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Redacção

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O escritor moçambicano Mia Couto defendeu na quinta-feira, em declarações à Lusa, que a dívida dos países africanos pode ser uma das vertentes num eventual processo de reparação do período colonial, mas não como forma de “culpabilização”.

 

“O que a gente quer da história é exatamente que não se apague aquilo que é a verdade histórica, mas que ela não seja o fundamento para qualquer sentimento de culpabilização. Não tem que haver culpa das gerações de hoje sobre coisas que foram feitas num contexto histórico completamente diferente”, afirmou Mia Couto.

 

Para o escritor, as “reparações têm sentido”, se forem “discutidas não na base de um sentimento qualquer de culpa histórica” e “sim na base daquilo que os países africanos” – porque “o Brasil pode ter a sua própria postura” – “consideram ser digno e legítimo construir como uma ponte feita no presente”.

 

“Acho que a questão, por exemplo, na dívida, da atual dívida, pode ser um assunto atual, mas não no sentido de recuar na história para culpabilizar ou para vitimizar algum dos lados”, insistiu.

 

Na semana passada, antecedendo as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu a responsabilidade de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.

 

"Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto", afirmou Marcelo num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal, citado pela agência Reuters.

 

“Não gosto do termo reparação, gosto mais do termo no sentido de construção de qualquer coisa que tenha em consideração que houve uma história. Sim, uma história que lesou, mas fazer de uma maneira conjunta também”, apontou, por seu turno, Mia Couto.

 

O escritor disse defender a criação de um Museu da Escravatura, que teria “mais sentido” ficar no Brasil ou em Portugal, mas como “exemplo de alguma coisa que fosse construída com todos, com a participação de todos”.

 

“A conceção de um museu e depois a execução do museu seria pensada em conjunto, porque a história não é tão simples assim, tão feita a preto e branco. Também do lado africano houve cumplicidades, houve mãos internas que participaram”, explicou, garantindo que os historiadores de Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe “têm coisas para dizer sobre isso”.

 

Em Portugal, o Chega pediu o agendamento de um debate de urgência no parlamento para que o Governo esclareça se está a ser equacionada a atribuição de eventuais “indemnizações às antigas colónias”.

 

O partido político liderado por André Ventura acusou o chefe de Estado de trair os portugueses e pediu a Marcelo Rebelo de Sousa que se retrate por estas declarações.

 

“Provavelmente, as declarações do Presidente Marcelo foram empoladas. Porque hoje tudo se aproveita do ponto de vista de polarizar o debate e depois o debate já não é debate, porque é um conjunto de acusações e defesas. Mas eu acho que ele próprio teve a oportunidade de explicar o que é que se pretendia dizer com isso e, por exemplo, trabalhar no perdão da dívida atual, sim, é uma coisa atual”, defendeu Mia Couto.

 

Para o escritor moçambicano, a própria celebração da revolução do 25 de Abril em 1974 “não pode ser feita com apagamentos”.

 

“O 25 de Abril não foi só o resultado de um grupo de capitães que se rebelaram em Lisboa, mas foi o resultado das lutas que os países africanos fizeram, foi o resultado de uma coisa que também tem tendência a ser esquecida: foi a resistência antifascista dentro de Portugal, que começou anos e anos antes, e que levou a milhares de pessoas que foram também vitimizadas”, concluiu.(Lusa)

Em primeiro lugar é preciso dar a mão a palmatória: A Frelimo continua o maior e mais importante partido político em Moçambique. Apesar da bipolaridade aparente nas escolhas ideológico partidárias, os moçambicanos mantêm alguma ligação umbilical com o Glorioso. 
 
A eleição do candidato a Presidente da Frelimo e, consequentemente, candidato a Presidente da República, é um bom cronômetro dessa premissa. Desde a indicação pela Comissão Política dos quadros do partido, nomeadamente: Roque Silva Samuel, Damião José e Daniel Chapo para a pré-candidatura, não cessam as vozes da especulação, discórdia, desinformação e manipulação. 
 
Esse braço de ferro vem de duas vias, a interna e externa. De dentro, persistem as contestações daqueles anciões e seus continuadores, que acreditam que Moçambique foi melhor lugar nos tempos da Mariazinha ou do Tchembene. 
 
Estes são capazes de tudo. Até de questionar os Estatutos da Frelimo que elaboraram e aprovaram. A escolha de Roque Silva, Damião José e Daniel Chapo pela Comissão Política, honra as regras de jogo que eles próprios criaram. 
 
Mas por outro lado, não há um legado de Chissano e Guebuza sobre o modelo de sucessão interna que serviria de Bíblia para as actuais e futuras gerações de camaradas, para além da lealdade aos Estatutos. Ode aos Estatutos e a quem criou estes Regimentos. Ode aos anciões. 
 
A Comissão Política mantém a chama acesa dessa herança inabalável. Já não há elefante branco na sala. De fora, pseudointelectuais, intrusos comentaristas televisivos e intelectuais do Facebook, reduzem a qualidade do debate se atrelando ao ataque pessoal aos pré-candidatos. 
 
Ninguém, até esta parte, procurou compreender o pensamento sobre o país, governação, a obra, o percurso profissional/político dos pré-candidatos. Reina uma cultura da selva para quem entra no debate; sangue e mais sangue. A Frelimo é uma entidade privada, que goza de liberdades para moldar o seu funcionamento. Tudo o resto vai ser decidido nas urnas, no dia 9 de outubro de 2024. Deixemos os moçambicanos fazerem o julgamento final. Roque Silva, Damião José e Daniel Chapo são a escolha da Frelimo.
 
*Leitor devidamente identificado
 

A novela da sucessão de Filipe Nyusi retoma hoje e é provável que fique encalhada numa discussão: abrir ou não a “lista curta” da Comissão Política a outros nomes. 

 

A “lista curta”, apresentada ontem ao Comité Central é composta por Roque Silva (o actual SG), Damião José (antigo porta-voz e actualmente membro da Comissão Política) e Daniel Chapo (Governador de Inhambane. 

 

Nos bastidores, há indicações contraditórias: uma aponta que a lista não vai ser aberta; outra alimenta a esperança de vai ser aberta. Aliás, homens afectos a Basílio Monteiro estiveram ontem no terreno mobilizando membros do CC para o seu campo.

 

Se a lista for aberta, a disputa vai ser feita entre Roque Silva e Basílio Monteiro. Se não for aberta, Roque Silva vai ser eleito sem oposição.

 

Se isso acontecer, se a lista não for aberta (não apenas para acomodar as pretensões de Basílio Monteiro mas as de outros eventuais também), a Frelimo entra num novo dilema. Porquê?

Porque a “lista curta” demasiado pequena para chegar à Ponta Vermelha percorrendo sem obstáculos o caminho no habitual tapete…vermelho. 

Há quem pense que a Frelimo, ao nomear hoje o sucessor de Nyusi, estará também escolhendo o próximo Presidente da República.

 

Até pode ser! Mas não com a “lista curta”. Parece-me claro que Damião José e Daniel Chapo foram cooptados à última hora, depois do dissenso instalado entre as putativas comadres.Foram cooptados para preencher os lugares como “fauna acompanhante” de Roque Silva.

 

Damião é um quadro cinzento sem expressão política, que se mostrou inútil como porta-voz.  E pesa sobre ele hoje um processo crime por difamação.

 

O Governador Chapo é um homem cordato, ponderado e bem colocado como ministeriável.

 

Mas cada um destes teria imensas dificuldades  concorrendo contra um Venâncio Mondlane ou mesmo Samito Machel como independente. Ou seja, com eles, a vitória não é garantida. Isto se a oposição convergir num candidato único.

 

Mesmo o Roque Silva. Ele não é um homem consensual, não tem aura de estadista e criou e alimenta um bom leque que inimigos internos que tudo fariam para sabotar sua jornada. 

 

Roque Silva só tem aceitação dentro de uma circunscrita fornada de militantes em virtude do cargo que ocupa e não de um seu apelo carismático. 

 

Seu único trunfo (poder e autoridade sobre os secretários provinciais) serve para vencer as “internas” apenas. Ele não tem capital político nem popularidade para garantir uma eleição presidencial, a não ser por via fraudulenta, como a Frelimo faz.

 

Entre o eleitorado urbano, ele mete medo; parece mais nyussista que Nyusi, com requintes manifestos de autocrata e aversão aberta à liberdade de expressão e ao livre arbítrio. Deste modo, ele não garante nada. Se a oposição tiver um candidato à altura. 

 

A “lista curta” é demasiado curta e por isso era esperado que os militantes da Frelimo escolhessem um verdadeiro homem de Estado ou com potencial para arregimentar consensos à escala nacional. 

 

Havia nomes citados com esse potencial: Aires Aly, Luisa Diogo, Amélia Muendane, Samora Machel. 

 

Mas consta que a “lista curta” vai ser a única lista a ir a votos hoje, apesar de ontem à noite emissários de Basílio Monteiro terem trabalhado avidamente no quadro da mercantilização eleitoral vigente na Frelimo.

 

Então, a principal discussão do conclave hoje será à volta da abertura ou não da “lista curta”. 

 

Enquanto isso, o mercado de votos foi aberto ontem, como dissemos. Os preços variam entre os 200 e os 300 mil Meticais. (Marcelo Mosse)

 

 
 

 

Continua intenso o exercício de escolha do candidato presidencial da Frelimo às eleições presidenciais de 09 de Outubro próximo. 
 
Hoje, os 254 membros do Comité Central da Frelimo, reunidos na Escola Central do partido, na autarquia da Matola, província de Maputo, falharam a eleição do provável sucessor de Filipe Nyusi, no Palácio da Ponta Vermelha. Roque Silva, Damião José e Daniel Chapo são os nomes propostos pela Comissão Política ao Comité Central, após cinco horas de discussão entre os 18 membros efectivos do órgão.
 
Os nomes do Secretário-Geral da Frelimo, do antigo Porta-voz do partido e do Governador de Inhambane, respectivamente, foram submetidos ao crivo do Comité Central, depois de ter falhado o desejo de Filipe Nyusi propor os nomes de Celso Correia, Amélia Muendane e Carlos Mesquita, como possíveis sucessores. 
 
Após cinco horas de debate (a Sessão começou às 15h e terminou perto das 20h), a I Sessão Extraordinária do órgão mais importante da Frelimo no intervalo entre os congressos acabou sendo interrompida, devendo retomar este sábado, às 10:00h. 
 
Aos jornalistas, Teodoro Waty defendeu que a interrupção visa abrir espaço para que os membros do Comité Central possam estudar melhor as propostas avançadas. No entanto, "Carta" apurou que os nomes propostos pela Comissão Política foram "chumbados" pelo Comité Central, tendo sido proposto a inclusão dos nomes de Aires Ali e Basílio Monteiro entre os candidatos. 
 
Aliás, ao que apuramos, os nomes de Damião José e Daniel Chapo foram rejeitados, tendo permanecido o nome de Roque Silva. Soubemos ainda que os nomes de José Pacheco, António Hama Thai, Gabriel Júnior e Samora Machel Júnior não foram debatidos no encontro. 
 
Manuel Formiga, membro do Comité Central e antigo Presidente do Conselho Nacional da Juventude, disse que aos jornalistas que o partido Frelimo não abriu candidaturas, mas sim deixou ao cargo da Comissão Política, a responsabilidade de propor os pré-candidatos. 
 
Com o falhanço, hoje, da eleição do candidato presidencial da Frelimo, continua indefinido o futuro político do país. Refira-se, aliás, que esta foi a segunda interrupção dos debates sobre a sucessão na Frelimo em 24 horas. A primeira interrupção ocorreu na quinta-feira, nos trabalhos da Comissão Política.
 
Sublinhar que os trabalhos da I Sessão Extraordinária do Comité Central decorrem longe dos olhares da imprensa. O Secretário-Geral da Frelimo deixou ordens expressas para que nenhum jornalista atravessasse o portão que dá acesso ao recinto da Escola Central da Frelimo. Pela primeira vez, na história do partido no poder, os jormalistas tiveram de montar as suas Redacções no Parque de Estacionamento. (A.M.)

O Presidente da República apontou o objetivo de concluir, até Dezembro, a electrificação de todas as sedes de postos administrativos do país e assegurar que 10 milhões de moçambicanos tenham acesso à electricidade pela primeira vez.

 

Filipe Nyusi afirmou que, ao abrigo do programa "Energia para Todos", a "meta" passa por "permitir que todas as sedes de postos administrativos estejam electrificadas" até "fim de 2024", depois da electrificação "no século passado de todas as sedes distritais" do país.

 

"É nossa meta que a taxa de cobertura [da população do país] alcance 64%, assegurando que 10 milhões de moçambicanos tenham energia eléctrica pela primeira vez", apontou o Chefe de Estado, na abertura, ontem em Maputo, da 10ª edição da Conferência e Exposição de Mineração e Energia de Moçambique.

 

Na mesma intervenção, Nyusi recordou que Moçambique registou um crescimento económico de 5,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, tendo "a expectativa de alcançar uma variação positiva de 5,5%" este ano.

 

"Importa fazer referência que esta tendência é impulsionada pelo crescimento do sector extractivo, estimado em 15,5%, depois de ter registado uma subida de 14,6% no primeiro trimestre do ano corrente em termos homólogos", apontou.

 

"O contributo do sector extractivo na balança comercial é significativo. Em termos acumulados, no período de 2020 a 2024, o valor cifra-se em mais de 12,3 mil milhões dólares, no conjunto de produtos como o carvão mineral, gás natural, redes pesadas, rubis, safiras e esmeraldas", enfatizou, acrescentando que o valor acumulado no mesmo período na exportação de energia eléctrica ascende a 2,2 mil milhões de dólares.

 

"A ilação mais óbvia é que o sector da indústria extractiva, energia e gás tem proporcionado uma base sólida para a dinamização da economia, com o contributo significativo no PIB, sendo um elemento de estímulo ao crescimento social e económico que almejamos", reconheceu.

 

De acordo com a Rádio Moçambique, emissora pública, a 10ª edição da Conferência e Exposição de Mineração e Energia de Moçambique conta com a presença de mais de 500 líderes e profissionais do sector, público e privado, de cerca de 20 países, incluindo representantes do Fórum dos Países Exportadores de Gás (GECF) e da Organização dos Países Produtores Africanos de Petróleo (APPO).

 

Durante a conferência está prevista a assinatura de vários acordos empresariais, comerciais e de parceria, incluindo para reforço do fornecimento de electricidade ao Malawi pela estatal Electricidade de Moçambique.

 

Um estudo da consultora Deloitte, noticiado em Fevereiro pela Lusa, concluiu que as reservas de gás natural de Moçambique representam receitas potenciais de 100 mil milhões de dólares, destacando a importância internacional do país na transição energética.

 

"As vastas reservas de gás do país poderão fazer de Moçambique um dos dez maiores produtores mundiais, responsável por 20% da produção de África até 2040", refere o relatório de 2024 da consultora internacional sobre as perspectivas energéticas de África, dedicado a Moçambique.

 

Moçambique poderá "contribuir significativamente para as necessidades energéticas mundiais, tanto durante o período de transição energética como estabelecendo capacidades fortes em toda a cadeia de valor das energias renováveis".

 

"A transição para as energias renováveis apresenta uma oportunidade para responder às necessidades energéticas do país, ao mesmo tempo que ultrapassa a adopção de tecnologia e desenvolve cadeias de valor locais e as novas competências para satisfazer estas necessidades da indústria", lê-se.

 

O relatório aponta que se espera que o gás natural "traga cerca de 100 mil milhões de dólares de receitas para Moçambique ao longo do seu ciclo de vida" e que o país tem ainda "uma vantagem competitiva significativa em energias renováveis com activos hidroeléctricos, como a barragem de Cahora Bassa (2.000 MW) e o "potencial futuro" da barragem de Mphanda Nkuwa (1.500 MW), "permitindo a descarbonização da indústria regional". (Carta)

O Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) anunciou a ocorrência da depressão tropical que se desloca para a costa da Tanzânia e que evoluiu para tempestade tropical moderada denominada “Hidaya”.

 

Em relação ao fenómeno, o Centro Nacional Operativo de Emergência (CENOE) prevê que os efeitos da tempestade se façam sentir a partir de hoje, na província de Cabo Delgado, nos distritos de Macomia, Mocímboa da Praia, Palma, Nangade, Muidumbe, Ilha de Ibo, Mecufi, Metuge, Quissanga, Meluco, Mueda, Ancuabe, Chiúre e na cidade de Pemba.

 

Na província de Nampula a tempestade vai atingir o distrito de Memba, com chuvas acima de 50 mm/24 horas acompanhadas de ventos e trovoadas fortes. Face a este fenómeno, as autoridades recomendam a verificação de locais de abrigo seguros, a procura de abrigos junto das autoridades, o reforço da segurança dos tectos, paredes e janelas com material resistente.

 

Recomenda-se ainda a limpeza das valas de drenagem, a suspensão da pesca e a retirada das pequenas embarcações da água para locais mais seguros, a conservação de alimentos, do material escolar, dos documentos e manter-se sempre atento às informações das autoridades competentes. (M.A)

Os operadores de transporte semi-colectivo de passageiros, vulgo “chapa-cem”, que exercem actividades na rota Matola/cidade de Maputo e vice-versa, paralisaram temporariamente a circulação das suas viaturas na manhã desta quinta-feira até ao princípio da tarde, na Matola.

 

“Carta” soube que os “chapeiros” concentraram-se na zona da Casa Branca, alegando má actuação da Polícia Camarária e a degradação das vias de acesso que se encontram totalmente esburacadas.

 

Logo nas primeiras horas, todos os “chapeiros” que tentavam ajudar os cidadãos a chegar aos seus locais de trabalho, eram obrigados a descarregar e parquear a viatura onde os outros se encontravam concentrados. Os transportadores dizem-se agastados com a má actuação da Polícia, principalmente aquela que se tem feito à zona da Casa Branca.

 

“Ao sair da cidade, por exemplo, para chegar na Machava ou Liberdade, deparamo-nos com mais de cinco pontos de brigada da polícia. E quando tentamos explicar que já fomos fiscalizados pelos outros colegas, estes não querem saber e dizem que aqui é outro sector’’.

 

O grupo reclama ainda pelas vias de acesso que se encontram esburacadas dificultando o trabalho, porque muitas vezes os carros acabam furando pneus, gerando prejuízos para os operadores.

 

“Da Casa Branca aos nossos terminais chegamos a levar cerca de uma hora por causa dos buracos, num percurso que podíamos levar entre 15 a 25 minutos. Assim, não conseguimos fechar as nossas receitas e, consequentemente, fica a desconfiança com os nossos patrões”.

 

Durante a paralisação, os “chapeiros” acabaram se envolvendo em tumultos e foram detidos pela Polícia. Por seu turno, o Município da Matola promete minimizar a degradação das vias, visto que neste momento não é possível ter uma solução definitiva. (M.A)

Quando ainda falta registar-se eleitores do distrito de Quissanga, província de Cabo Delgado, e eleitores residentes na região insular de Zanzibar, na vizinha República Unida da Tanzânia, o STAE (Secretariado Técnico da Administração Eleitoral) diz já ter registado mais de 100% dos eleitores previstos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), tanto no território nacional, assim como no estrangeiro.

 

Dados divulgados ontem pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) referem que, de 15 de Março a 28 de Abril último, o STAE registou um total de 7.666.666 eleitores em todo o território nacional, o que corresponde a 102,30% da previsão estimada pelo INE. À entrada do recenseamento, os órgãos eleitorais previam inscrever 7.494.011 potenciais eleitores.

 

De acordo com os dados a que “Carta” teve acesso, contribuíram para este sucesso as províncias de Gaza, Maputo, Manica, Nampula e Cabo Delgado, que tiveram um desempenho de 249,33% (quase o triplo do previsto), 118,93%, 106,02%, 105,23% e de 100,71%, respectivamente.

 

“Importa realçar que este número de inscritos não reflecte a globalidade de eleitores registados até então, visto que há dificuldade de comunicação com algumas brigadas, o que suscita atrasos no envio de dados estatísticos”, defende a CNE, sem explicar as razões de ter conseguido superar as previsões de registo da província de Cabo Delgado, que se encontra mergulhada no terrorismo.

 

Adicionando os dados de recenseamento de 2024 aos de 2023, o STAE diz ter recenseado um total de 16.390.471 eleitores, o equivalente a 101.06% da previsão estimada pelo INE, que era de 16.217.816 eleitores. Mais uma vez, as províncias de Gaza, Maputo, Manica, Nampula e Cabo Delgado foram determinantes para o alcance desta façanha.

 

A província de Gaza, que em 2019 teve os dados contestados pelo INE e que levaram à queda do seu Presidente, recenseou este ano 1.188.102 eleitores, contra 798.813 eleitores previstos pela autoridade estatística do país.

 

Já a martirizada província de Cabo Delgado, que viu um dos seus distritos não realizar o registo de eleitores devido aos ataques terroristas, conseguiu recensear 1.354.713, superando em mais de 100%, as previsões feitas pelo INE. Com o recenseamento em curso no distrito de Quissanga, é quase líquido que Cabo Delgado deverá ser a segunda província a superar em larga escala as metas, devendo ficar atrás da província de Gaza.

 

STAE superou as metas também no estrangeiro

 

Os dados do STAE revelam que não só foi no território nacional onde foram superadas as metas, mas também no estrangeiro. O porta-voz da CNE disse ontem que os órgãos eleitorais registaram, na diáspora, um total de 328.935 eleitores, o correspondente a 117,61% da previsão, que era de recensear 279.685 potenciais eleitores. A CNE sublinha que a previsão dos potenciais eleitores registados no estrangeiro foi determinada com base nos dados dos eleitores registados em 2019.

 

Dos nove países abrangidos pelo processo, apenas E-swatini e Alemanha é que não superaram as metas desenhadas, tendo registado eleitores equivalentes a 92,61% e 77,97% dos previstos, respectivamente.

 

Pelo contrário, África do Sul, Tanzânia, Quénia, Zimbabwe, Malawi, Zâmbia e Portugal superaram as metas em mais de 100%. No caso de Malawi, por exemplo, o registo de eleitores quase que dobrou. O país registou um total de 36.543 eleitores, contra os 18.945 que estavam previstos, o que corresponde a uma meta de 192,89%.

 

Na avaliação ao processo, a CNE defende que o recenseamento eleitoral decorreu a um ritmo satisfatório em todo o território nacional e que “a infra-estrutura tecnológica de Recenseamento Eleitoral registou um bom desempenho”.

 

Refira-se que esta não é a primeira vez em que a CNE supera as metas de recenseamento eleitoral em Cabo Delgado e Gaza, dois principais bastiões do partido Frelimo. Em 2019, o STAE recenseou eleitores que, na análise da então gestão do INE, só seriam possíveis em 2040. Isto é, os dados da província de Gaza estavam a frente do seu tempo. Cinco anos depois, tudo indica que Gaza continua adiantada que o resto do país. (Abílio Maolela)

É oficial! Joaquim Chissano e Armando Guebuza, Presidentes Honorários da Frelimo e ex-Chefes de Estado, estarão presentes na I Sessão Extraordinária do Comité Central, que decorre hoje na Escola Central do partido no poder, na autarquia da Matola, província de Maputo.

 

A informação foi confirmada na noite de ontem por Francisco Mucanheia, à saída da reunião da Comissão Política, momentos depois de “Carta” e outros órgãos de informação terem avançado a possibilidade de exclusão daquelas figuras em virtude de não serem membros do Comité Central.

 

“Os nossos Presidentes Honorários são praticamente nossos pais, donos da Frelimo, não há como não estarem presentes, embora a sessão seja destinada aos membros do Comité Central”, afirmou Mucanheia, descrevendo a informação como “não correcta”.

 

À luz dos Estatutos da Frelimo, os Presidentes Honorários não são membros do Comité Central, sendo que a sua participação na reunião é mediante convite, tal como acontece com os membros do Governo, Secretários de Estado, Governadores, entre outros membros influentes do partido.

 

No entanto, fontes da “Carta” garantiram que, até às 17h00 desta quinta-feira, os dois ex-Chefes de Estado ainda não haviam recebido quaisquer convites para participar da reunião, que terá a responsabilidade de eleger o candidato presidencial da Frelimo. O nosso jornal sabe que a participação das duas figuras históricas do partido foi decidida na reunião de ontem da Comissão Política.

 

Refira-se que a exclusão dos dois antigos Presidentes da República e do partido Frelimo podia ser um duro golpe à capacidade destes influenciarem a escolha final dos pré-candidatos da Frelimo à Presidência da República. Na reunião de Abril, Guebuza era um dos que defendia a eleição do candidato presidencial naquele encontro, entendendo que discutir o perfil do candidato era fugir da realidade. (Carta)

As frequentes falhas no sistema bancário de pagamentos electrónicos estão a causar uma troca de acusações entre o Banco de Moçambique e o sector privado representado pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).

 

Depois de, no fim de Março passado, o Banco Central atirar culpa do problema aos bancos comerciais, esta quinta-feira (02), a CTA queixou-se de prejuízos avultados para o sector privado resultantes de frequentes falhas no sistema de pagamento implementado pela Rede Única de Pagamentos Electrónicos da Sociedade Interbancária de Moçambique (SIMO-rede), tendo, por sua vez, atirado culpa ao Banco de Moçambique.

 

“A CTA tem acompanhado com preocupação a implementação do novo sistema da SIMO-rede a nível do sistema financeiro moçambicano que, desde a sua introdução, tem causado constrangimentos nos pagamentos e transacções que se reflectem nos problemas no funcionamento dos ATMs e POS em Moçambique e o pagamento de facturas no exterior”, disse o Presidente do Pelouro dos Serviços Financeiros na CTA, Paulo Oliveira.

 

A Confederação das Associações Económicas de Moçambique vai ao extremo de defender a suspensão imediata da Rede Única Nacional de Pagamentos Electrónicos, como solução para as recorrentes falhas no levantamento de valores e outras transacções financeiras.

 

Falando em conferência de imprensa, Oliveira disse que a CTA é do entendimento que, quando uma mudança desta magnitude é introduzida, é fundamental que a mesma seja feita de forma cuidadosa com testes abrangentes para garantir que todos os sistemas estejam funcionando correctamente antes da implementação em larga escala.

 

Disse ainda que o novo sistema de pagamentos, Rede-SIMO, está a colocar em causa a credibilidade das instituições bancárias e a inclusão financeira no país e pediu para que se esclareça o público sobre como funciona o processo de retorno e reversão dos valores debitados.

 

Por conseguinte, o empresário reiterou que a instabilidade no sistema de pagamentos e transacções está a ter impactos negativos significativos na economia e na confiança dos usuários do sistema financeiro nacional, bem como no ambiente de negócios.

 

“É constrangedor para o agente económico ou cidadão ter recursos financeiros e não poder usufruir nem no momento, nem depois e nem no dia seguinte, associado a situações de retenção dos valores monetários. De modo particular, as empresas do tecido comercial que lidam com o público, portanto usando POS, são as que mais sofrem, tendo a sua facturação diária comprometida”, disse o Presidente do Pelouro dos Serviços Financeiros na CTA.

 

Igualmente, por conta desta situação, a CTA explica que realizar pagamentos nestes dias acarreta custos de transacção bastante elevados, associados aos custos e tempo para a ida às agências bancárias, tempo de espera e outros custos não quantificáveis como a quebra de confiança entre os clientes e os provedores de serviços, remuneração extra, afectando a credibilidade do sistema financeiro nacional além dos aspectos associados à segurança, o que mina os esforços de inclusão financeira.

 

Entretanto, perante todos esses problemas e face à gravidade desta situação, a CTA estranha o silêncio do Banco de Moçambique e outras entidades relevantes do sistema financeiro nacional.

 

“A CTA entende ser crucial que o Banco de Moçambique e a própria SIMO abordem esses problemas com urgência, identificando as causas dos problemas e implementando soluções eficazes o mais rápido possível. Além disso, uma comunicação transparente com o público sobre os desafios enfrentados no meio de muita especulação e as medidas que estão a ser tomadas para resolvê-los, é essencial para manter a confiança no sistema financeiro”, defendeu Oliveira.

 

Como forma de mitigar danos maiores, a CTA diz que seria recomendável a gestão temporária do sistema nos moldes anteriores enquanto se prepara o processo de transição para unificação da rede de forma eficaz e eficiente.

 

Entretanto, para o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, a culpa é dos bancos comerciais que demoraram migrar para o novo sistema da Euronet. “As instituições não se ajustaram a tempo e só recentemente é que estão a abraçar este desafio das novas tecnologias para se adaptar ao novo sistema, aí está o problema”, afirmou Zandamela.

 

O Banco de Moçambique lançou oficialmente, em meados de Dezembro passado, a nova plataforma da solução de pagamentos electrónicos, fornecida pela norte-americana Euronet, na SIMO. Entretanto, o funcionamento da nova plataforma tem sido marcado nos últimos meses por constantes falhas em ATMs e POS. Esses terminais têm andado sem sistema.

 

Há casos em que, mesmo com sistema, depois da transacção, o utente não consegue levantar o dinheiro, mas é debitado. Em transacções via POS, a não digitação do PIN por causa da nova tecnologia Contactless nos novos cartões tem também criado insegurança nos utentes que não recebem as devidas explicações do funcionamento dos novos cartões por parte dos bancos. (Evaristo Chilingue)

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