Pelo mundo, não há estado algum em que 70 por cento do seu orçamento seja para pagamento de salários! Quer dizer, todas as outras rubricas, incluindo ou sobretudo a de investimento, têm que caber nos restantes 30 por cento. Não há, entre nós, quem não tenha conhecimento deste facto, é público! Acredito que os que nos dirigem podem não ter a real dimensão da enormidade, porque absortos em outros propósitos; mas já não é crível, nem aceitável que os nossos muitos crânios, interna e externamente, não estejam cientes. Seja qual for a situação, facto, facto é que está aqui desnudada a nossa incapacidade de nos autodiagnosticarmos! 

 

Mais triste ainda, é que preferimos entender o que quisemos do alerta do FMI; não propriamente o que ela aconselhou. Aquela instituição recomendou, vivamente, diga-se, o emagrecimento da massa salarial na Função Pública. Ante esse texto, entendemos nós que era para somente reduzir os salários dos bigs. Reduzir o salário dos bigs, se bem que racional, oportuna e pertinente, é um paliativo para os desafios que se nos colocam. Não é mau reduzir-se os exorbitantes salários e regalias dos bosses, mas isso representa pouco no colossal rol de esbanjamentos orçamentais no nosso solo pátrio!

 

A título de exemplo, podemos ver algumas “coisas” e práticas que inflacionam grandemente o nosso orçamento de estado. Uma primeira é a duplicação de estruturas, somos exímios em duplicar instituições. Governador e Secretário de Estado Provincial. Na prática, o que temos tido desde a implementação desta medida são dois governadores provinciais e mais os administradores dessas cidades, com todas as mordomias associadas. Isto é pura e simplesmente um esbanjamento de fundos, sem sentido e bastante desnecessário. Eu sou de abolir os secretários de estado!

 

O nosso segundo centro de esbanjamento de fundos é a proliferação de ministérios. Não é racional, nem temos recursos para tal, haver um ministério para cada área. Temos muitos ministérios que não se justifica que sejam independentes, alguns deles podem caber num só e serem eficientes. O grupo educação, ensino superior, ensino técnico, ciência e tecnologia,  pode e muito bem formar um único ministério. O grupo agricultura, terra, ambiente pode estar num ministério. O grupo mar, águas interiores, recursos hídricos (qual a diferença entre águas interiores e recursos hídricos?) pode também estar num só pelouro. Defesa e combatentes podem ser um ministério. Trabalho, emprego, acção e segurança social (qual a fronteira entre acção social e segurança social?) podem ser agrupados numa pasta. Precisamos de entender que não temos recursos para termos um ministério para cada área social importante e que o mais relevante não é propriamente ter ministério, mas ter uma política e estratégia adequadas para determinada área e muito boa governação.

 

Uma outra componente que erode grandemente o erário público são as múltiplas viagens presidenciais internas. Não há, literalmente, uma semana em que não há visita presidencial a uma província. Há mais viagens presidenciais do que ministeriais e muito menos até de governadores  e/ou secretários de estado a postos administrativos ou localidades. Não que o Presidente da República não deva visitar as províncias, mas nos nossos moldes dá a ideia de que é ele que superintende directamente as províncias ou as actividades sectoriais e ou distritos. É preciso que tenhamos ciente dos custos de uma viagem presidencial, são elevados, elevadíssimos; mexe com uma enorme quantidade de recursos (humanos, financeiros e materiais). Os mundos e fundos que é preciso movimentar… e, feitas com a frequência com que fazemos, não há saco azul que aguente. E ligados a estas deslocações, temos as cerimónias de inauguração. Não que o chefe do Estado não deva inaugurar realizações. Deve, sim. Mas tenhamos ciente os enormes custos que tais representam envolvendo-se a figura de chefe de Estado e que arruínam qualquer estrutura financeira; e muito boas vezes tratam-se de infraestruturas que bem podiam ser inauguradas por ministros, governadores ou secretários de estado...

 

Os valores que gastamos nestas práticas apontadas aqui e noutras mais, como a corrupção desenfreada que está de vento em popa, bem podiam constituir um pé de meia para muitas preocupações que nos afligem, como a falta de medicamentos nos hospitais, estradas e outras vias de acesso precaríssimas, falta de carteiras e de transporte público. Ao assobiarmos para o lado, ou tomarmos aspirina ante problemas de grande profundidade, ou estamos a revelar incapacidade cognitiva de nos autodiagnosticarmos, ou deliberadamente estamos a negligenciar o interesse colectivo da nossa nação!

 

MMabunda

terça-feira, 06 junho 2023 07:18

Quando incapazes de nos autodiagnosticarmos!

MoisesMabundaNova3333

Bastou um estalar de dedos do FMI para corrermos a mil a hora para revermos em baixa os salários dos titulares dos órgãos de soberania e dos servidores públicos, numa palavra, dos nossos big bosses e… dignos representantes! Não fomos capazes de, nós mesmos, com os nossos próprios olhos, vermos que estávamos a caminhar para o abismo. Nem se quer a proeza atingida o ano passado, 2022, jamais vista e registada em todos os anos da nossa independência nacional em que tal instituimos, de não conseguirmos pagar o décimo terceiro salário aos funcionários e agentes do nosso Estado, nos despertou para o quase holocausto perante o qual estamos (estavamos?, oxa lá sim!) de não podermos pagar salários.

 

É lamentável que assim tenha sido. Que tenha sido só a palavra do Fundo Monetário Internacional a entrar nos nossos ouvidos. Significa que nós não temos capacidade de nos autodiagnosticarmos; não temos capacidade de auto-análise, de nos auto-auditarmos; de vermos que estamos a caminhar no mato. Perdemos as sensibilidades cognitivas, ficamos sem intelecto. Triste e profundamente decepcionante para uma sociedade que almeja algo diferente, bom e fluorescente.

 

E sinais de perigo não faltaram. Nem era/é preciso conhecimento bastante apurado para perceber que “algo errado não estava certo”! Pelo mundo, não há estado algum em que 70 por cento do seu orçamento seja para pagamento de salários! Quer dizer, todas as outras rubricas, incluindo ou sobretudo a de investimento, têm que caber nos restantes 30 por cento. Não há, entre nós, quem não tenha conhecimento deste facto, é público! Acredito que os que nos dirigem podem não ter a real dimensão da enormidade, porque absortos em outros propósitos; mas já não é crível, nem aceitável que os nossos muitos crânios, interna e externamente, não estejam cientes. Seja qual for a situação, facto, facto é que está aqui desnudada a nossa incapacidade de nos autodiagnosticarmos! 

 

Mais triste ainda, é que preferimos entender o que quisemos do alerta do FMI; não propriamente o que ela aconselhou. Aquela instituição recomendou, vivamente, diga-se, o emagrecimento da massa salarial na Função Pública. Ante esse texto, entendemos nós que era para somente reduzir os salários dos bigs. Reduzir o salário dos bigs, se bem que racional, oportuna e pertinente, é um paliativo para os desafios que se nos colocam. Não é mau reduzir-se os exorbitantes salários e regalias dos bosses, mas isso representa pouco no colossal rol de esbanjamentos orçamentais no nosso solo pátrio!

 

A título de exemplo, podemos ver algumas “coisas” e práticas que inflacionam grandemente o nosso orçamento de estado. Uma primeira é a duplicação de estruturas, somos exímios em duplicar instituições. Governador e Secretário de Estado Provincial. Na prática, o que temos tido desde a implementação desta medida são dois governadores provinciais e mais os administradores dessas cidades, com todas as mordomias associadas. Isto é pura e simplesmente um esbanjamento de fundos, sem sentido e bastante desnecessário. Eu sou de abolir os secretários de estado!

 

O nosso segundo centro de esbanjamento de fundos é a proliferação de ministérios. Não é racional, nem temos recursos para tal, haver um ministério para cada área. Temos muitos ministérios que não se justifica que sejam independentes, alguns deles podem caber num só e serem eficientes. O grupo educação, ensino superior, ensino técnico, ciência e tecnologia,  pode e muito bem formar um único ministério. O grupo agricultura, terra, ambiente pode estar num ministério. O grupo mar, águas interiores, recursos hídricos (qual a diferença entre águas interiores e recursos hídricos?) pode também estar num só pelouro. Defesa e combatentes podem ser um ministério. Trabalho, emprego, acção e segurança social (qual a fronteira entre acção social e segurança social?) podem ser agrupados numa pasta. Precisamos de entender que não temos recursos para termos um ministério para cada área social importante e que o mais relevante não é propriamente ter ministério, mas ter uma política e estratégia adequadas para determinada área e muito boa governação.

 

Uma outra componente que erode grandemente o erário público são as múltiplas viagens presidenciais internas. Não há, literalmente, uma semana em que não há visita presidencial a uma província. Há mais viagens presidenciais do que ministeriais e muito menos até de governadores  e/ou secretários de estado a postos administrativos ou localidades. Não que o Presidente da República não deva visitar as províncias, mas nos nossos moldes dá a ideia de que é ele que superintende directamente as províncias ou as actividades sectoriais e ou distritos. É preciso que tenhamos ciente dos custos de uma viagem presidencial, são elevados, elevadíssimos; mexe com uma enorme quantidade de recursos (humanos, financeiros e materiais). Os mundos e fundos que é preciso movimentar… e, feitas com a frequência com que fazemos, não há saco azul que aguente. E ligados a estas deslocações, temos as cerimónias de inauguração. Não que o chefe do Estado não deva inaugurar realizações. Deve, sim. Mas tenhamos ciente os enormes custos que tais representam envolvendo-se a figura de chefe de Estado e que arruínam qualquer estrutura financeira; e muito boas vezes tratam-se de infraestruturas que bem podiam ser inauguradas por ministros, governadores ou secretários de estado...

 

Os valores que gastamos nestas práticas apontadas aqui e noutras mais, como a corrupção desenfreada que está de vento em popa, bem podiam constituir um pé de meia para muitas preocupações que nos afligem, como a falta de medicamentos nos hospitais, estradas e outras vias de acesso precaríssimas, falta de carteiras e de transporte público. Ao assobiarmos para o lado, ou tomarmos aspirina ante problemas de grande profundidade, ou estamos a revelar incapacidade cognitiva de nos autodiagnosticarmos, ou deliberadamente estamos a negligenciar o interesse colectivo da nossa nação!

 

MMabunda

sexta-feira, 02 junho 2023 09:11

Criança moçambicana não tem protecção!

Adelino Buqueeeee min

“No dia 01 de Junho de 2023, através da Rádio Moçambique, acompanhei a transmissão do Café da Manhã, em que as crianças tinham o papel de transmitir as Notícias do dia e fizeram-no com perfeição. Lamentável é a reacção ligada às instituições de criança e género que se comportaram como autênticos papagaios, repetindo as mesmas coisas e muitas vezes sem nexo. Falavam de sensibilizar a criança da rua, de chamar atenção sobre os seus direitos e que deve voltar ao convívio familiar para se beneficiar desses mesmos direitos”.

 

Sensibilizar a criança que é chefe de família a não fazer trabalhos para o auto-sustento? Criança que é órfã de pai e mãe a nada fazer porque é menor. Sensibilizar a criança separada dos progenitores devido à guerra para que saiba dos seus direitos, mas que direitos! Aos Jovens de ambos os sexos, tenham responsabilidade na vida sexual e reprodutiva, hoje, existem várias formas de satisfação sexual sem engravidar, por favor!”

 

 AB

 

“Esta efeméride assinalou-se pela primeira vez em 1950 por iniciativa das Nações Unidas, com o objectivo de chamar a atenção para os problemas que as crianças então enfrentavam. Neste dia, os Estados-membros reconheceram que todas as crianças, independentemente da raça, cor, religião, origem social, país de origem, têm direito a afecto, amor e compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação gratuita, protecção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de paz e fraternidade.

 

Oficialmente, o dia é assinalado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a 20 de Novembro, data em que no ano de 1959 foram aprovados pela Assembleia-Geral da ONU os Direitos da Criança. Na mesma data (20 de Novembro), mas no ano de 1989, foi adoptada pela Assembleia-Geral da ONU a Convenção dos Direitos da Criança, que Portugal ratificou em 21 de Setembro de 1990.[8]

 

in internet

Hoje, dia 01 de Junho de 2023, celebra-se o dia da criança. Trata-se do dia internacional da criança instituído pelas Nações Unidas em 1950, pese embora as mesmas Nações Unidas considerem de mais relevante o 20 de Novembro de 1959 por ser a data que a Assembleia Geral adoptou e aprovou os Direitos da Criança. O importante mesmo é termos as motivações que levaram esta instituição multilateral a aprovar a data que, certamente, muitas nações, como Moçambique, se tivéssemos o activismo activo, se instituiria uma data própria de Moçambique porque, infelizmente, as nossas crianças não podem dizer que gozam dos direitos consagrados na carta das nações.

 

Sim, a criança moçambicana não goza dos direitos da criança consagrados na Carta das Nações Unidas e as instituições criadas para o efeito estão repletas de gente que, na minha opinião, não tem noção sequer das suas reais obrigações. Repetem aquilo que está consagrado na carta das Nações Unidas para uma realidade totalmente diferente, uma realidade de crianças a sofrerem com a guerra, com casamentos prematuros, com abandono pelos pais, crianças órfãs de pai e mãe, crianças abandonadas pelos pais deixando-as com parentes e ou avós. É, pois, o cenário da criança moçambicana.

 

Se o cenário descrito abaixo é o real de Moçambique, o trabalho que dizem fazer as instituições ligadas às crianças serve para quê! Sim, mobilizar as crianças órfãs de pai e mãe para não trabalhar para ganhar sustento!? Sensibilizar as crianças abandonadas pelos progenitores a não fazerem nada para o auto-sustento e irão viver de quê!? Sensibilizar a criança chefe de família, com tenra idade, sobre os seus direitos, não acham que isso é pura utopia?! Haja criatividade, haja inovação e capacidade de adaptação à nossa realidade, em função dos reais problemas vividos pelas crianças moçambicanas e em Moçambique. Deixemos de ser repetidores, por favor.

 

Noutras ocasiões falei sobre a demagogia de difusão de direitos das crianças sem deveres, mas porque a criança Moçambicana, apesar de propalar-se direitos, mais de metade não tem sequer o básico para a sua sobrevivência, quanto mais falar dos direitos da criança, que é o mesmo que falar de alimentação condigna, protecção dos pais, brincar e estudar. são muitas as crianças que gostariam de brincar, de ir à escola, de ter uma alimentação adequada à sua idade entre outos, mas que não tem. Sejamos francos.

 

A questão é se as instituições estatais podem mudar este e outros cenários de precaridade? A resposta é que não, mas podem adaptar a sua linguagem de comunicação à real situação de Moçambique, para não se ser ridículo, não faz sentido falar de direitos que estão bastante distantes das pessoas, direitos que, à partida, sabemos que não são realizáveis. Repito e com todo o respeito, deixemos de ser repetidores dos direitos das crianças de outras galáxias, coloquemos os pés no chão!

 

Adelino Buque

terça-feira, 30 maio 2023 11:54

Nem tudo está perdido!

MoisesMabundaNova3333

Casimiro é um homem muito bem parecido, apesar dos seus quase sessenta anos, elegante, não muito alto, mas por aí um metro e setenta; não muito forte, barriga não excessivamente grande, mas aquela que agrada a elas. Um homem atraente, bonito, cabelo grisalho, assim como a barbicha no queixo, o que também as atrai mais. É um homem bem sucedido na sua carreira de engenheiro mecânico e na sua vida em geral. Não é propriamente empresário, tipo empresário de sucesso ao nosso jeito, mas vive muito bem, folgado. Leva uma vida acima da média, com umas tantas propriedades, todas já construídas, em diferentes bairros da capital e, à nossa moda, muitos terrenos vazios espalhados por aí. Em termos de frota automóvel, dispõe de um parque de viaturas acima do comum, até certo ponto invejável, troca de fobanas sempre que lhe apetecesse. Ele e a sua querida esposa. É um homem que curte verdadeiramente a vida, sem limitações. Não tem, como nosso apanágio, nosso e dos muçulmanos, muitas esposas: tem uma só. Mas… mas… mete-se com qualquer uma que anda na rua. Tudo o que luz ou respira (tsakuta), ataca. E não lhe escapa nada. A sua estratégia é não deixar bandeira, bate e foge. Não deixa muitas mágoas: não promete mundos e fundos, não; diz-lhes que não é para casar, ele já está casado e não tem intenção alguma de se separar da esposa. É só para curtir. Talvez por causa dessa franqueza, para além do charme e dos “subsídios” que facilmente disponibiliza, elas quase nunca lhe negam. Põe e dispõe daquela que lhe apetece, naquela sua estratégia de “bate e foge”! Mas, de certa forma, /eraé comedido, não se mete com damas casadas, ou com colegas. Varre pela rua fora. Aparentemente, nunca teve problemas de maior. Começa e termina sem escaramuças. De rebentos na diáspora, justiça lhe seja feita, nunca se lhe ouviu falar.

 

É/era assim a vida do Casimiro Matchai. Ele que gosta de um bom copo, não é preso a uma bebida específica, cerveja, vinho, gin, whisky… nāo. Numa ocasião, podia beber e bem cerveja, para, na ocasião seguinte, beber vinho e numa outra, outra coisa tipo whisky. Não misturava as bebidas, mas não gostava obstinadamente de uma determinada. Mensalmente, visitava a barraca do Mangwavilane, ali no Estrela, onde fazia compras das suas bebidas e levava para casa. Ocasionalmente, podia passar por semana para prover a sua garrafeira ou colman. A barraca do Mangwavilane, que mais se assemelha a um verdadeiro botle story do que propriamente a barraca, a única diferença era que as bebidas estão espalhadas no chão, não tem muitas prateleiras. Mas, em termos de diversidade, tinha quase todas as bebidas. Aos fins de semana e feriados, é normal haver filas consideráveis.

 

Durante mais de 20 anos, Matchai comprava os drinkings no Mangwavilane! Já era um cliente especial, privilegiado. Quando chegasse com enchente, o dono procurava maneira de despachar o sr. Casimiro. Até que um dia… sempre um dia! Foi ao Mangwavilane procurar um tipo de gin que lhe tinham recomendado… não havia! E o empregado recomendou que fosse à barraca/botle story ao lado, dez metros, que havia. E lá foi.

 

Havia o gin que procurava. Mas o que lhe chamou a atenção foi a “caixa”: era uma miúda fora de série. Lindíssima. A sua jovialidade perdia-se no seu corpo esbelto, violino, uma cara bonita, de mulher mesmo! Casimiro Matchai ficou completamente perdido. Quando a moça lhe pediu o dinheiro da bebida que pedira, a trapalhice foi tal que não sabia se da carteira tirava o dinheiro ou o cartão de crédito. Acabou pagando e ele não se lembra se pagou  via uma ou outra modalidade! Desde esse dia  em diante, deixou de ir comprar as suas bebidas no Mangwavilane, passou a frequentar a barraca ao lado. Esta, ao contrário da primeira, tinha mais organização, com um compartimento organizado de estantes para garrafas.

 

Dois por três, Casimiro estava ali mais a contemplar a Isaltina do que a comprar bebidas. E um dia, não havendo muita clientela, ousou pedir o número de telefone da linda miúda. Esta deu o número da casa, não o dela particular.  Registou-o com todo o carinho, suspirando de alívio. Esfregando as mãos para mais um… bate e foge!

 

Ao quarto dia, ligou para aquele número que tinha recebido das mãos dela. Para seu espanto, quem atende é a voz de um moço. Ficou completamente baralhado, aquela voz dócil desapareceu logo, mas ainda ganhou imaginação para dizer que “falhei o numero”! Dia seguinte, foi fingir que ia comprar alguma bebida e nisso conseguiu perguntar à moça se o número fornecido era pessoal dela, ao que ela respondeu que não. Pediu o dela e ela aplicou o truque conhecido, “não tenho telefone”. Naquele dia não respondeu nada, mas num outro dia, que calhou não haver clientela a não ser ele, voltou à carga e confessou o seu desejo de andar com ela. Porque chegaram clientes, interromperam a negociação. No momento de pagar, ainda atirou uma nota de duzentos meticais, mas ela devolveu-lho, dizendo que não era preciso. Ficou confuso, mas foi-se embora!

 

Porque tinha cada vez menos sono, para lá voltou mais um dia e a sorte acompanhou-lhe. Quase não havia um cliente, o último era aquele que estava a pagar e a ir-se embora! E sem perder mais tempo, disparou:

 

  • Mulher, não me queres mesmo? Vou-te comprar telefone…

 

  • O sr. tem idade de meu pai, assemelha-se ao meu pai. Não posso andar com pessoas da idade do meu pai. Nāo veja o meu corpo grande, sou crianca de 21 anos! Sempre que olho para o senhor, só vejo meu pai…

 

Casimiro Matchai não conseguiu palavra alguma para redarguir.

 

Nem tudo está perdido na nossa sociedade!

 

ME Mabunda

terça-feira, 30 maio 2023 07:42

Thchinha, minha querida sobrinha!

AlexandreChauqueNova

Estive em Maputo na semana passada por força das circunstâncias. Faleceu a minha sobrinha, a Thchinha, mulher de batalhas sem fim. Nela repousava a esperança e a fé de que a cacimba baixaria e a seu devido tempo o sol brilharia em todo o universo. As armas que a sustentavam era a poesia, da qual retirava e repetia sem se cansar esse verso, “a vida é um eterno recomeço”. É por isso que desprezava as quedas. Ria-se com gozo dos espetos que a perseguiam querendo derruba-la. Ela dizia: É verdade que não tenho nenhum feixe de flechas nas minhas mãos, mas trago um ramo de oliva no coração.

 

Thchinha tinha o impulso da partida, que até podia levá-la ao desconhecido, e ela jamais teve medo do oculto. Se tivesse o tal pavor não teria voado para outras terras, onde tinha a certeza de vencer e depois voltar para casa com o troféu da vitória a fim de nos cobrir a todos e fazer-nos acreditar que a vida é bela.

 

Voou confiando na arte que fazia em cumprimento de uma missão, e quem confia na arte não vacila. “David venceu com poesia espalhada em Salmos”, dizia em silêncio a Tchinha, e nós não percebiamos a dimensão das suas palavras. Alcançou a liberdade tendo como estandarte a arte, imitando David que decepou a cabeça de Golias.

 

Então telefonei aos meus amigos em Maputo, dando-lhes a conhecer a partida definitiva da minha querida sobrinha, na verdade uma grande mulher na flôr da idade vivendo entre a luta e a esperança. Muitos desses meus amigos foram, mais do que assistir às cerimónias fúnebres, recordar-nos o valor da amizade. E aquele silêncio todo que vai pairar à volta da Thchinha, será o testemunho da paz. Tchinha partiu em paz, superando toda a dor que lhe dilacerava o corpo em dias longos que em compensação, depois de todo o sofrimento, metamorfosearam-se em luz.

 

Choramos por dentro esta largada como a de um barco que recolhe as amarras para nunca mais voltar, mas não são lágrimas da morte, Thchinha não vai morrer. Em terra firme foi abalroada pelas ondas que se esbatiam no casco, e agora, com as velas enfunadas, está aí, acenando-nos no último adeus.

 

Thchinha, minha querida sobrinha, não nos resta mais nada neste momento de flores que nunca te oferecemos, senão agradecer todo o amor que nos deste. Ficaremos com as tuas lembranças para sempre.

 

Obrigado, amor. Deus te acolha!

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